"Já escrevi romances e contos suficientes para encher um sistema
solar da imaginação, mas a história de Roland é meu Júpiter, um planeta que faz
de anão todos os outros...” (Stephen King sobre “A Torre Negra”)
Stephen King ainda era um jovem universitário
nos anos 70 quando começou a rabiscar a ideia inicial de uma saga inspirada no
universo criado por J.R.R Tolkien em “O Senhor dos Anéis”, muito antes do
diretor Peter Jackson levar a história para o cinema e auferir uma atenção muito
maior em torno dela. O hoje premiadíssimo escritor estadunidense usou também como
base primária um poema épico do século XIX, de Robert Browning, chamado "Childe Roland to The Dark Tower Came" para compor a série que hoje já foi traduzida para mais de 40
países e vendeu milhões de livros.
A primeira parte dessa epopeia se
chama “O Pistoleiro” e inicialmente foi publicada em capítulos dentro de
revistas no final dos anos 70, conhecendo sua versão como romance completo apenas
em 1982. Em 2004, Stephen King publicou o último dos sete livros originais (chamado
“A Torre Negra”), porém é bom salientar que posteriormente em 2012 lançou mais
outro (“O Vento na Fechadura”) inserindo ele no meio da trama original, um
livro que não chega a agregar quase nada, sendo apenas um pouco de mais do
mesmo, nesse caso em específico.
Foram escritas mais de 4.000
páginas para cobrir toda a história de Roland de Gilead, um pistoleiro (o
último) condenado a vagar por um mundo devastado em busca de salvação e de achar
a torre negra que dá título ao trabalho. Além da claríssima influência já
citada dos livros de Tolkien, “A Torre
Negra” tem toques do faroeste de Sérgio Leone, da ficção científica de
Stanley Kubrick e da literatura de Mario Puzo e Robert Jordan, além de inúmeros
enxertos de cultura pop como, por exemplo, o livro “Ardil 22” de Joseph Heller
e canções como “Velcro Fly” do ZZ Top e “Paint It Black” do Rolling Stones.
O começo dessa aventura de
obstinação, desespero, morte, esperança, terror, suspense, medo e aprendizado
começa na perseguição do protagonista a uma enigmática figura em que o tempo se
contorce, se quebra e se mistura sem lógica aparente, até formar seu ka-tet (um
grupo), concebido através do futuro visto no tarô. Esse grupo tem coadjuvantes
fundamentais como Eddie Dean, um viciado em heroína que vive nos anos 80, Odetta,
uma paraplégica ativista dos direitos civis e raciais dos anos 60, e o garoto
Jake, que precisa ser resgatado de outro mundo depois de morrer por lá.
O início não é fácil e demora a deslanchar,
o que só acontece no final do segundo livro e segue sempre respondendo a
algumas perguntas e levantando outras, como a razão pela qual o mundo de Roland
“seguiu adiante”. Um dos pontos altos é a ambientação dos lugares, que deixa para
o leitor um compêndio narrativo capaz de possibilitar a visualização destes
locais, principalmente cidades como River Crossing, Lud e Calla Bryn Sturgis.
Em determinado momento é inserida outra história do personagem principal,
referente ao passado, e isso constrói um adendo interessante pois a trama
principal é colocada basicamente de lado, e sobrevive.
Depois de percorrer os sete
volumes, conclui-se que “A Torre
Negra” não é o tipo de obra que chega ao ápice no final, esse ápice
aparece durante a trama, nos livros intermediários. A parte realmente
interessante que desafia o leitor está entre os livros 2 (“A Escolha dos Três”)
e 6 (“A Canção de Susannah”). O final da saga além de um pouco confuso, exibe leve
exercício de ego do escritor (que já havia se inserido dentro da própria trama),
para depois amarrar a maioria das pontas soltas no decorrer do caminho e
convencer o leitor que o acompanhou por todo o caminho.
“O mais longo romance popular de todos os tempos”, como o autor o
intitulou, apresenta muitas qualidades (apesar dos excessos) e tenta se transpor
para o cinema e a tevê - sem sucesso infelizmente por enquanto - mesmo sendo
encabeçado pelo conceituado diretor e produtor Ron Howard e tendo nomes de peso
cogitados para os papéis como Javier Bardem, Russell Crowe e Aaron Paul. Nos
quadrinhos já foi feita essa transposição de modo eficiente, sucinto e eficaz, dentro
daquilo que poderia se esperar para a trilogia cinematográfica desejada, a fim
de que o ambíguo, obcecado e carismático Roland de Gilead alcance um número
maior de pessoas com a sua incansável perseguição.
P.S: A Editora Objetiva publicou os sete livros da coleção
original aqui no Brasil entre 2005 e 2007, assim como o posterior “Vento na
Fechadura” em 2013.
Nota (coleção dos sete livros originais): 8,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário