A crise financeira que o mundo
atravessou em 2008 deixou sérios danos em várias nações. A Grécia foi uma
dessas nações e em 2010 teve um agravamento das consequências desse período e
navegou em uma nova crise que resultou em pedido de ajuda bilionário para a
União Europeia, além de medidas internas cortando gastos públicos, aumentando
impostos e instituindo reformas diversas. É esse país que serve de ambiente
para o filme “Miss Violence” que
estreou esse ano no país, porém é de 2013.
“Miss Violence” é um filme grego de 98 minutos dirigido por
Alexandros Avranas (de “Without”), que também assina o roteiro em parceria com
Kostas Peroulis. O longa teve uma boa passagem em festivais ano passado, sendo
premiado em alguns como o de Estocolmo (melhor roteiro) e Veneza, que deu a
Alexandros Avranas o prestigiado Leão de Prata de melhor direção, além da
premiação de melhor ator para Themis Panou. A película também passou por aqui antes
de ir para o circuito comercial na 37ª Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo.
A cena de abertura do filme é uma
festa de aniversário para uma garota de 11 anos que com a família dança meio
desajeitada ao som de “Dance Me To The End Of Love” do Leonard Cohen. Logo na
sequência essa mesma jovem com um leve sorriso nos lábios se dirige a sacada do
apartamento e salta para a morte, causando assim um choque inicial ao
espectador que apresenta nos primeiros cinco minutos o que pode-se esperar dali
em diante. A câmera faz uma pequena viagem até mostrar o corpo da menina
estendido em meio a muito sangue.
A família retratada é composta
por Themis Panou, que faz o papel de chefe dessa casa também habitada pela esposa,
duas filhas, um neto e uma neta. Após o suicídio, a preocupação passa não
somente pela tragédia em si, mas também pelo fato da diminuição da renda familiar
que sofrerá um abatimento do benefício dado pelo governo. No cenário difícil em
que o país se encontra isso realmente pesa para o personagem de Themis Panou.
Junte-se a isso uma nova gravidez da filha mais velha (de pai desconhecido como
os anteriores) e o medo do serviço social cortar todos esses benefícios.
Esse panorama primário aponta
para um drama de sobrevivência, mas nem de longe é possível imaginar o rumo que
a trama percorrerá e a quantidade de sordidez que será demonstrada na tela. A
câmera de Alexandros Avranas opta em muitos enquadramentos e cenas com poucas
palavras e assim apresenta uma família sufocada vivendo entre o medo, a
conivência e a falta de opção. O roteiro é elaborado com o intuito de provocar,
isso fica bastante claro devido as opções tomadas na parte final, contudo isso
não é gratuito e condiz muito bem com a dosagem gradual que o nível de
brutalidade vai se apresentando.
As decisões tomadas pelo personagem
de Themis Panou não são justificáveis em momento algum, nem pela crise
existente, já que essas decisões são tomadas há muitos anos. “Miss Violence” é duro, frio e isento
de moralidade. É um filme que agride e causa desconforto a quem assiste. Guarda
comparações com trabalhos como “Old Boy” do sul coreano Park Chan-Wook, não
pela temática envolvida, mas pelo grau de desumanidade exercida. O longa de Alexandros
Avranas é mais um exemplo do bom momento que vive o cinema grego e revela um
promitente cineasta.
Nota: 8,5
Assista ao trailer oficial (não
achei legendado em português):