A vida de Agenor de Miranda
Araújo Neto, o Cazuza, desembarcou no teatro em outubro do ano passado. Além do livro e do filme, um musical também serve agora para contar a trajetória de um
dos maiores artistas dos anos 80, através de suas icônicas canções. “Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz – O Musical”
tem texto de Aloísio de Abreu e direção de João Fonseca, o mesmo do musical
sobre o Tim Maia. E durante sua turnê nacional desembarcou em Belém para três
apresentações no final de semana.
O lugar escolhido para o
espetáculo foi a Assembleia Paraense. Com a ideia na cabeça de conseguir o
maior público possível, a produtora não tinha como alocar tal exibição no belo
Theatro da Paz ou no Teatro Maria Sylvia Nunes, ambos acolhedores, mas
realmente pequenos para o porte que foi imaginada a apresentação. O lugar designado
então teve que se adequar colocando cadeiras nos setores escolhidos e divididos,
bem como ajustar o espaço no que tange a iluminação e sonoridade.
O resultado disso para o público
foi bem infeliz. Primeiro, não tinha ninguém informando qual o lugar de acesso
que cada espectador deveria ocupar. Segundo, as cadeiras eram completamente
desconfortáveis para se ficar em um período total superior a 3 horas, sem
contar o fato do aperto, pois não tinha espaço entre elas (assento de companhia
aérea era um sonho, se compararmos) e estavam tudo no mesmo nível de visão. E, só
para fechar bem, tinha uma coluna de exibição de luz na frente do palco atrapalhando
a visão de todos. Lamentável, ainda mais considerando o salgado valor pago
pelos ingressos.
Seguindo para o espetáculo em si,
a grande virtude do musical é a maneira que trata livremente do estilo de vida
de Cazuza, com as drogas, o álcool e o sexo não sendo escondidos sempre que
possível, como no (bom) filme de 2004. O ator e cantor Emílio Dantas tem um
timbre muito parecido com o do homenageado, o que ajuda bastante. A sua
composição visual de gestos e performance, mesmo que soe caricata e excessiva
vez ou outra, convence bem, o mesmo ocorrendo para as interpretações de
Ezequiel Neves e Ney Matogrosso.
A vida toda de Cazuza aparece no
musical. Do início e da percepção que não era que nem os demais até o final provocado
pela AIDS, tudo está lá. A paixão pela poesia e pelos sambas, os tempos de
Barão Vermelho, os amores e dissabores, o desbunde total do Rio dos anos 80, a
carreira solo, os discursos, a revolta em perder seu estilo de vida por conta
de uma doença e o fim esperado. A cenografia de Nello Marrese é simples e
funciona de modo prático e os figurinos concebidos por Carol Lobato se adequam
bem aos tempos retratados.
Cazuza faleceu em 1990 aos 32
anos e beirou o extraordinário durante a sua vida artística. Há de se questionar
sempre toda a loucura e porra louquice, pois se apoiava financeiramente no colo
do pai famoso (João Araújo, presidente da Som Livre na época), mas isso é outra
história. Se o tom libertário e atrevido era porque havia uma rede de segurança
em volta, é impossível afirmar. O que se pode concluir é que como artista foi
fundamental para uma geração se conhecer e botar pra fora alguns demônios
pessoais e comportamentais em forma de música.
“Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz – O Musical” recria além da
história, canções poderosas como “Blues da Piedade”, “Ideologia”, “Preciso
Dizer Que Te Amo” e “Por Que a Gente é Assim?”, além de outras não gravadas por
ele como “Poema” e “Mais Feliz”. Os atores, apesar do tom demasiadamente forçado
em algumas passagens, exibem um trabalho adequado. É um musical digno, uma
homenagem que se não é perfeita, não desonra aquilo que se direciona a contar.
Só não foi uma experiência melhor devido ao local escolhido para a exibição.
Uma pena.
Nota: 6,5
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