Durante muitos anos existiu em
Hong Kong uma determinada região da cidade chamada de Kownloon, conhecida como
“cidade murada”. Anteriormente fortaleza militar da China, essa região sofreu
vários desagravos, passando inclusive pela invasão do Japão na Segunda Guerra
Mundial, o que resultou posteriormente em descontroles como a verticalização demasiada
das moradias e o aumento da população residindo em um espaço tão pequeno
(chegou a ser de 33 mil habitantes). Em 1994 o setor enfim foi desocupado e
demolido pelo governo e deu lugar a um parque no final do ano seguinte.
A escritora americana Ryan
Graudin (da série “All That Glows”, inédita no país) utilizou a história dessa
área para construir o livro “A Cidade
Murada” (The Walled City, no
original) publicado em 2014 lá fora e que a Companhia das Letras através do selo
jovem Seguinte lança agora aqui no Brasil. Com 400 páginas e tradução de
Guilherme Miranda a obra não é uma ficção histórica, mas se apropria bastante
das peculiaridades do lugar, dominado desde sempre por máfias e enxertado de
assassinos, ladrões e outros tipos de criminosos no meio dos moradores comuns.
Neste cenário desolador onde é
recomendável não confiar em ninguém e andar sempre armado, a escritora insere o
adolescente Jin Ling, que se vira como pode dentro das vielas escuras e becos
estreitos, mas que na verdade esconde um grande segredo que é a razão de viver
em Hak Nam (como é denominada Kownloon no livro). No mesmo lugar está Mei Yee,
uma jovem que foi vendida pelos próprios pais em uma fazenda do interior para
servir em um bordel dominado pela Irmandade, um grupo de criminosos liderados
com mão de ferro pelo feroz Longwai.
Em conexão direta com a Irmandade
está Dai, um misterioso garoto que reside em Hak Nam há quase dois anos também
escondendo segredos (o que é uma constante na narrativa) e cheio de culpa
dentro de si. Pouco a pouco esses três nomes vão se correlacionando até que
esteja montada uma aventura de fuga e de resgate na qual a família e o passado
coordenam as atividades de um lado, enquanto do outro estão interesses egoístas
e o desapego contra a humanidade em prol da ganância e da ambição como
prioridades.
E assim se configura a trama de “A Cidade Murada”, que exibe muitas
obviedades e lugares comuns já amplamente utilizados, enquanto busca agradar ao
público que se destina - o que provavelmente consegue com sucesso - por mais
que seja difícil imaginar que convença um leitor mais experiente. Como destaque
positivo está o fato da autora expor sem melindres o desespero a que a região
sucumbe no que concerne a criminalidade, vícios, drogas, prostituição e
violência, sendo essa a maior virtude da obra.
Nota: 6,0
Site da autora: http://www.ryangraudin.com