O escritor inglês Nick Hornby
andava devendo, essa é a verdade. Seus últimos livros “Uma Longa Queda”, “Slam”
e “Juliet, Nua e Crua”, mesmo não sendo obras ruins, pecavam por repetir
fórmulas, emoldurar conceitos já utilizados e não apresentar o ritmo visto em trabalhos
como “Febre de Bola”, “Alta Fidelidade” e “Um Grande Garoto”, por exemplo. É
fato que o diretor vem se dedicando mais a atividade de roteirista de cinema
com trabalhos como “Educação” de 2009 e “Livre” de 2014 no currículo, mas mesmo
assim sempre se espera mais dele.
Entretanto, essa “dívida” acaba
de ser paga em 2015 com “Funny Girl”.
Com lançamento nacional no mesmo ano da edição estrangeira, chega pela
Companhia das Letras com tradução de Christian Schwartz e 424 páginas. Nele, o
autor invade a Inglaterra dos anos 60, com seus costumes próprios sendo
confrontados com toda a mudança promovida pela produção cultural da época. O
foco é a televisão, mais precisamente uma série cômica estrelada por uma bela e
curvilínea garota vinda do interior para Londres, mais precisamente de
Blackpool onde acaba de rejeitar um título de Miss.
O sonho dessa garota chamada Barbara
Parker é ser atriz como a fonte de inspiração e de carreira a ser seguida da
norte-americana Lucille Ball que por muitos anos encabeçou “I Love Lucy”, e foi
considerada a Rainha da Comédia. Essa é apenas uma das diversas referências
reais que Hornby apropria no decorrer das páginas. Elas aparecem em todo lugar,
passando pelo título (um filme homônimo do diretor William Wyler de 1968),
avançando por escritores, diretores e produtores do período e culminando em
todo um processo de lugares e programas televisivos.
“Funny Girl” é na sua essência uma comédia. Uma eficiente e
competente comédia, diga-se, que cumpre com o objetivo de divertir e fazer o leitor
relaxar. Porém, é mais do que isso. Em volta da busca pelo estrelato (e depois
pela manutenção dele), o autor ataca outras frentes como a questão da
independência feminina (estamos nos anos 60, lembre-se disso), o machismo da
mídia e da sociedade como um todo, relações sexuais, a dificuldade de criação
de um produto que seja comercial, mas não banal, assim como o trato das “celebridades”
e adequação disso na vida pessoal.
Mesclando os capítulos com fotos
da época, o autor faz em “Funny Girl”
o melhor trabalho em anos. Da sua maneira e a seu modo, faz confrontos constantes
e estipula discretamente correlações nas páginas como o de entretenimento versus
intelectualidade, e o de sucesso versus esquecimento, por exemplo, além de
terminar tudo isso com um final simples, poderoso e bem emocionante. É muito bom
ter de volta um Nick Hornby em plena forma nas prateleiras. Que continue assim
daqui em diante.
Nota: 9,0
A Companhia das Letras
disponibiliza gratuitamente um trecho para leitura, aqui.
Textos relacionados no blog:
- Literatura: “Febre de Bola” –
Nick Hornby
- Literatura: “Uma Longa Queda” –
Nick Hornby
- Literatura: “Slam” – Nick
Hornby
- Literatura: “Juliet, Nua e Crua” – Nick Hornby
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