No universo dos quadrinhos é
normal que de tempos em tempos as grandes editoras busquem reinventar seus
maiores personagens, dando a esses ícones uma atualizada a fim de atingir novo
público, porém tratando isso na maioria das vezes como um projeto paralelo para
que os fãs antigos não chiem muito. O resultado de tal iniciativa oscila bastante
entre bom e ruim, o que não impede de se tentar novos projetos. Em 2012 a DC
Comics começou uma série intitulada “Terra Um”, onde a cronologia de todas as
décadas não era muito levada em conta. O primeiro a ser reformulado foi o
Superman (depois já vieram Batman e Titãs) com roteiro de J. Michael Straczynski
(da excelente “Rising Stars”) e arte de Shane Davis (Liga da Justiça). A Panini
publicou aqui em 2013 o arco inicial dessas histórias e agora em 2015 coloca no
mercado “Superman: Terra Um – Vol. 2”,
continuação dos fatos desenvolvidos no volume anterior, mas como se trata de
tramas fechadas pode ser consumido sem ter conhecimento do que veio antes. Nesse
encadernado com 132 páginas encontramos um Superman ainda inseguro com seu
lugar no mundo e sem saber exatamente o que fazer com todo o poder e como se
posicionar. No meio desse caminho de afirmação aparece o Parasita, um dos
vilões mais poderosos que o kryptoniano já enfrentou e dentro dessa ação o
roteiro ainda insere uma boa dose política e apresenta um homem de aço não tão
escoteiro como se está acostumado. Mesmo com texto do competente Straczynski e arte-final
de Sandra Hope com cores de Barbara Ciardo ajudando os limpos desenhos de Shane
Davis, parece que os envolvidos ainda não encontraram um tom para que funcione essa
repaginada. Apesar de se levar em consideração que esse “Volume II” é superior
ao antecessor, ainda assim temos apenas uma mediana aventura, que não
acrescenta nada ao personagem e é plenamente esquecível depois de algumas horas.
A adolescência não é tarefa das
mais fáceis para qualquer um, por mais que ofereça em contrapartida boa gama de
alegrias e lembranças que vão ser levadas durante toda a vida. Imagine então
ter 13 anos e morar em uma pequena cidade que não oferece opções de
entretenimento quando de repente sua mãe resolve se mandar com outro cara lhe
deixando somente com o pai, um pai que praticamente não para em casa e vive
viajando a trabalho. É assim que se encontra Rosie, a protagonista da graphic
novel belga “O Muro” (Le Muret, no original). Publicada no ano
de 2013 lá fora recebe edição nacional esse ano através da editora Nemo com 192
páginas e tradução de Fernando Scheibe. “O
Muro” é o primeiro projeto em quadrinhos da escritora infantil belga Céline
Fraipont e conta com a arte do argelino Pierre Bailly em preto e branco.
Ambientada no final dos anos 80, o roteiro navega por todas as ânsias de uma
garota que de repente se vê sozinha no mundo e que entre descobertas e
desilusões vai se acertando do jeito que dá. A trama apesar de delicada não é
demasiadamente juvenil e explora drogas, álcool e sexo envolvidos no traço
bastante peculiar de Pierre Bailly que usa e abusa de sombras e escuridão em
quadros dos mais diversos tamanhos, em que consegue repassar ao leitor a
sensação de estranhamento e tédio que assola a personagem principal. Ao redor
disso Céline Fraipont enxerta muita música e discos, como a coletânea “Ramones
Mania” dos Ramones ou “Three Imaginary Boys” o registro de estreia do The Cure,
fazendo com que a música sirva como coadjuvante e desafogo da história. “O Muro” trata do crescimento e da
formação de uma pessoa perante adversidades, um tema que já foi usado
largamente por toda a arte, no entanto, aqui esse tema é tratado com habilidade
e o resultado disso é um trabalho com várias qualidades que merece ser
conhecido.
Nota: 7,5
Leia um trecho aqui: http://grupoautentica.com.br/nemo/amostra/1196
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