Billy Phelan ganha a vida rodeado
por jogos e apostas. Mora em Albany nos anos 30, capital do estado de Nova York,
no período da grande depressão e antes do início da segunda guerra mundial. Leva
a vida em qualquer tipo de jogo. Boliche, bilhar, turfe, dados, nada parece não
merecer sua habilidade. Orgulhoso, digno de um código de conduta próprio,
parece que podia ter sido algo mais na vida e além disso é um herói improvável,
que ninguém vê muito mérito, isso incluído ele mesmo. Esse é o personagem
principal de “O Grande Jogo de Billy
Phelan”, que a editora Cosac Naify lançou aqui em 2010 em uma caprichada
edição com 344 páginas e tradução de Sergio Flaskman. Publicado originalmente
em 1978 é o segundo livro do chamado “Ciclo de Albany” que o escritor americano
William Kennedy fez ao longo da carreira. Nascido em 1928 tem a literatura
comparada a nomes como Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald. Além de livros, escreveu
peças de teatros e roteiros de filmes (como “Cotton Club” do Coppola). Sua obra
mais conhecida é “Ironweed”, trabalho que lhe rendeu o Pulitzer, e virou filme
nas mãos do diretor Hector Babenco em 1987 com Jack Nicholson e Meryl Streep
nos papeis principais. Em “O Grande Jogo
de Billy Phelan” o autor convida o leitor para um passeio em uma cidade dominada
por uma família, que manda e desmanda em tudo, da igreja a política, dos bares
aos prostíbulos. Além de Phelan, temos outro grande personagem no livro, Martin
Daugherty, um colunista do jornal local de bom coração e com culpa familiar
pesando no peito. Envolvidos no meio de um sequestro, ambos precisam usar a
cabeça para não se afundar e entrar em desespero, isso tudo permeado com acessos
de violência, humor seco e uma busca por esperança e aceitação escondida lá no
fundo da desordem.
Nota: 8,0
Mesmo dando voltas e mais voltas ao
lado do tema, a escritora paulista Patrícia Melo nunca fez de uma obra sua propriamente
um romance policial com tudo que o estilo tem direito. Isso só foi acontecer no
ano passado em “Fogo-Fátuo”, publicado
pela editora Rocco com 304 páginas. Sucessor do ótimo “Ladrão de Cadáveres” de
2010, a obra apresenta Azucena Gobbi, chefe do Setor de Perícias da Central
Paulista de Homicídios, mulher forte e decidida, mas que atravessa um
verdadeiro vendaval na vida pessoal. Quando
Fábbio Cássio, ator famoso que também tinha uma vida bastante tumultuada acaba
atirando na própria cabeça em cima do palco durante uma peça ela se envolve em
uma história com tons nada sublimes e cheias de picuinhas e interesses próprios.
Na verdade, não se sabe ao certo se o ator se matou ou foi assassinado por
alguém que colocou as balas onde não deviam estar e essa busca pela verdade é o
tom maior que envolve o romance. Todavia, é nas suas margens que Patrícia Melo brilha
e entrega muito mais. Primeiro, versa sobre uma cidade dominada pelo medo, onde
a criminalidade galgou níveis assustadores e produz vítimas em escala
industrial. Depois, enverada pela ineficácia de boa parte da polícia seja por
capacidade mesmo ou por política. E conclui atirando contra a indústria das
celebridades cada vez mais horrenda e atroz na correria para vender “notícias”.
Em “Fogo-Fátuo”, temos uma escritora
com absoluto domínio do seu ofício e que a cada livro parece crescer mais ainda.
Na obra novamente exibe a tradicional falta de crença na bondade humana dos
seus livros e mesmo sendo um romance policial tradicional, caminha por vielas
um pouco diferentes, o que é sempre muito bem-vindo.
Nota: 8,5
Leia um trecho, aqui.
Textos relacionados no blog:
- Literatura: “Jonas, o Copromanta” – Patrícia Melo
- Literatura: “Ladrão de Cadáveres”
– Patrícia Melo
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