No primeiro semestre desse ano a
editora Intrínseca lançou uma nova edição de “O Rei de Amarelo” no mercado. A obra escrita por Robert W.
Chambers foi publicada pela primeira vez em 1895, mais de 100 anos atrás. O
livro de contos que ganhou admiradores e fãs durante o passar dos anos voltou
novamente a ser falado por causa da série “True Detective” da HBO, onde o roteirista
Nic Pizzolatto se declarou um apreciador dos textos e colocou no corpo da
produção televisiva alguns nomes comuns a esta como “O Rei Amarelo” e “Carcosa”.
No total são 10 contos, com os quatro
primeiros habitando um universo fantástico e imaginativo e os dois do meio
servindo como uma espécie de ponte para o quarteto final, que por sua vez já
entra em um mundo mais real e crível, mesmo que de alguma forma o autor escolha
fazer leves ligações entre essas duas partes bem distintas. Nas 256 páginas traduzidas
por Edmundo Barreiros o leitor é apresentando a esse pequeno ícone da literatura
gótica, aliada ali ao sobrenatural e ao terror cósmico. A edição da Intrínseca
obedece a sequencia original dos contos, ao contrário de outras publicações
anteriores.
O néctar de “O Rei de Amarelo” está na primeira metade, nos cinco primeiros
contos, e depois da leitura percebem-se as razões da estima de nomes como Neil
Gaiman (o conto “A Demoiselle d’Ys” explica bem isso) e o mestre do terror H.P.
Lovecraft (talvez a inspiração para o “Necromicon” tenha nascido aí). Nesse
quinhão da obra é apresentado um livro (na verdade, uma peça teatral) que
enlouquece ou transforma consideravelmente aqueles que o leem, principalmente o
segundo ato. Não é permitido ao leitor saber muito sobre esse exemplar e em
cima disso se constrói todo seu poder.
Robert W. Chambers nasceu no
Brooklyn e faleceu em Nova York em 1933. Durante um tempo estudou na Académie
Julian em Paris, cidade que habita a maior parte dos seus contos. Era além de
escritor, também pintor e ilustrador, o que explica sua predileção por inserir
vários personagens com esses atributos no trabalho. Inspirado por nomes como
Oscar Wilde, Ambrose Bierce e Edgar Allan Poe, os contos utópicos e densos lhe
deram respeitabilidade, mas foi escrevendo romances piegas de valor literário
quase nenhum que fez o dinheiro que lhe permitiu viver de modo confortável.
A quadra primária de contos
formada por “O reparador de reputações”, “A máscara”, “No Pátio do Dragão” e “O
Emblema Amarelo” é efetivamente formidável. O horror em relação ao que não se
conhece marcha com duras passadas escondido nas palavras e diálogos. A
ambientação dos lugares é bastante rica em detalhes e funciona como mais um
adendo para as histórias de loucura, medo e apreensão. Já os contos finais
batizados informalmente como “quarteto das ruas” (pois todos levam nomes de
ruas), estão um degrau abaixo, talvez pelo fato de serem mais concretos, mesmo
sendo melhores escritos que aqueles da abertura.
A edição de “O Rei de Amarelo” que a Intrínseca disponibiliza é muito
cuidadosa. Além de respeitar a formatação original como já dito acima, traz ainda
uma longa introdução do jornalista e escritor Carlos Orsi. Essa abertura é rica
e bem elaborada e serve perfeitamente para inserir o leitor no mundo de Robert
W. Chambers, como também no mundo do final do século XIX onde foi gerado. Os
contos também trazem pequenas notas com explicações e correlações que auxiliam
bem na jornada da leitura. Uma jornada estimulante na maior parte do tempo,
cabe aqui ressaltar.
Nota: 7,5
No site da editora tem uma
entrevista interessante com o Carlos Orsi que fez a introdução do livro. Clique aqui para ler.
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