Nos últimos anos um dos projetos
mais interessantes idealizado dentro das grandes editoras de quadrinhos foi o
“Sete Soldados da Vitória” que o escocês Grant Morrison fez para a DC lá fora
em 2005 e 2006 (aqui foi publicado pela Panini Comics em 8 edições no ano de
2007). Usando personagens do segundo, terceiro e quarto escalões ele entrelaçou
uma história repleta de nuances e referências. Uniu aventura, magia, ciência,
teologia, filosofia e muitas outras coisas que se delineavam como pequenas
peças que existiam para funcionar junto com outras de maneira bem peculiar.
Porém, essa junção de personagens
ambivalentes, com caracterização bem distinta permeando histórias repletas de
outras realidades, assim como com a inserção de alusões aos mais diversos
campos imagináveis não era novidade para o autor. Foi em “Os Invisíveis” que Grant Morrison fez
seu trabalho mais sublime dentro dos quadrinhos. A série que originalmente foi
publicada entre setembro de 1994 e junho de 2000, teve 59 edições espalhadas em
3 volumes e é uma espécie de história sobre “tudo”.
“Os Invisíveis” ganhou status de obra-prima com o tempo e muitos a
consideram para Grant Morrison como “Sandman” é para Neil Gaiman,
“Transmetropolitan” é para Warren Ellis ou “Watchmen” é para Alan Moore, o que
faz bastante sentido. Aqui no Brasil nunca foi lançada na sua totalidade apesar
de quatro tentativas feitas anteriormente por empresas distintas. Algumas
conseguiram avançar um pouco mais, outras pararam antes da metade. Nas dezenas
de sites de scans de quadrinhos que existem por aí, no entanto, muitos leitores
tiveram seu contato total com a série.
A Panini Comics, dentro do selo
Vertigo, parece agora finalmente querer publicar tudo por aqui (nos EUA houve a
republicação completa em sete volumes), para tanto já colocou duas edições no
mercado. “Revolução” tem 232 páginas
e reúne os números de 1 a 8 dos originais, além de pequenos textos e duas
seções de cartas escritas pelo próprio Morrison. Já “Abocalipse” apresenta as
edições 9 a 16 e tem 212 páginas, com posfácio do Érico Assis onde ele conta a
lendária história da carta que Morrison colocou na edição 16 solicitando aos
leitores que se masturbassem em um dia escolhido por ele a fim de que a revista
não parasse de ser publicada (a época não era lá muito boa para o mercado dos
quadrinhos).
Se isso deu certo ou não, não
pode-se afirmar, mas o certo é que as edições continuaram até onde o autor
imaginava, e fez com que se tornasse referência tanto para os quadrinhos por
conta das múltiplas experimentações narrativas e visuais, como também para
outras searas como o cinema (o autor acusou os irmãos Wachowski de lhe copiarem
na idealização de “Matrix”), e a televisão (“Fringe”, para ficar em um exemplo,
tem ocasionalmente uma ideia ou outra espalhada pela sua superfície).
A trama de um grupo de
revolucionários completamente desiguais entre si que lutam contra uma espécie
de ordem que comanda o mundo e faz todos pensarem que aquela é a verdadeira
realidade, ainda hoje fascina ao se reler essas primeiras edições (e depois só
melhora, pode confiar). Personagens como King Mob e Jack Frost carregam aquele
poder de se tornarem únicos. A inserção de “tudo e um pouco mais” do autor
que nesses volumes iniciais ressuscita a escritora Mary Shelley, o poeta Lorde
Byron, o controverso Marquês de Sade e os ex-beatles Stuart Sutcliffe e John
Lennon (em uma sacada magistral), deixa a trama mais intrigante ainda.
Tentar descrever a história mais
do que isso seria além de uma tarefa (bem) espinhosa, algo que resultaria em um
texto imenso, vide o tamanho de correlações, menções e referências que a
permeiam e lhe servem como base. O ideal mesmo é ler as revistas e mergulhar
dentro da intrincada mente de Grant Morrison. Mas, antes disso, prepare-se,
pois a viagem é repleta de loucura, fantasia, encantamento e brilhantismo.
P.S: Muitos artistas foram
responsáveis pela parte visual nessas 16 edições citadas acima (o que foi uma
constante durante todo o período de existência da série), porém o maior
destaque fica com Jill Thompson, brilhante em várias passagens.
P.S (bônus): Bem que “Sete
Soldados da Vitória” poderia também ganhar uma republicação em edição especial.
Merece bem.
Nota: 9,5
Site oficial do autor: http://www.grant-morrison.com
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