O inverno é rígido, pesado. É
necessária muita dedicação para sobreviver em clima tão hostil, e seria normal
que essa dedicação deixasse o semblante mais pesado, o coração mais duro. No
entanto, quando um jovem sai para buscar lenha e se depara com um visitante
meio estranho vestido com terno, ele automaticamente o convida para se aquecer na
sua casa (mas antes pede ao pai), e ao invés de dureza, exibe generosidade.
Esse é o tom de “Pétalas”, graphic
novel que conta com roteiro e arte de Gustavo Borges (da webcomic “Edgar”) e
cores da excelente Cris Peter (“Casanova”, “Astronauta: Magnetar”). O álbum foi
financiado coletivamente e bateu recorde dentro do campo de quadrinhos na
plataforma que cuidou da campanha. Logo após a finalização ganhou as livrarias
e bancas do país em edição conjunta da Tambor e da Marsupial Editora. “Pétalas” tem 56 páginas e exibe diversos
mimos ao leitor nos vários extras que carrega. Não tem falas na história e o
que normalmente representa uma aposta de risco, já que são poucos autores que
conseguem se sair bem com esse tipo de escolha, aqui se mostra plenamente
funcional e demonstra o talento do jovem quadrinhista de apenas 20 anos. A arte
meiga e limpa ganha maior dimensão devido as cores sempre magistrais de Cris
Peter, que a cada trabalho melhora ainda mais (como se isso fosse possível). “Pétalas” é uma história adocicada
demais, podem até falar alguns, contudo em tempos tão cheios de ódio, radicalismo
e egoísmo, uma obra que verse sobre temas tão nobres como altruísmo, bondade,
grandeza e compaixão, tem seu lugar sim. Com o uso desses temas envoltos em
magia e fantasia, Gustavo Borges apresenta outro bom lançamento dentro do cada
vez melhor mercado nacional de quadrinhos e deixa grande expectativa para seus
próximos trabalhos.
Nota: 7,5
As republicações de quadrinhos
antigos no Brasil, via de regra, sempre trazem os mesmos personagens, os mesmos
ícones, e, em alguns casos, até mesmo as mesmas obras. Então é de se vangloriar
que a Panini Books tenha colocado no mercado um encadernado de capa dura e
lombada quadrada apresentando o obscuro Homem-Máquina como protagonista. Criado
na segunda metade dos anos 70 para a Marvel pelo mestre Jack Kirby quando este
voltava de uma temporada na DC Comics, o personagem até teve alguma importância
no universo da editora, mas há anos está escanteado e aparece muito raramente. “Homem-Máquina” tem 100 páginas e exibe
uma minissérie publicada originalmente entre outubro de 1984 e janeiro de 1985,
com roteiro de Tom deFalco, desenhos de Herb Trimpe e arte-final e cores do
grande Barry Windsor-Smith (de “Arma X”). O álbum apresenta ao leitor um futuro
distante e complexo (o ano de 2020) onde uma empresa chamada Baintronics domina
o mundo com alta tecnologia e deixa tudo e todos sob seu jugo e comando.
Todavia, nem todos aceitam isso pacificamente e um grupo de rebeldes ainda
resiste com bravura. São esses rebeldes que deparam com o Homem-Máquina
desativado e quebrado dentro de uma caixa, fora do ar há 35 anos. Entrando de
supetão na briga por liberdade, o androide criado como instrumento de guerra
que se torna algo mais, desenvolvendo personalidade, pensamentos e sentimentos
próprios é fundamental para a rebelião. “Homem-Máquina”
é uma história que versa sobre opressão, independência, coragem, ganância e
soberba, temas sempre atuais. Já publicada aqui antes há muito tempo na extinta
revista Heróis da TV, essa edição é um sopro de frescor dentro do mercado de
republicações, um alento contra o mais do mesmo, além de ser uma história com
várias virtudes.
Nota: 8,5
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