terça-feira, 31 de março de 2015

"Mapas Para As Estrelas" - 2015

Uma jovem chega a Hollywood e a primeira coisa que faz é encomendar uma limusine para circular pela cidade atrás de casas de famosos e celebridades. Repassa um endereço específico ao motorista e vai conversando sobre esse tema o que leva o telespectador a crer nesse momento que se trata de mais uma deslumbrada com o mundo da fama. Só que essa impressão é descartada quando chegam ao endereço e lá não tem nada, só um grande espaço vazio. A partir disso começa uma história onde o buraco é muito mais embaixo.

A jovem se chama Agatha Weiss (Mia Wasikowska de “Alice no País das Maravilhas”) e mantém relação com uma família famosa composta por um arrogante ator adolescente (Evan Bird), a dedicada e conturbada mãe (Olivia Williams) e o pragmático pai (John Cusack) que tem horário na tevê e explora técnicas de autoajuda como fonte de rendimentos. Para fechar o ciclo temos uma atriz decadente (interpretada brilhantemente por Juliane Moore) para quem Agatha vai trabalhar, e o motorista da limousine com quem ela inicia um relacionamento (Robert Pattinson).

Esse é o mote de “Mapas Para as Estrelas” (Maps to The Stars, originalmente), o novo filme do diretor canadense David Cronenberg lançado lá fora no ano passado e com estreia recente aqui no Brasil. Na superfície o roteiro de Bruce Wagner (“Luta de Classes em Beverly Hills”) trata de um drama familiar e pessoal, mas é só passar um pouquinho da primeira camada para invadir um mundo sujo, frágil e com relações construídas por puro interesse, afinal é um filme de Cronenberg e se uma coisa que o seu cinema faz com maestria desde “Scanners” de 1981 é gerar incômodo.

“Mapas Para as Estrelas” sucede o ótimo “Cosmópolis” de 2012 (onde Robert Pattinson também estava em uma limusine), mas avança um pouco mais na experimentação e trabalha uma trama de desajuste social, pressão psicológica e esvaecimento profissional, junto com incesto, drogas, abusos sexuais e violência. Como sempre, Cronenberg faz ótimo trabalho com os atores que escolhe. Juliane Moore está excelente como a atriz saturada Havana Segrand, assim como John Cusack como o Dr. Stafford Weiss e Mia Wasikowska em um papel onde a dubiedade é a grande sacada.

“Mapas Para as Estrelas”, porém, traz um problema embutido no exagero de algumas situações. Mesmo que se perceba esse exagero como necessário para expor uma Hollywood doentia e superficial, ainda assim a carga é demasiada, principalmente quando são inseridas visões de pessoas mortas com frequência em mais de um personagem. No mais, ainda assim é um trabalho que instiga o telespectador a sair um pouco do habitual e só por isso já vale a pena ser visto, além do que, um filme mais ou menos de David Cronenberg vale mais do que a maioria do que temos hoje por aí.

P.S: O filme rendeu o prêmio de Melhor Atriz para Juliane Moore no Festival de Cannes e uma indicação de Melhor Diretor para David Cronenberg no mesmo festival.

Nota: 7,0

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Assista a um trailer legendado:



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