Em “Fun Home - Uma Tragicomédia em
Família” que a editora Conrad publicou por aqui em 2007, Alison Bechdel
mergulhava na infância e crescimento e olhava mais para as ações do pai, um
professor que escondeu a homossexualidade durante anos. Em um álbum que unia
arte e texto de maneira triste, mas ao mesmo tempo de modo encantador, a autora
se destacou, chamou a atenção do mundo dos quadrinhos e angariou elogios e
prêmios. “Você é Minha Mãe?” (Are You My Mother? no original) é a
sequência natural de “Fun Home” e lançado lá fora em 2012 ganhou edição
nacional em 2013 no selo “Quadrinhos na Cia.” da Companhia das Letras. Com 294
páginas e tradução de Érico Assis traz novamente caráter biográfico em um drama
que faz leves alusões ao pai, mas que dessa vez apresenta a relação com a mãe
como foco. Na verdade, assim como em “Fun Home”, “Você é Minha Mãe?” serve como escape para afugentar (ou acalmar,
que seja) os demônios de Alison Bechdel. É uma graphic-novel densa, repleta de
conceitos psicológicos, onde os sonhos desempenham papel importante na maneira
que a autora procura um caminho em meio a dúvidas, questionamentos,
inseguranças e um humor involuntário. A
escritora Virginia Woolf e o psicanalista Donald Winnicott são os dois
alicerces que ela baseia todo esse entendimento da vida pessoal, com vários
trechos das suas obras citadas nas páginas. “Você é Minha Mãe?” apresenta algumas qualidades já vistas antes, como
a arte funcional, porém é cansativa e em termos de ritmo e texto fica bem
abaixo de “Fun Home”, infelizmente.
Nota:
5,5
Sem pessimismo barato, mas atualmente
é cada vez mais difícil se deparar com um caso de amor límpido, sincero, bonito,
como aqueles das canções clássicas ou dos poemas mais célebres. Inúmeros são os
motivos para tanto, alguns justificáveis, outros não, contudo é verdade que
isso é cada vez mais raro, mais esporádico. Talvez seja por isso que o impacto
de “Pílulas Azuis” (Pilules Bleus no original) seja tão
demasiado. Publicado originalmente em 2001, a graphic-novel do suíço Frederik
Peeters ganha edição nacional esse ano através da editora Nemo. Com 208 páginas
e tradução de Fernando Scheibe o autor de Aâma traça em uma autobiografia seu
romance com Cati, uma história de amor com dificuldades, superações, temores,
mas também com muita entrega, companheirismo e amor. O tom que tinha tudo para
descambar para o piegas ou o sentimentalismo de feira, aqui passa longe de
acontecer. A história começa com o básico garoto conhece garota, mas se estende
por alguns anos até que realmente ocorra a união. Uma união que tem como parte
inerente o vírus da Aids, já que tanto Cati, quanto o pequeno filho dela são
soropositivos. A maneira como o autor trata de questões tão delicadas é
excepcional. Insere uma carga de drama necessária, mas a envolve com humor e
dedicação. A arte em preto e branco, ora rabiscada, ora detalhada, se destaca
nas expressões faciais que refletem muito bem o momento a que se dedicam. Com
tudo isso, “Pílulas Azuis” é um
história como poucas, que espanta o preconceito para bem longe e narra uma bela
e bonita história de amor. Sim, essas histórias ainda existem. Ainda bem.
Nota:
9,0
Leia um trecho gratuitamente no site
da editora, aqui.
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