Dentro do projeto Graphic MSP foi
o artista paraibano Shiko que conseguiu ir mais além no que tange a liberdade
criativa. Isso, até agora. Com o lançamento de “Turma da Mata – Muralha”, esse posto é repassado sendo a graphic
novel a que mais se distancia da obra referencial, apesar de manter no seu
âmago os conceitos básicos. Se assemelha bastante com o que Shiko fez em “Piteco
– Ingá” tanto na questão do ritmo quanto na reinvenção dos personagens, mas vai
além, bem além. Utilizando muitas referências que vão desde quadrinhos da
Marvel até desenhos animados da televisão, passando pela literatura de
fantasia, a obra é um gol e tanto feito pelo trio Artur Fujita (roteiro), Roger
Cruz (arte) e Davi Calil (cores). Jotalhão, Coelho Caolho, Rei Leonino,
Raposão, Rita Najura, Tarugo e companhia estão irreconhecíveis (o que é muito
bom), mesmo preservando as características criadas por Mauricio de Sousa. O
roteiro cria toda uma trama política com traição, egoísmo, ambição demasiada e
golpes, para rechear com uma história de perseverança e luta por ideais.
Explorando uma rixa entre a turma da mata e o reino por conta da exploração de
um minério raro que vale muito dinheiro, o roteiro é inspirado até a última
palavra. A arte de Roger Cruz, artista de talento reconhecido que por muito
tempo trabalhou com a franquia dos X-Men é absolutamente precisa e forte,
retratando as ações com força, contando com o auxílio das cores de Davi Calil
que não se furta de brincar com estas de diversas maneiras. “Turma da Mata - Muralha” sai pela
Panini Comics e com 82 páginas carrega o mérito de não só ser original dentro
de um processo de revitalização, como também gerar um trabalho que vai
surpreender quem já conhecia os personagens e mesmo assim fazer algo
independente do passado para os novos leitores.
Nota: 8,5
Maior criação do quadrinista
norte-americano Jeff Smith, “Bone” volta a ser publicada no Brasil, agora em
cores. A HQM Editora lançou no primeiro semestre o primeiro de nove álbuns
previstos com o personagem e pretende ir até o final da trama, algo que a Via
Lettera não fez quando publicava a série por aqui. Jeff Smith é um artista
altamente influenciado pelas tirinhas que saíam nos jornais e por nomes como
Charles M. Schulz e Bill Waterson. Começou a narrar a saga de “Bone” em 1991 e
nela se estendeu por anos angariando por diversas vezes os maiores prêmios do
mundo dos quadrinhos. O primeiro volume chamado “Fora de Boneville” com 144 páginas apresenta a figura central e
seus dois primos (Smiley Bone e Phoney Bone) quando eles são expulsos de sua
cidade devido a alguns planos escusos executados por um dos primos, bastante
ganancioso e sem índole ou moral. Fone Bone é que salva Phoney Bone do
linchamento em praça pública e leva o outro primo Smiley Bone só para aborrecer
o familiar mau, já que Smiley é descompromissado, inquieto e até meio bobo. Os
três se veem então perdidos no meio de um deserto, se desencontram e a partir
disso abordam várias encrencas para se reencontrar, sem saber que algo está na
espreita e nutre interesse especial sobre eles. É difícil achar somente um viés
para “Bone”. Nele, Jeff Smith construiu uma aventura que mescla humor simples
com doses negras e politicamente incorretas, mas sempre fazendo o leitor
sorrir. No meio disso enxerta a série com muita fantasia (nas temáticas e na
criação de criaturas exóticas e estranhas) e críticas pungentes sobre
comportamento humano, ética e política, sem deixar de fazer dessas críticas instrumentos
para a diversão. “Bone” é uma série de extremo valor, recomendável para todos
os tipos de públicos e é uma alegria saber que enfim vamos ter toda a série
disponível no país. Vale muito.
Nota: 9,5
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