terça-feira, 9 de junho de 2015

"O Cão do Sul" - Charles Portis

O cidadão tem 26 anos e ainda está sem rumo na vida. Já se dedicou a diversas coisas, porém, nunca foi muito longe em nenhuma delas. Apesar de uma inteligência de bom nível, essa falta de empenho, sejamos honestos, não conta muito pontos. O que é pior, ele não está muito preocupado com isso, pelo contrário. Até o dia em que sua mulher resolve fugir com outro cara. Bom, aí a coisa muda de figura e se faz necessário mexer o corpo para recuperar o amor perdido (nem tanto) e principalmente o carro utilizado para a fuga (um amado Ford Torino) e os cartões de crédito.

O carinha descrito acima é Ray Midge, personagem principal de “O Cão do Sul” (The Dog of The South, no original), livro do escritor estadunidense Charles Portis, famoso por “Bravura Indômita” de 1968, que gerou duas excelentes adaptações cinematográficas (uma em 1969 com John Wayne no papel principal e outra em 2010 com Jeff Bridges nessa posição). Lançado nos Estados Unidos em 1979, só agora esse pequeno clássico cult, ganha edição nacional através do selo Alfaguara da Editora Objetiva com 264 páginas e tradução de Renato Marques.

“O Cão do Sul” tem na essência a perseguição do protagonista atrás da amada saindo de uma pequena cidade do Arkansas, passando pelo México e terminando em Belize. Durante os quilômetros percorridos, o autor insere uma vasta quantia de personagens desconexos e surreais, além de situações que flertam com o absurdo e com a loucura, envolvendo todos os fatos em uma fina camada de humor negro e acidez, não deixando de sacanear quase ninguém no livro, além de atiçar conceitos fechados da cultura americana.

O próprio Ray Midge é um herói improvável, pois por mais que sua causa seja justa (recuperar a mulher e o carro), seus atos nem sempre são. De tendência conservadora e expondo frequentemente opiniões racistas e xenofóbicas, mesmo que pareça fazer isso sem querer, contrapõe isso com uma bondade guardada ali no coração que vez ou outra aflora fazendo o tomar decisões de cunho caridoso, sem que ele também não entenda muito as razões que o levaram a fazer isso.

Na história criada por Charles Portis em “O Cão do Sul” os personagens, via de regra, ou estão buscando alguma coisa (sem saber muito bem o que) ou estão envolvidos em suas próprias maluquices (sem saber muito bem o que estão fazendo). Em resumo, todos estão perdidos na América do final dos anos 70, sem saber ao certo onde devem aplicar o tempo que lhes resta aqui no mundo. É usando isso que o autor cria um livro não só engraçado e satírico, como também um trabalho crítico de comportamentos sociais, com muito cinismo enxertado na mistura.

Nota: 7,5

A Editora Objetiva disponibilizou um trecho gratuitamente para leitura, aqui


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