O escritor indiano Aravind Adiga
ganhou o prestigiado “Man Booker Price” em 2008 logo com o primeiro livro, o
hábil “Tigre Branco”. Após isso lançou a coletânea de contos “Entre
Assassinatos” e depois “O Último Homem
na Torre” (“The Last Man In Tower”,
no original) de 2011, sua publicação mais recente. A editora Nova Fronteira apareceu
com edição nacional dele em 2014, com 400 páginas e tradução de Vera Ribeiro.
Nessa obra vemos um autor em evolução, ainda que repita algumas prerrogativas
contidas na estreia, mas que funcionam mais como alicerces próprios do que
necessariamente uma repetição. O livro se passa em Mumbai na Índia, em uma
pequena sociedade habitacional de poucos andares onde todos os moradores são
donos. Mesmo que o lugar não seja o melhor da cidade – longe disso, até – todos
que ali residem gostam dos outros e tentam viver em harmonia, mesmo com as
normais intrigas entre vizinhos e pessoas que se conhecem a muito tempo. Esse
cenário de relativa paz é alterado quando entra em cena o empresário do ramo de
construção imobiliária Dharmen Shah, que oferece uma quantia tentadora para que
todos vendam seus apartamentos para que ele possa derrubar o prédio e levantar
um novo. O empresário, personagem complexo, tem seus próprios motivos que vão
desde a ganância simples até a competitividade demasiada com um concorrente, a
fim de suprir, talvez, alguns problemas de ordem pessoal. Com o dinheiro em
jogo os moradores logo mudam os ânimos e vão se transformando com mais afinco ainda
depois que um professor de apelido Masterji resolve se opor a venda,
inviabilizando o novo sonho dos demais. Essa oposição meio por teimosia, meio
por poder próprio, transforma seus amigos mais íntimos em outras pessoas, com
um lado negro saltando a frente junto com a cobiça. Mesmo sendo no cerne um
conto sobre moralidade, “O Último Homem
na Torre” é o reflexo de um país que vem crescendo e se diversificando, com
o progresso sendo um artifício constante de mutação. A história é triste e
feroz, mas ao mesmo tempo o autor insere humor na tragédia, o tipo de humor
existente em situações de absurdo ou em descuidos do cotidiano, o que serve
para dar mais força ainda a outro bom livro, que tem como façanha unir esses
dois lados enquanto explora vários personagens ao mesmo tempo.
Nota: 7,0
Site do autor: http://www.aravindadiga.com
Anthony Marra é professor e viveu
um tempo no leste europeu. Em 2013 lançou o primeiro romance de ficção usando
para tanto um dos períodos mais sanguinários da história mundial recente: a
primeira e a segunda guerra chechena. Compreendido entre os anos de 1994 e 2004,
indo e voltando no tempo de acordo com as necessidades da narrativa, “Uma Constelação de Fenômenos Vitais” (A Constellation Of Vital Phenomena, no
original), ganhou lançamento nacional pela editora Intrínseca em 2014 com 336
páginas e tradução de Fabiana de Carvalho. A obra passou um pouco batida aqui
no Brasil, mas é de uma delicadeza e força avassaladoras. As guerras chechenas com
a Rússia que foram após o período trabalhado no livro e até hoje, mesmo após o
suposto fim, ainda produzem corpos é o pano de fundo para que se
desenvolva uma história de salvação, dor, traição e alguma bondade. Quando a
pequena Havaa de 8 anos vê o pai sendo levado da sua pequena vila por soldados
russos devido a uma denúncia de um vizinho, o mundo da menina desaba, porém ela
já estava preparada para isso. Outro vizinho chegado, um médico sem muito talento
de nome Akhmed surge como salvador e a leva para um hospital abandonado na
cidade onde antes trabalhavam mais de 500 pessoas, mas que agora comporta
somente uma médica, uma enfermeira e um porteiro. Sonja, a médica, é uma mulher
endurecida pela vida e junto com Akhmed serve como personagem principal nos
pequenos dias em que se desenvolve a trama. “Uma Constelação de Fenômenos Vitais” explora a guerra nas suas facetas cruéis
e perturbadoras, colocando no meio do jogo também as necessidades que surgem
dela, com todas as desgraças e os aproveitadores que se criam no meio. Mas
também, deixa ali escondido no final, quase morto, um pequeno tom de esperança,
uma fé cada vez mais difícil de aceitar. De escrita franca e objetiva, Anthony
Marra flerta a dor com uma condução mais leve vez ou outra, devido ao fato de
que seus personagens já aceitam a inevitabilidade da situação que se encontram.
Quando o leitor imagina saber de todos os fatos, opta em adicionar mais
ingredientes e provar que no romance apenas a pequena Havaa é 100% boa de
coração e inocente. Até mesmo os supostos heróis têm pecados e culpas imensas
dentro do armário, o que faz com que a obra ganhe em valor e seja mais forte
ainda.
Nota: 8,5
Site do autor: http://anthonymarra.net
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