Durante a segunda guerra mundial
os alemães inventaram uma forma indecifrável de se comunicar usando um código
chamado Enigma para criptografar suas mensagens que prenunciavam ataques e
repassavam informações táticas entre os altos escalões. Só que o código não era
tão indecifrável assim e depois de muito estudo e provações das mais distintas
categorias uma equipe britânica liderada pelo matemático Alan Turing conseguiu
a proeza de descodificar, sendo que de acordo com estudos atuais isso diminuiu
a guerra em pelo menos dois anos.
“O Jogo da Imitação” (The Imitation
Game, originalmente) narra essa história, além de se aprofundar na vida do
personagem principal elucidando fatos tanto do seu passado quanto do futuro. O
longa abocanhou oito indicações para o Oscar 2015, com destaque para categorias
pesadas como melhor filme, melhor direção, melhor ator e melhor roteiro
adaptado (baseado em livro de Andrew Hodges). Dirigido pelo norueguês Morten
Tyldum (de “Headhunters”) é de se esperar com tantas indicações que o trabalho
seja daqueles que beiram a perfeição. Mas não é bem assim.
“O Jogo da Imitação” é um filme razoável que trata de uma história espetacular.
O roteiro feito pelo quase inexperiente Graham Moore é eficiente e questões
técnicas como a edição nas mãos do veterano William Goldenberg (de “Argo” e “A
Hora Mais Escura”) e a direção de arte com Nick Dent (“A Dama de Ferro”) alcançam
o esperado nível de magnificência. Contudo, o formato escolhido pela direção
para expor a trama é óbvio, redondinho, todo certinho e feito sob medida para
agradar espectadores menos críticos. Isso, somado a decepção da maioria das
atuações principais dificulta ainda mais a justificativa para tanto alarde.
Alan Turing é interpretado pelo
excelente Benedict Cumberbach, destaque da ótima série “Sherlock” e atual
queridinho da crítica. Em “O Jogo da
Imitação” no entanto, ele está em grande parte apenas repetindo o papel que
faz em “Sherlock”, o papel do gênio brilhante e irascível com boas quantidades
de arrogância e falta de traquejo social. Keira Knightley que faz Joan Clarke,
amiga de Turing, também apenas repete papéis anteriores no meio dos seus
sorrisos, assim como Charles Dance como um comandante da Marinha duplica expressões
e gestos do Lorde Tywin de “Game Of Thrones”.
O elenco tem outros desempenhos
melhores como o de Matthew Goode como Hugh Alexander, um dos envolvidos no
projeto de decodificação, e Mark Strong como Stewart Menzies, o chefe do MI6, o
serviço de espionagem britânico, mas isso apenas ameniza a atuação robótica e
repetitiva dos demais e a história espetacular acaba também perdendo por conta
disso. Alan Turing, considerado hoje como um dos pais da computação moderna e
um dos primeiros a esboçar o conceito de inteligência artificial, tinha 27 anos
quando entrou na guerra e mesmo sendo fundamental para a vitória dos aliados
recebeu um tratamento vergonhoso por parte do seu governo.
Homossexual que era, foi
processado por atentado ao pudor em 1952, já que ser homossexual no Reino Unido
era crime na época (tal absurdo só acabou em 1967). Para fugir da prisão
aceitou um tratamento de hormônios femininos e castração química, mas faleceu
em 1954 com apenas 40 anos o que para muitos foi suicídio e até hoje permanece
mal explicado, privando assim o mundo de muitas outras descobertas. “O Jogo da Imitação” poderia
desenvolver mais esse aspecto ou a questão de “brincar de Deus” na hora da
guerra, mas opta apenas em ser palatável e acaba sendo na verdade um produto
bem menor do que aquilo que ambiciona demonstrar.
P.S: Nos últimos anos Alan Turing recebeu postumamente um pedido
público de desculpas do governo britânico assim como um perdão oficial da
Rainha Elizabeth II.
Nota: 6,5
Um site sobre Alan Turing (em
inglês): http://www.turing.org.uk
Assista a um trailer legendado:
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