“Os Oito Odiados” (The
Hateful Eight, no original) é o oitavo filme do diretor Quentin Tarantino e
lá se vão 24 anos do primeiro, o ótimo “Cães de Aluguel” de 1992. Nesse período
esse americano do Tenessee virou cult, se transformou em símbolo na cultura pop
e amealhou críticos vorazes na mesma proporção que fãs fervorosos. Com um
cinema contundente, permeado por um estilo próprio montado na soma de diversos
estilos alheios, (quase) sempre com diálogos eficazes e trazendo a violência
como protagonista e a vingança como coadjuvante, é difícil um filme seu passar
batido.
O último filme do diretor havia
sido “Django Livre” de 2012, outro bom trabalho mas que se perdia um pouco no
final com uma extensão maior do deveria. “Os
Oito Odiados” pode ser entendido como uma sequência do último longa, por
ter mais ou menos o mesmo ambiente e tratar de temas comuns como o racismo e a
relação dos EUA com ele desde a libertação dos escravos no século XIX. Mas não
necessariamente se resume a isso, pois pelo formato que se desenvolve remete a
outros trabalhos como a já citada estreia com “Cães de Aluguel”.
O filme se passa após o fim da
guerra civil norte-americana no meio de muita neve no estado do Wyoming. O
caçador de recompensas John Hurt (Kurt Russell) está a destino da cidade de Red
Rock para enforcar Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), uma criminosa que vai
lhe render 10 mil dólares de saldo. No meio do caminho o cocheiro vê um homem
na estrada e faz a carruagem parar. Mesmo avesso a esse tipo de medida, John
acaba convencido a dar carona pois esse homem conhece de longe, assim como sabe
da fama do Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), que supostamente carrega
no bolso uma carta de Abraham Lincoln.
Enquanto Hurt e Warren vão
conversando de modo bem peculiar dentro da carruagem, outro homem é encontrado
abandonado na estrada, dessa vez o saqueador Chris Mannix (Walton Goggis) que
afirma que será o novo xerife de Red Rock e acaba se juntando a trupe. Chegando
no Armazém da Minnie, um entreposto antes do destino final, o quarteto da
carruagem e o cocheiro não encontram quem esperavam e sim mais quatro homens
(interpretados por Tim Roth, Michael Madsen, Demian Bichir e Bruce Dern) que em
teoria estão lá cuidando do local e também para se defender da forte nevasca.
A maior parte das 3 horas e 7
minutos se desenvolve dentro desse armazém, uma soma de taverna, bar,
dormitório e restaurante. Enquanto todos estão presos no mesmo espaço, Quentin
Tarantino mostra imensa destreza para criar os diálogos que vão desde sacadas
bestas até piadas mais pesadas, gerando um clima crescente de desconfiança e
tensão, mas fazendo isso aos poucos, sem pressa, esticando o clímax sempre um
pouco mais a frente e colocando o telespectador entre risos, espanto e
ansiedade pelo que virá.
Logicamente a violência e a
vingança estão presentes em “Os Oito
Odiados”, contudo as duas são exibidas em menor escala (em menor escala para
os filmes do diretor, que fique claro), o que não quer dizer que muito sangue
ainda não jorre na tela. Muitos dos detratores de Tarantino batem de modo
constante nessa tecla, de que ele usa a violência de modo gratuito, sem muita
necessidade, no entanto o seu cinema tem na violência demasiada importância,
ela é estilizada, amplificada, visual. É para que isso que se destina e cumpre
bem seu papel.
Em “Os Oito Odiados” Tarantino volta a ter um grande trabalho no
currículo, com poucos deslizes e perfeitamente adequado a sua maneira de fazer
cinema. Com referências diversas e homenagens pelo caminho, como por exemplo ao
grande Ennio Morricone que tem um tema executado logo no início. Extrai do
elenco do qual é bastante ciente das suas possibilidades, atuações ótimas como
a de Samuel L. Jackson e Tim Roth, e mais uma vez mete o dedo em uma ferida
sempre aberta dos Estados Unidos da América enquanto se diverte no comando.
Nota: 8,5
Assista a um trailer legendado:
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