Ano passado o diretor Stephen
Daldry de filmes como “Billy Elliot” e “As Horas” lançou sua versão cinematográfica
para o romance juvenil “Trash”.
Gravado no Brasil e com atores nacionais no elenco como Wagner Moura e Selton
Mello, o longa é adaptado da obra do inglês Andy Mulligan originalmente publicado
em 2010. Em 2013 a Cosac Naify colocou aqui esse trabalho (que ganhou
reimpressão em 2014) com tradução do escritor Antônio Xerxenesky e 224 páginas.
O livro tem como protagonista o jovem Raphael Férnandez que vive no lixão de
Behala e de lá tira o sustento em situações nada magníficas. O autor, que
também é professor, não ambienta a trama em um país específico, mas tirando
pelas suas andanças por Índia, Filipinas, Vietnã e Brasil, pode-se afirmar que
tem um pouco de cada nessa criação. Ao fazer seu trabalho revirando o lixo para
separar e revender, o personagem principal se depara com um bolsa contendo
dinheiro e mais alguns importantes papéis. O que à primeira vista representa um
grande prêmio, se revela como algo bem mais grave quando a polícia invade o
local preocupado em encontrar essa bolsa. Quando esconde da polícia esse fato e
percebe que o buraco é bem mais embaixo, Raphael se vê em uma grande aventura
junto com os amigos de lixão Gardo e Rato. Dentro desse contexto, Andy Mulligan
versa pelo caminho sobre pobreza, abuso de poder, política e desigualdade social,
usando como recurso narrativo a voz não somente de Raphael, mas de vários envolvidos
que vão assumindo os capítulos e que ajudam a dar uma boa visão ao leitor, ainda
mais com a utilização de fontes distintas para cada pessoa. “Trash”, no entanto, é apenas uma
aventura razoável, que não consegue se expandir muito do raso raciocínio e
expõe o olhar estrangeiro caricato sobre as mazelas dos países do terceiro
mundo. Sim, é repleto de boas intenções, porém fica somente nisso e não vai
muito além como leitura.
Nota: 6,0
Em 14 de novembro de 2011 o Sonic
Youth subia no palco do Festival SWU na cidade paulista de Paulínia para fazer
o último show de uma carreira de 30 anos artisticamente impecável. Ali seria a
derradeira vez em que a banda executaria canções como “Sugar Kane”, “Teenage
Riot” e “Death Valley 69’”. E é nesse show que a baixista Kim Gordon começa sua
autobiografia. De maneira triste, arrasadora e assustadoramente honesta narra
os últimos dias que culminaram na apresentação em um capítulo que é tão brusco
que a emoção toma conta. Kim Gordon é muito mais que uma música. É artista
visual, atriz, diretora, produtora, empresária. Uma mulher e tanto, mas que
como a maioria de nós pobres mortais tem dúvidas, medos, vergonhas e arrependimentos.
“A Garota da Banda” (Girl in a Band, no original) foi
publicado esse ano e sai por aqui também em 2015 pelo selo Fábrica231 da
Editora Rocco, com tradução conjunta de Alexandre Matias e Mariana Moreira
Matias e 288 páginas. O livro de Kim Gordon é como um romance torto de formação
em que o Sonic Youth é responsável por vários capítulos, mas ainda assim é
coadjuvante da vida pessoal da autora que passeia por uma Nova York que não
existe mais e por entre nomes distintos de vários setores da arte. Expondo
pensamentos sobre pessoas do meio musical como Courtney Love e, lógico, o
marido Thurston Moore, entre tantas outras, Kim Gordon apresenta ao leitor um
retrato de uma personalidade forte por mais que sempre tenha sido meio intimista.
É um retrato de uma mulher que tocou a vida em meio a um mundo e a um meio
claramente machistas, mas que se saiu muito bem. Uma mulher que optou em fazer
uma música não convencional em uma época em que, como ela própria diz no livro,
a palavra ruído era um insulto, a coisa mais desprezível que podia se usar
contra a música. “A Garota da Banda”
é um livro avassalador, para se ler mais de uma vez e depois guardar ali na
estante ao lado de “Só Garotos” da Patti Smith.
Nota: 9,5
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