“Cidade Selvagem – Volume 1” (Fell,
no original) é ambientada em uma zona urbana detestável que usa como acesso uma
simbólica ponte. Nesta terra sem regras, a criminalidade e a falta de punição
por parte da lei alcançam níveis estratosféricos. É nessa pequena parte do
inferno que o Detetive Fell está inserido quando opta (por motivos silenciosos)
em trabalhar na delegacia da região que
possui apenas “três detetives e meio” disponíveis. Publicada originalmente pela
Image Comics em 9 edições entre setembro de 2005 e janeiro de 2008, a série
ganha nova publicação nacional pela Mythos Books agora no início de 2015, com
164 páginas dispostas em uma bonita edição encadernada (como é costume da
editora). Escrita por Warren Ellis (“Transmetropolitan”) e com arte de Ben Templesmith
(“30 Dias de Noite”) temos uma história bem ao estilo do seu criador, com
personagens que sempre deixam alguma coisa para ser descoberta e vivem na
margem entre o certo e o errado sem se importar muito com isso. Contando com
arcos fechados dentro de cada edição como nos seriados criminais famosos da
televisão, acaba por funcionar bem, devido também a carga de humor negro
embutida. Todavia, o grande destaque é a arte de Templesmith que surge riscada,
escura, desfocada e com alguma referência a Frank Miller inserida ali no meio.
Mesmo com um sentimento geral de não finalização já que a edição número 10
ainda não foi lançada lá fora (de 16 previstas), “Cidade Selvagem – Volume 1” se configura em uma boa história de
quadrinhos.
“Um Conto de Natal” de Charles
Dickens já ganhou incontáveis adaptações desde 1843, seja na televisão, teatro,
cinema ou literatura. A história do endurecido Scrooge que recebe a visita de
três fantasmas no natal (representando o passado, presente e futuro) para que,
entre outras coisas, analise o caminho que a vida dele tomou, praticamente já
foi exaurida por completo. Eis que em 2011 o artista Lee Bermejo (da fenomenal “Coringa”
ao lado de Brian Azzarello) resolveu utilizar novamente essa narrativa e desta
vez correlacionar com o Batman. Sim, o Batman. O resultado disso tinha tudo
para ser um imenso lago de sentimentalismos e clichês, mas, para grata
surpresa, as coisas não saíram tão banais assim. “Batman: Noel” que a Panini Comics lançou por aqui no final do ano
passado com 112 páginas, papel couchê e capa dura, com roteiro e arte de Lee
Bermejo e cores de Barbara Ciardo é uma história que merece estar no rol das
melhores coisas feitas com o morcego nos últimos anos. Transformando Batman em
Scrooge, o autor mostra um herói raivoso que há muito tempo deixou de lado a
nobreza e entrou em uma caçada cega contra o mal, desvirtuando assim seus
princípios e ações. Quando começa a perseguir um dos capangas do Coringa no
Natal ele recebe a visita dos três “fantasmas”, aqui travestidos de Robin,
Mulher-Gato e Superman e a jornada de redenção é construída. “Batman: Noel” apresenta uma arte rica e
exuberante, além de um roteiro que usa a obviedade como força para edificar uma
história com significados e emoções.
Nota: 9,0
Textos relacionados no blog:
- Literatura: “Máquina de Armas” –
Warren Ellis
- Quadrinhos: “Coringa” – Brian Azzarello
e Lee Bermejo
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