sábado, 9 de janeiro de 2016

"Os Oito Odiados" - 2016


“Os Oito Odiados” (The Hateful Eight, no original) é o oitavo filme do diretor Quentin Tarantino e lá se vão 24 anos do primeiro, o ótimo “Cães de Aluguel” de 1992. Nesse período esse americano do Tenessee virou cult, se transformou em símbolo na cultura pop e amealhou críticos vorazes na mesma proporção que fãs fervorosos. Com um cinema contundente, permeado por um estilo próprio montado na soma de diversos estilos alheios, (quase) sempre com diálogos eficazes e trazendo a violência como protagonista e a vingança como coadjuvante, é difícil um filme seu passar batido.

O último filme do diretor havia sido “Django Livre” de 2012, outro bom trabalho mas que se perdia um pouco no final com uma extensão maior do deveria. “Os Oito Odiados” pode ser entendido como uma sequência do último longa, por ter mais ou menos o mesmo ambiente e tratar de temas comuns como o racismo e a relação dos EUA com ele desde a libertação dos escravos no século XIX. Mas não necessariamente se resume a isso, pois pelo formato que se desenvolve remete a outros trabalhos como a já citada estreia com “Cães de Aluguel”.

O filme se passa após o fim da guerra civil norte-americana no meio de muita neve no estado do Wyoming. O caçador de recompensas John Hurt (Kurt Russell) está a destino da cidade de Red Rock para enforcar Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), uma criminosa que vai lhe render 10 mil dólares de saldo. No meio do caminho o cocheiro vê um homem na estrada e faz a carruagem parar. Mesmo avesso a esse tipo de medida, John acaba convencido a dar carona pois esse homem conhece de longe, assim como sabe da fama do Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), que supostamente carrega no bolso uma carta de Abraham Lincoln.

Enquanto Hurt e Warren vão conversando de modo bem peculiar dentro da carruagem, outro homem é encontrado abandonado na estrada, dessa vez o saqueador Chris Mannix (Walton Goggis) que afirma que será o novo xerife de Red Rock e acaba se juntando a trupe. Chegando no Armazém da Minnie, um entreposto antes do destino final, o quarteto da carruagem e o cocheiro não encontram quem esperavam e sim mais quatro homens (interpretados por Tim Roth, Michael Madsen, Demian Bichir e Bruce Dern) que em teoria estão lá cuidando do local e também para se defender da forte nevasca.

A maior parte das 3 horas e 7 minutos se desenvolve dentro desse armazém, uma soma de taverna, bar, dormitório e restaurante. Enquanto todos estão presos no mesmo espaço, Quentin Tarantino mostra imensa destreza para criar os diálogos que vão desde sacadas bestas até piadas mais pesadas, gerando um clima crescente de desconfiança e tensão, mas fazendo isso aos poucos, sem pressa, esticando o clímax sempre um pouco mais a frente e colocando o telespectador entre risos, espanto e ansiedade pelo que virá.

Logicamente a violência e a vingança estão presentes em “Os Oito Odiados”, contudo as duas são exibidas em menor escala (em menor escala para os filmes do diretor, que fique claro), o que não quer dizer que muito sangue ainda não jorre na tela. Muitos dos detratores de Tarantino batem de modo constante nessa tecla, de que ele usa a violência de modo gratuito, sem muita necessidade, no entanto o seu cinema tem na violência demasiada importância, ela é estilizada, amplificada, visual. É para que isso que se destina e cumpre bem seu papel.

Em “Os Oito Odiados” Tarantino volta a ter um grande trabalho no currículo, com poucos deslizes e perfeitamente adequado a sua maneira de fazer cinema. Com referências diversas e homenagens pelo caminho, como por exemplo ao grande Ennio Morricone que tem um tema executado logo no início. Extrai do elenco do qual é bastante ciente das suas possibilidades, atuações ótimas como a de Samuel L. Jackson e Tim Roth, e mais uma vez mete o dedo em uma ferida sempre aberta dos Estados Unidos da América enquanto se diverte no comando.

Nota: 8,5

Assista a um trailer legendado:


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