sábado, 17 de outubro de 2015

Quadrinhos: "Turma da Mata - Muralha" e "Bone - Fora de Boneville"

 

Dentro do projeto Graphic MSP foi o artista paraibano Shiko que conseguiu ir mais além no que tange a liberdade criativa. Isso, até agora. Com o lançamento de “Turma da Mata – Muralha”, esse posto é repassado sendo a graphic novel a que mais se distancia da obra referencial, apesar de manter no seu âmago os conceitos básicos. Se assemelha bastante com o que Shiko fez em “Piteco – Ingá” tanto na questão do ritmo quanto na reinvenção dos personagens, mas vai além, bem além. Utilizando muitas referências que vão desde quadrinhos da Marvel até desenhos animados da televisão, passando pela literatura de fantasia, a obra é um gol e tanto feito pelo trio Artur Fujita (roteiro), Roger Cruz (arte) e Davi Calil (cores). Jotalhão, Coelho Caolho, Rei Leonino, Raposão, Rita Najura, Tarugo e companhia estão irreconhecíveis (o que é muito bom), mesmo preservando as características criadas por Mauricio de Sousa. O roteiro cria toda uma trama política com traição, egoísmo, ambição demasiada e golpes, para rechear com uma história de perseverança e luta por ideais. Explorando uma rixa entre a turma da mata e o reino por conta da exploração de um minério raro que vale muito dinheiro, o roteiro é inspirado até a última palavra. A arte de Roger Cruz, artista de talento reconhecido que por muito tempo trabalhou com a franquia dos X-Men é absolutamente precisa e forte, retratando as ações com força, contando com o auxílio das cores de Davi Calil que não se furta de brincar com estas de diversas maneiras. “Turma da Mata - Muralha” sai pela Panini Comics e com 82 páginas carrega o mérito de não só ser original dentro de um processo de revitalização, como também gerar um trabalho que vai surpreender quem já conhecia os personagens e mesmo assim fazer algo independente do passado para os novos leitores.

Nota: 8,5

Sobre “Piteco – Ingá” no blog, passe aqui.


Maior criação do quadrinista norte-americano Jeff Smith, “Bone” volta a ser publicada no Brasil, agora em cores. A HQM Editora lançou no primeiro semestre o primeiro de nove álbuns previstos com o personagem e pretende ir até o final da trama, algo que a Via Lettera não fez quando publicava a série por aqui. Jeff Smith é um artista altamente influenciado pelas tirinhas que saíam nos jornais e por nomes como Charles M. Schulz e Bill Waterson. Começou a narrar a saga de “Bone” em 1991 e nela se estendeu por anos angariando por diversas vezes os maiores prêmios do mundo dos quadrinhos. O primeiro volume chamado “Fora de Boneville” com 144 páginas apresenta a figura central e seus dois primos (Smiley Bone e Phoney Bone) quando eles são expulsos de sua cidade devido a alguns planos escusos executados por um dos primos, bastante ganancioso e sem índole ou moral. Fone Bone é que salva Phoney Bone do linchamento em praça pública e leva o outro primo Smiley Bone só para aborrecer o familiar mau, já que Smiley é descompromissado, inquieto e até meio bobo. Os três se veem então perdidos no meio de um deserto, se desencontram e a partir disso abordam várias encrencas para se reencontrar, sem saber que algo está na espreita e nutre interesse especial sobre eles. É difícil achar somente um viés para “Bone”. Nele, Jeff Smith construiu uma aventura que mescla humor simples com doses negras e politicamente incorretas, mas sempre fazendo o leitor sorrir. No meio disso enxerta a série com muita fantasia (nas temáticas e na criação de criaturas exóticas e estranhas) e críticas pungentes sobre comportamento humano, ética e política, sem deixar de fazer dessas críticas instrumentos para a diversão. “Bone” é uma série de extremo valor, recomendável para todos os tipos de públicos e é uma alegria saber que enfim vamos ter toda a série disponível no país. Vale muito.

Nota: 9,5


Nenhum comentário: