A graphic novel “Baixo Centro” é uma publicação da
editora Miguilim do final de 2015. Primeira obra completa do artista visual
mineiro Jão foi feita e idealizada em parceria com o professor e poeta (e também
mineiro) Rafael no que concerne ao roteiro. Com 64 páginas destaca-se com um
trabalho editorial vasto e bastante cuidadoso, apresentando diversas
informações e textos, o que é sempre interessante. Os desenhos simples, mas
precisos, resultam em uma convincente retratação de Belo Horizonte (que
indiretamente também é personagem) passando por lugares como a Avenida Afonso
Pena, a Praça da Estação e o viaduto Santa Tereza. É uma história que funciona calcada
no ritmo, com algum humor e sem a utilização de palavras. Obras desenvolvidas
assim encontram maiores dificuldades em agregar o leitor e na maioria dos casos
passeiam entre o ruim e o mediano, contudo em “Baixo Centro” as coisas são diferentes e funcionam muito bem,
ainda mais pelo tamanho da obra, que representa um diferencial e tanto pois a
arte acaba tendo um impacto maior, principalmente nas páginas duplas e quadros
maiores. Os dois personagens principais do álbum desandam a correr no início e cada
vez mais as pessoas vão indo atrás, sem muita razão específica na maioria das
vezes, já que essa explicação não é demonstrada, o que leva a uma gama de
interpretações distintas e dá a obra ares mais instigantes ainda. Podem-se destacar
várias influências no trabalho que debulham na região que dá nome ao título
conhecida pela sua movimentação constante e intensidade cultural e artística
que ocorre por lá. Ao retratar a convergência dos dois mundos existentes ali - o
diurno (do trabalho, da correria) e o noturno (menos movimentado, mas mais
perigoso e intenso) – Jão e Rafael são responsáveis por uma interessante obra
que tem poder para ser lembrada além do presente e por consequência atestam
ainda mais o bom momento que vive o quadrinho nacional.
Nota: 7,5
Você está lá no meio de uma
batalha junto com deuses, supersoldados, homens em armaduras tecnologicamente
avançadas, mutantes, monstros, magos e o que mais aparecer pela frente. E o que
você tem para oferecer? Bom, você tem um arco e flecha. Ok, está certo que você
tem uma mira impecável e algumas das flechas são cheias de surpresas. Mas,
convenhamos, são apenas flechas, né? Esse é o mundo do Gavião Arqueiro,
personagem que começou como criminoso antes de entrar para o grupo dos maiores
heróis da terra (Os Vingadores, lógico) e se tornou peça fundamental tanto nos
quadrinhos como no cinema. O personagem que já morreu, ressuscitou, abandonou a
alcunha original, brigou com tudo e todos e destilou seu humor seco e ácido
durante os anos ganhou uma revista solo no final de 2012 pelas mãos do
roteirista Matt Fraction (Homem de Ferro) e dos artistas David Aja e Javier
Pulido. O início dessa elogiada fase (com razão, diga-se de passagem) que já
havia sido publicada antes pela Panini em suas revistas mensais ganhou um
encadernado de capa dura no final do ano passado juntando as 5 primeiras
edições e mais uma especial de “Jovens Vingadores”. As 140 páginas de “Gavião Arqueiro: Minha Vida Como uma Arma”
mostra o herói fora das missões de salvar o mundo e das loucuras pesadas que
envolvem os Vingadores. Focado em contar o cotidiano desse peculiar herói, Matt
Fraction acerta em cheio ao desenvolver uma história que une ação, tramas de
espionagem, compaixão e humor. Com o auxílio nesta fase inicial da jovem Kate
Bishop (que assumiu seu arco enquanto ele estava “sumido”) ainda apresenta uma
pequena tensão sexual para dar mais um clima. A arte é funcional e esbalda-se
na utilização do roxo (cor do personagem), o que se revela uma grande sacada.
As histórias publicadas em “Gavião
Arqueiro: Minha Vida Como uma Arma” servem tanto para divertir enquanto se
está lendo, quanto dá uma grande revigorada no personagem para leitores que
estão chegando agora no Universo Marvel, mostrando um pouco dos dramas cotidianos
de um herói e alguns dos seus dissabores e prazeres mais comuns.
Nota: 8,5