A relação entre o homem e o
cachorro atravessou os séculos. Milhares de coisas já foram faladas sobre essa
amizade, essa cumplicidade. Mesmo aqueles não muito chegados ao animal, tendem
a reconhecer esse tipo de afinidade quando a veem. Para o escritor tcheco Milan
Kundera (de “A Insustentável Leveza do Ser”), por exemplo, “os cães são o nosso elo com o paraíso”. Além dele, vários outros
notáveis já demonstraram uma elevada quantidade de afeto oriunda dessa
convivência.
Para Mauricio de Sousa, a relação
era tamanha que foi um cachorro o primeiro personagem criado. O Bidu, que
apareceu já com o seu dono, o Franjinha. A aparição inicial da dupla foi em
uma tirinha inserida no jornal Folha da Tarde em 18 de julho de 1959. Bidu
também foi a primeira concepção do autor a ter revista própria (ainda que de
vida curta em 1960). O apego ao cachorrinho (que com tempo viria a se tornar
azul) só cresceu e ele ganhou toda uma gama de personagens que vivem dentro do
seu círculo.
Era questão de tempo então para que
essa figura tão importante no universo de Mauricio de Sousa também ganhasse uma
nova roupagem no projeto Graphic MSP que a Panini Comics vem publicando. “Bidu - Caminhos” é o quinto volume da
série e sucede “Piteco - Ingá” do final do ano passado. A responsabilidade da
elaboração dessa nova aparência ficou com a dupla Eduardo Damasceno e Luís
Felipe Garrocho (de “Achados e Perdidos” e “Cosmonauta Cosmo”), que dividem o
roteiro e a arte da HQ.
São 82 páginas onde vemos como
Bidu conheceu seu dono e eterno amigo Franjinha. Das obras lançadas até agora,
pode-se dizer sem medo que essa é a que tem o tom mais infantil de todas, o que
necessariamente não chega a ser ruim tendo em vista a abordagem proposta. Como
a história une a aventura com algumas outras vertentes, carrega no ar alguma
semelhança com “Laços” dos irmãos Cafaggi, onde o quarteto de ferro de Mauricio
de Sousa foi apresentado na Graphic MSP (e que ganhará continuação em breve).
Bidu está ali sozinho, sem muitos
amigos ainda (mesmo que alguns personagens secundários já apareçam como Duque,
Bugu e Dona Pedra) e tentando sobreviver atrás de comida e abrigo, além de
fugir dos cachorros maiores e outros perigos de uma cidade. E a jornada que ele leva
até conhecer o Franjinha é muito bem traçada, com uma arte limpa e tocante em
alguns momentos (como na parte da chuva belamente retratada pela dupla de
autores).
“Bidu – Caminhos” tem o tom certo para o personagem, não poderia
ser diferente, tinha que ser mais puro e mais singelo mesmo. Vai agradar diretamente
aos seus filhos, seus sobrinhos e aos amantes desse animal tão importante para
a raça humana através dos tempos. Depois de ler, fica difícil não gostar do que
Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho fizeram com o cachorrinho azul, por
mais que a identificação pessoal não seja tanta assim.
Nota: 7,0
Textos relacionados no blog:
- Quadrinhos: “Astronauta Magnetar” – Danilo Beyruth
- Quadrinhos: “Laços” – Vitor Cafaggie Lu Cafaggi
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