A vida é um processo constante de
acontecimentos, escolhas e relacionamentos. Sim, resumindo de maneira bastante
simplória é por aí mesmo, não tem muito como passar longe disso. Dentro desse
processo que nos colocamos habitualmente em cada esquina que dobramos ou a cada
frase que conversamos com alguém, moldamos o passo seguinte. Esculpir esse
passo seguinte para Alex Woods nunca foi lá muito fácil, visto que logo aos dez
anos de idade um meteorito atravessou o teto do banheiro e lhe acertou a
cabeça. Os tais dos acontecimentos.
O inglês Gavin Extence usa esse
acidente para desenvolver a narrativa do primeiro livro, batizado de “O Universo Contra Alex Woods”, que
conta com edição nacional da Rocco e tradução de Santiago Nazarian nas suas 400
páginas. Publicado na Grã-Bretanha no ano passado, o trabalho recebeu boa
acolhida por parte do público, o que fez com que os direitos se estendessem a
outros países. Longe de ser a “nova voz” da literatura inglesa (como as
propagandas adoram alardear), Gavin Extence apresenta um humor bem calibrado
para acompanhar os temas definidos.
“O Universo Contra Alex Woods” é acima de tudo um livro sobre
crescimento na adolescência e nesse ponto não se difere de tantos outros já
feitos, porém, é bem cadenciado no início quando depois do meteorito cair na
cabeça do personagem principal, ele vira uma espécie de celebridade na região
(por algo tão raro), ao mesmo tempo em que lida com as consequências da
casualidade que lhe deixa de herança uma epilepsia. Reclusão, falta de amigos,
vida social quase zero, uma mãe protetora no caminho, o interesse quase
obsessivo em questões relacionadas a ciência e ao espaço, convulsões
constantes. Esse é o ambiente do jovem Alex.
Neste, digamos assim, primeiro
terço do livro as coisas funcionam razoavelmente bem na narrativa que, se não é
espetacular, não agride ao leitor. Ainda mais quando o protagonista conhece um
senhor americano que vive sozinho em uma casa no campo e que por mais um
acontecimento dessa tal de vida se transforma em uma espécie de conselheiro,
uma figura paterna e confidente que ele nunca teve. Veterano de guerra e severo
defensor da Anistia Internacional, este senhor é o alicerce que Alex precisa
entre exposições sobre o escritor Kurt Vonnegut (de “Café-da-Manhã dos
Campeões”) e considerações sobre escolhas.
No segundo terço do livro, porém,
as coisas começam a desandar e o autor passa a se repetir em argumentos anteriores,
ou mesmo encharcar as páginas de passagens monótonas e que não acrescentam nada
quando se chega a última parte da obra. Se essa parcela insípida de “O Universo Contra Alex Woods” não fez
ninguém desistir, a recompensa, por assim dizer, vem no final, onde temas mais
espinhosos são abordados e percebe-se um poder maior do autor em expor raciocínios
controversos na sua essência, sem deixar de lado o bom humor e o absurdo de
algumas situações.
“O Universo Contra Alex Woods” é a estreia literária de Gavin
Extence, e como a maioria das estreias, ainda apresenta um autor tateando,
experimentando (ainda que sem muito afinco) e tentando constituir uma escrita
autêntica. A composição dos personagens secundários como a mãe de Alex e a
companheira de escola que vai trabalhar na loja de produtos místicos da mãe é
boa, assim como a inclusão de um autor consagrado como Kurt Vonnegut na trama
como desencadeador de algumas visões de mundo. Se não fossem, sei lá, umas cem
páginas dispensáveis no recheio, seria um livro bem melhor, como o final prova
que poderia acontecer.
Nota: 6,5
Site oficial: http://www.alexwoodsbook.co.uk
Nenhum comentário:
Postar um comentário