Quando no final dos anos 80 o
britânico Neil Gaiman começou a formular o seu Sandman, pouca gente sabia que o
título (embora o conceito fosse completamente diferente), já havia feito
sucesso na Era de Ouro dos quadrinhos. Surgido em 1941, o Sandman original era
um vigilante que lutava contra crimes diversos, em histórias de clima noir e
com essência pulp. Esse Sandman não sobreviveu ao final da segunda guerra
mundial e sofreu cancelamento, mas foi revisitado a partir de 1993 por Matt
Wagner e Guy Davis e durou até 1999, com um bom nível de qualidade (a série
chegou a ser publicada aqui no país pela Editora Abril em 1995, mas não foi até
o fim). Ano passado a Panini Comics resolveu disponibilizar novamente esse
material e colocou o primeiro arco em um encadernado de 116 páginas chamado “Sandman: O Teatro do Mistério – O
Tarântula”, reunindo as quatro primeiras edições. Essa reinvenção mostra
Wesley Doods em 1938 tentando desvendar casos de mulheres sequestradas e
assassinadas por um homem misterioso. Longe de ter super-poderes, o personagem
principal usa somente uma arma com gás sonífero e a inteligência para sobrepor
os obstáculos. Com um roteiro sem furos e uma arte bastante peculiar de Guy
Davis, esse momento do antigo herói é um saboroso prato para quem gosta de
histórias com ambientação noir, suspense, uma pitada de terror psicológico e
aventuras policiais, mostrando assim que a passagem dos autores pelo título não
foi em vão.
Nota: 7,5
Imaginem Alan Moore (“Watchmen”)
e Malcolm McLaren (a mente por trás dos Sex Pistols e de um bocado de outras
coisas) trabalhando juntos na montagem de um filme? Seria no mínimo algo
interessante de se ver, não é verdade? Pois é, isso aconteceu há um bocado de tempo,
mais infelizmente não saiu do papel e foi esquecido. Até que William
Christensen da editora Avatar encontrou uma cópia do manuscrito e com a
aprovação da dupla transformou isso em uma história em quadrinhos com a adaptação
do roteiro pelas mãos de Antony Johnston (“Wasteland”) e a arte com Facundo Percio
(“Anna Mercury”). Publicada originalmente em dez capítulos de agosto de 2012 a
maio de 2013, “Fashion Beast – A Fera da
Moda” foi lançada aqui pela Panini Comics no ano passado em edição única
com 276 páginas (que bem poderia ter capa dura). Utilizando como base o
clássico “A Bela e A Fera” e o tumultuado e conflituoso mundo da moda, a
graphic novel expande a abrangência e trata do egoísmo humano, da
superficialidade das relações e da ambição exagerada em um mundo patético e a
beira do caos de maneira estupenda, com críticas ferozes e diálogos bem
alinhados. A arte de Facundo Percio é fantástica tanto na ambientação sombria
quanto nos figurinos criados para os personagens. É uma pena que “Fashion Beast” não tenha conseguido
virar filme, pois tem muito potencial e causaria um estrago danado nas mãos de
diretores como Tim Burton e Jean-Pierre Jeunet, ou até mesmo de Wes Anderson.
Nota: 9,0
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