Um faquir é uma pessoa que
executa feitos de resistência ao corpo humano desprezando qualquer sensação
física e que acredita no trunfo do espírito e no poder da mente sobre o corpo,
assim nos explica o dicionário. Quando a imagem se associa a palavra, é comum
imaginarmos logo aquele indivíduo magro, que encanta serpentes com uma flauta,
faz jejum, deita sobre uma cama de pregos, engole espadas ou anda sobre cacos
de vidro. Para alguns, são pessoas com dons sobrenaturais, dons mágicos. Para
outros, são pessoas com extremo domínio do corpo e da mente.
O indiano Ajatashatru Ahvaka
Singh, personagem principal do romance “A
Extraordinária Viagem do Faquir Que Ficou Preso em Um Armário Ikea”, porém
não se enquadra em nenhum desses casos citados. O livro, escrito pelo francês
nascido na cidade de Montpeliier, Romain Puértolas, foi originalmente publicado
no seu país natal e virou um best seller por lá, ganhando tradução para vários
outros países. Lançado genuinamente em 2013, recebeu edição nacional esse ano
através da Editora Record, com 256 páginas e tradução de Mauro Pinheiro.
A trama consiste na viagem do
referido faquir para a França com o intuito de comprar uma nova cama de pregos
na gigante multinacional sueca do ramo de móveis, a IKEA. Para que essa pequena
aventura se tornasse possível ele engana a população do vilarejo em que mora
para que eles banquem a passagem de ida e volta e assim desce no aeroporto munido
de uma nota de cem euros falsa no bolso para efetuar a aquisição. Sim, percebe-se
aqui, que Ajatashatru Ahvaka Singh é um enganador e um golpista e não possui
nada de extraordinário além da sua patifaria e esperteza. Sempre foi assim, apesar
de uma infância complexa, que o autor sem muita razão coloca mais adiante.
Como o título parcialmente
entrega, dentro da loja na França ele consegue ficar preso em um armário e
assim viaja por múltiplas outras nações como Inglaterra, Espanha, Itália e Líbia
se metendo em confusões e revendo seu modo de ser e de agir. E é nesse quesito de
repensar a vida que “A Extraordinária
Viagem do Faquir Que Ficou Preso em Um Armário Ikea” se perde completamente
e vira óbvio demais. Enquanto foca na comédia inicial o autor consegue atrair a
atenção do leitor, por mais que a história em si não seja nada sensacional,
cumpre a missão de divertir. Todavia, antes de chegar à segunda metade ele já
perde a mão e assim vai ladeira abaixo.
Além de insistir no fato de
transformar a comédia em uma viagem de redescoberta (e acaba não sendo nem uma
coisa nem outra), a repetição das piadas faz com que a graça se dissipe no
decorrer das páginas. Bons artifícios como a brincadeira com os nomes dos
personagens, assim como dos costumes dos povos apresentados, perdem a força por
conta disso. Um ponto bem positivo que é expor o problema da imigração ilegal
na Europa, tanto nas suas diretrizes quanto no tratamento dos imigrantes, fica
meio de lado pela falta de pulsação do texto. Por conta disso, a estreia do
autor fica muito parecida com Ajatashatru Ahvaka Singh, engana, mas no final
não cumpre bem o objetivo a que se destina.
Nota: 5,0
Site do autor: http://www.romainpuertolas.com
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