Existiu um tempo antes do advento
da internet, ou ainda, bem no início desta, que os fanzines foram fundamentais
na propagação de uma cultura que não aparecia nas grandes mídias, além de
servir como plataforma para uma arte que não achava espaço em outros locais. Os
“zines” se faziam presentes em todo o
país e não foi diferente em Fortaleza, capital do Ceará. Lá a produção chegou a
ter destaque nacional e o grupo Seres Urbanos foi o expoente disso. Formado
inicialmente por Weaver Lima e Marcílio Nascimento, o grupo agregou outros
nomes (Elvis, Lupin, Galba, Mychel e Kaos, este último infelizmente falecido no
ano passado) e foi responsável por fanzines, exposições e festas que
movimentaram a capital cearense nos anos 90. “Seres Urbanos – Antologia do quadrinho underground cearense
(1991-1998)” é um álbum que compila parte dessa produção e passou por um
processo lento desde que foi contemplado por edital da secretaria de cultura
estadual em 2011, só realmente conhecendo a vida agora em 2015. Em preto e
branco, com formato grande (21x30cm) e 100 páginas os quadrinhos exibem um humor
ácido e atravessam comportamento, música, sexo, política e religião, sempre de
maneira um pouco anárquica, sem muitas formas pré-definidas. Também demonstra tipos
distintos de arte e de traços, que na maioria dos casos funciona de acordo com
o objetivo pretendido. Uma entrevista com os membros no final enaltece o
espírito da coisa toda e atesta “Seres
Urbanos” como um projeto relevante, e acima de tudo, bem interessante de ser
lido.
Nota: 8,0
A safra atual de quadrinhos
nacionais surpreende positivamente a cada dia. Não somente os artistas e
escritores acham mais espaço dentro de projetos endossados por editoras, como
também desbravam caminho nos financiamentos coletivos, fazendo com que de modo independente
as ideias ganhem um cuidadoso aparo de publicação. Esse é o caso de “Supernada” dos paulistas Raphael
Mortari e Daniel Sanchez que através de campanha no site Catarse viabilizaram a
imaginação para o campo físico. Com 40 páginas em preto e branco o álbum
apresenta alegorias e trabalha em cima de uma fábula triste e incrivelmente
real nas suas aplicações. O personagem principal que nasce sem vício algum vai
gradualmente sendo exposto a um vírus que atinge quase toda a população, mas
que é aceito perante os olhos dela. Visualmente com uma arte simples, porém
bastante funcional, esse personagem vai se transformando em porco, ficando cada
vez mais parecido com todos a sua volta. “Supernada”
é retrato fiel do que acontece a uma parte considerável da sociedade,
apaixonada por bens (e que mede o sucesso pela aquisição desses), mas
extremamente vazia de sentimento e conteúdo. Versa também em como o comodismo
toma conta de cada um com o passar dos anos e quando menos se percebe tudo
passou e nada foi construído, seja também por medo, procrastinação ou uma
superficial sensação de alegria com que o mundo nos brinda vez ou outra. É uma
obra crítica e ao mesmo tempo emocional, é uma obra que não só convence, mas faz
também o leitor tirar alguns minutos depois de ler para pensar nos caminhos que
anda traçando, em resumo, é uma obra estupenda.
Facebook: http://www.facebook.com/hqsupernada
Nota: 9,5
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