“Uma Metamorfose Iraniana” (Une
métamorfhose iraniene, no original), graphic novel do artista Mana
Neyestani, usa a famosa obra de Franz Kafka como figura comparativa para contar
a própria história. Lançada em 2012 na França, recebeu uma edição nacional esse
ano pela editora Nemo com 208 páginas e tradução de Fernando Scheibe. O enredo
da hq é regado a incompreensão, autoritarismo e permeado com os absurdos que
governos totalitários são tão craques em fazer. O autor era um ilustrador e
cartunista levemente reconhecido no Irã, tendo vários campos como fonte de
trabalho, até que com a destituição de vários jornais pelo governo foi comandar
o suplemento infantil de um jornal com ligações com o poder. Por lá ficou dois
bons anos, até que em uma das sátiras que fazia no suplemento que editava, usou
um personagem em um quadro que ele conversava com uma barata. A piada, inocente
na cabeça do desenhista, tomou grandes proporções. Tudo por conta de um termo azeri usado nesse quadro, que desencadeou
um levante na região do país habitada por iranianos de origem turca. Não
demorou muito e o governo partiu para cima do desenhista e o prendeu junto com
o editor, forçando nos interrogatórios ligações com os EUA, as “verdadeiras
razões” por trás da brincadeira e coisas do tipo. Esse fato aconteceu em 2006 e
o Irã comandado por Mahmoud Ahmadinejad triturou a capacidade de trabalho do
autor, transformou-o em bode expiatório de uma crise e o fez partir (fugido) para
fora do país em uma pequena odisseia, onde viveu no exílio por três anos até
ser acolhido pela França. “Uma
Metamorfose Iraniana” tem arte em preto e branco com destaque para as sombras
e com expressões visuais que flertam com o cartum e adicionam o humor como
instrumento apesar do tema pesado que explora. Esse equilíbrio faz do álbum uma
leitura ao mesmo tempo interessante e dinâmica, sendo mais um acerto da editora
Nemo em 2015.
Nota: 7,5
Veja um trecho aqui: http://grupoautentica.com.br/nemo/amostra/1227
Jeff Smith é um senhor artista. Criador
da série “Bone” (que começou a ser relançada no Brasil esse ano) o quadrinhista
fez um grande trabalho unindo um lado infantil com diversas vertentes adultas
em uma aventura excepcional. Quando a DC Comics o contratou para recriar um dos
personagens mais antigos da editora, Jeff Smith transportou muito dessa obra
mais conhecida para reimaginar o Shazam (ou Capitão Marvel, se preferir). Ícone
criado no final dos anos 30 por Bill Parker e C. C. Beck, começou a sair
primeiramente pela extinta Fawcett Comics, até depois de alguma briga cair nas
mãos da National, uma das percursoras da DC. Mesmo sendo peça fundamental
dentro do vasto universo mágico da editora, o personagem foi muito mal
explorado na maior parte dos últimos 30 anos, e até parecia que existia uma má
vontade em relação a sua utilização. Com Jeff Smith no comando do roteiro e da
arte, e a carta branca que lhe deram, isso foi diferente e as coisas mudaram de
figura. Primeiro ele redefiniu que o Shazam que aparece todo poderoso quando o
jovem Billy Batson grita seu nome são duas personas diferentes. Além disso,
infantilizou tudo ao redor para que as coisas ficassem mais engraçadas e ritmadas,
mesmo tendo um lado forte adulto como ele gosta de fazer. No caso do arco que a
Panini Books encaderna e publica aqui em 2015, por exemplo, esse lado está
representado pela mídia e pela prepotência governamental encabeçada pelo Dr.
Silvana. “Shazam! & A Sociedade dos
Monstros” tem edição caprichada (mas bem que poderia ter alguns extras) com
208 páginas e reúne as edições lançadas nos EUA entre abril e julho de 2007.
Serve não somente como diversão, mas também para ratificar ainda mais a maestria
de Jeff Smith, principalmente quando auxiliado pelas estupendas cores de Steve
Hamaker. Plenamente recomendável.
Nota: 8,0
Textos relacionados no blog:
- Quadrinhos: “Bone - Fora de Boneville” – Jeff Smith
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