A separação de um casal nunca é
tarefa fácil. Tanto para os dois lados envolvidos, quanto para os filhos,
aliás, principalmente para os filhos. Mary Iris Malone, a personagem principal
de “Mosquitolândia” (Mosquitoland, originalmente) está
passando justamente por isso. Além dos pais se separarem ela ainda teve que
mudar de casa, do estado do Ohio para o Mississippi. Não é fácil não. É em cima
desse ponto que o norte-americano, nascido no Kentucky, David Arnold, lançou o
primeiro livro lá fora ano passado. A editora Intrínseca publicou aqui também em
2015 a obra com 352 páginas e tradução de Alyne Azuma. Na trama a jovem de 16
anos depois de saber de algumas notícias que lhe tiram do eixo (e que classifica
como “bombásticas”) resolve deixar o pai e a madrasta para trás e migra em
direção a mãe de ônibus. Durante os 1.524 quilômetros que a separam desse
objetivo muita coisa vai acontecer. Em “Mosquitolândia”,
David Arnold usa a clássica história de crescimento pessoal durante uma viagem
mostrando que ninguém sai igual no final do caminho. Com diversos enxertos de
cultura pop pelo meio e uma protagonista que mesmo sem ser espetacular agrada
com o humor enviesado, o jeito indie e a maneira de se posicionar perante o
mundo. Dono de uma escrita fácil e ligeira, o autor insere no meio dessa viagem
por crescimento assuntos relativamente mais densos e essa aposta acaba retirando
um pouco o livro do usual dentro da categoria de obras juvenis. Não é obra para
ganhar muitos superlativos, longe disso, mas é funcional e ritmada, forçando o
leitor a ir até o final e o recompensando com algumas risadas no decorrer do
percurso.
Nota: 6,5
Leia um trecho, aqui.
Site oficial: http://davidarnoldbooks.com
Twitter: http://twitter.com/roofbeam
“Sobrevivente” (Survivor,
no original) é o segundo livro do escritor Chuck Palahniuk. Lançado em 1999
sucedeu “Clube da Luta” de 1996 e mostrou a mesma literatura visceral, marcada
com muita ironia e acidez. A Editora Leya publicou a obra aqui em 2012 com 359
páginas e tradução de Tatiana Leão, ganhando reimpressão em 2014. “Sobrevivente” apresenta a história
contada de trás para a frente (inclusive as páginas são numeradas de modo
decrescente), quando Tender Branson está sequestrando um avião e planeja ir de
encontro com a água. Para saber como o protagonista chegou a esse ponto, o
autor regride um pouco no tempo e conta uma história repleta de loucuras e
personagens peculiares. Tender Branson, por exemplo, é bastante complexo, nasceu
e foi criado em uma comunidade religiosa, uma seita onde as regras eram duras e
estapafúrdias. Aos 17 anos rumou para o mundo com o intuito de trabalhar e
remeter a grana para a comunidade, continuando assim a servir a esta. As coisas
andam dessa maneira até uma tragédia se abater sobre a igreja e ele ganhar liberdade
e uma psicóloga meio tresloucada, enquanto trabalha como zelador e mordomo de
um casal igualmente maluco para a noite atender telefonemas de pretensos
suicidas (o número saiu errado em um jornal), os quais ele só incentiva.
Enquanto Tender Branson conta a vida para a caixa preta do avião, Chuck
Palahniuk despeja frases e mais frases contra a religião e o circo da mídia,
indo também ao encontro do próprio modo de vida dos EUA, assim como da
sociedade que absorve e aceita aquilo que lhe é entregado sem questionar. “Sobrevivente” tem leves semelhanças
com “Clube da Luta” e por se tratar do segundo romance do autor, ainda mostra
uma grande ferocidade crítica. Tender Branson pode não ser um Tyler Durden, mas
poderia normalmente ser seu melhor amigo.
Nota: 8,5
Site do autor: http://chuckpalahniuk.net
Twitter: http://twitter.com/chuckpalahniuk
Nenhum comentário:
Postar um comentário