Para quem gosta de música não há
maior satisfação do que ver uma banda ou artista que admira ao vivo. Não
necessariamente aqui falo da idolatria barata e na maioria das vezes ridícula,
mas sim daquela estima e carinho com canções que tiveram um papel
representativo na sua vida em determinado momento. E ver os escoceses do Jesus
And Mary Chain em ação causa esse tipo de satisfação em um bocado de gente que conheço,
e também em mim.
O Jesus And Mary Chain é uma das
bandas que mais escutei na vida e que me acompanhou desde o final dos anos 80
até hoje. Ir novamente para São Paulo assistir uma apresentação deles, dessa vez
no Memorial da América Latina gratuitamente dentro do 18º Festival Cultura
Inglesa, era uma missão que aparentava ser extremamente prazerosa e com grande
carga de emoção. Para se ter uma ideia, no show de 2008 no Festival Planeta
Terra lagrimei umas três ou quatro vezes, ato que só repeti outra única vez no
show do Paul McCartney. Nem no R.E.M me comovi tanto.
Desculpem o tom pessoal do texto,
mas obviamente ele não é uma resenha imparcial, bem longe disso. Voltando a
exibição de 2008, que muita gente achou burocrática, eu sinceramente gostei
muito, pois já esperava algo do tipo. O que importava ali era escutar as
canções, e perto do palco com um som muito bom esse objetivo foi cumprido plenamente
com meu envolvimento em um transe particular de quase uma hora. Agora em 2014,
a espera era basicamente a mesma. Nada de peripécias ou simpatia no palco,
apenas as canções em alto volume. Nada mais.
A banda entrou no palco um pouco
depois das 19:30 e os mais de 12 mil presentes já haviam passado por algumas provações
antes disso. Pelo menos, a maior parte. Cheguei cedo (e me arrependi muito disso
depois) então tive que conviver com a chuva perturbando e diminuindo o ânimo,
além de ver o show da Monique Maion cantando Amy Winehouse. Fica difícil passar
para quem não viu o tanto que foi ruim e desesperador estar ali. Depois com a
chuva continuando foi a vez dos galeses do Los Campesinos! subirem ao palco e
fazer um show sem graça que só no final deu uma leve guinada.
Até esse momento a única coisa
boa era a praça de alimentação com boas opções e a expectativa do show do
Jesus. No entanto, quando os irmãos Reid entraram no palco e executaram as duas
primeiras músicas, logo se percebeu que as coisas não sairiam bem. “Snakedriver”
e “Head On” apareceram em versões insípidas e sem força. O som na frente do
palco estava muito ruim (no final fui mais para trás e esse som melhorou
bastante). “Far Gone And Out” indicava que as coisas iam fluir melhor, mas os
irmãos começaram a brigar (Jim contra William), o retorno dava pau direto e
várias falhas ocorreram.
“Normal para um show da banda”, você diria. Sim, normal, mas isso
não quer dizer que seja legal e que a escala com que isso aconteceu não foi
pouco a pouco minando o resto de empolgação que existia. No entanto, mesmo com
os problemas ainda é fantástico ouvir coisas como “Teenage Lust”, “Some Candy
Talking”, “Happy When It Rains” (onde incrivelmente a chuva retornou para a
festa) e “Halfway To Crazy”. O bis foi a melhor parte e emendou boas versões de “The Hardest Walk”, “Taste Of Cindy” e “Reverence”, esta última
fazendo retornar o sorriso ao rosto, o mesmo sorriso que era exibido no começo
do dia.
A versão 2014 do Festival Cultura
Inglesa teve um sério problema com a chuva. Por exemplo, mais de 7 mil pessoas
não retiraram seus ingressos ou não compareceram. Uma pena. No mais, mostrou
boa organização e fácil acesso. O palco que em outros anos havia sido de nomes
como Franz Ferdinand, Gang Of Four e Magic Numbers, dessa vez serviu para que
os irmãos Reid encantassem os fãs e quase que na mesma proporção, também os
desapontassem. Esta sensação foi a que ficou no ar no final. Porém, sempre é
bom ressaltar (e aqui é o lado fã que fala), que mesmo uma apresentação razoável
do Jesus And Mary Chain ainda vale bem mais do que muito show que hoje é
ovacionado por aí.
Foto retirada do site oficial do
evento: http://festival.culturainglesasp.com.br
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