Assistir a “Boyhood – Da Infância à Juventude”, o novo filme do diretor
Richard Linklater lançado recentemente é em determinados aspectos uma volta no
tempo, considerando que hoje você esteja com seus 30 e tantos anos. Com roteiro
também do diretor, o filme foi elaborado durante 12 anos (começou em 2002),
sendo que a cada ano os atores reservavam alguns dias na agenda para se dedicar
ao projeto (no total, foram menos de 2 meses de filmagem nesse período todo).
Nas 2 horas e 45 minutos do longa
testemunhamos o crescimento de Mason Jr. (Ellar Coltrane, que começou as
filmagens com 6 anos e terminou com 18), conjuntamente com a irmã Samantha
(Lorelei Linklater, filha do diretor). Filhos de pais separados interpretados
pela Patricia Arquette e pelo velho amigo Ethan Hawke, os jovens irmãos
atravessam todas as agruras e satisfações de uma época tão definidora para a
vida de cada um, tão formadora de caráter.
Essa pequena odisseia que
ultrapassa tantos dias invade a escola, a troca de cidades, a mudança de
amigos, o início da puberdade, as primeiras paixões e desilusões, a formatura
do colegial, a saída de casa, a entrada na faculdade e todo um novo mundo se
apresentando no horizonte próximo. Durante esse processo o roteiro pontua a
importância das escolhas, as dúvidas sobre qual caminho tomar, a inconsequência
de alguns atos e a transposição de prioridades.
Por isso que representa para quem
já passou tem algum tempo dessa fase, um leve retorno para outros dias.
Impossível não lembrar a própria vida quando o filme acaba e se identificar com
certas situações vistas. Para quem ainda está nessa fase ou recém-saída dela o
impacto de “Boyhood” tende a ser
maior ainda, podendo ser devidamente enquadrado como o filme de uma geração.
Não será surpresa se daqui a uma década pessoas de 20 e tantos anos apresentarem
este como o “filme das suas vidas.”
Richard Linklater já merecia
tranquilamente um lugar de destaque no cinema por conta da sua trilogia
composta por “Antes do Amanhecer”, “Antes do Por-do-Sol” e “Antes da
Meia-Noite”, mas dá para ousar dizer que agora ele foi mais longe. Por toda a
forma que foi composto e pelos inspirados diálogos, “Boyhood” impressiona pela manutenção do foco e das linhas adotadas
pelo roteiro, assim como pela atuação dos atores principais envolvidos desde o
começo de toda essa grande obra.
Para deixar tudo ainda mais
emocionante, a trilha sonora é exuberante e viaja pelos anos acompanhando a
ideia central que faz o mesmo com fatos do esporte, política e cultura. Como
pano de fundo sonoro (e coadjuvante em algumas passagens) temos nomes como The
Flaming Lips, The Hives, Cat Power, Wilco, Foo Fighters e Black Keys além dos
brazucas Luísa Maita e Moreno Veloso e uma fantástica história sobre um tal
“Black Album” dos Beatles.
Em “Boyhood”, Richard Linklater acertou mais uma vez. Palmas para ele.
Nota: 9,5
P.S: Sobre a história do tal “Black Album”, passe aqui e
veja mais sobre ela.
Assista a um trailer legendado:
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