Quando um relacionamento de algum
tempo conhece o seu fim é normal (ainda que bem doloroso) o processo de
separação. Separação não somente das partes envolvidas fisicamente, como também
dos bens do casal. E em um universo hoje cada vez mais distante, separação
também dos discos, filmes e livros. Esse aqui é meu, esse aqui é seu e por aí a
coisa se estende. Partindo dessa premissa rotineira o redator publicitário e ótimo
conhecedor de música paulistano Leandro Leal se aventura no primeiro livro.
“Quem Vai Ficar Com Morrissey?” tem 272 páginas e abre a “Coleção
Impulso” da Editora Ideal, que focará em novos escritores. O que é muito bem
vindo. Lançado no início do ano, o romance teve como inspiração um conto
anterior do autor e tem como guia o final do romance de Fernando com Lívia.
Fernando, um aficionado por música que se acomodou na editoria de uma revista
sobre um assunto que não nutre interesse, e Lívia, uma garota interiorana que
trabalha em um jornal como repórter e ambiciona um pouco mais da vida.
Leandro Leal, porém, busca na sua
obra um pouco mais. Do retorno a infância de Fernando até as situações
vivenciadas após o fim do relacionamento, olha um pouco para a formação de um
jovem, para o contentamento com a vida, para a desistência dos sonhos e para o sentimento
de inadequação dentro do mundo. Situações que poderiam render muito bem quando aliadas
aos enxertos de cultura pop que são adicionados (principalmente da área
musical), mas que infelizmente não conseguem seguir esse caminho.
Esse recorte de etapas e períodos
de tempo em algumas pequenas histórias, como as que envolvem as namoradas
anteriores de Fernando, por exemplo, aparenta ser desnecessário e ao invés de deixar
o recheio mais saboroso acaba atrapalhando o ritmo, servindo só para exemplificar
demasiadamente a formação de caráter e personalidade do personagem principal, além
de se correlacionar com poucas passagens posteriores. A quantidade de
referências e de citações também incomoda um pouco na segunda metade, sendo
também desnecessária em determinados momentos.
“Quem Vai Ficar Com Morrissey?” não chega a ser um livro ruim,
apesar de óbvio e referencial. Como leitura rápida funciona sem maiores
surpresas, assim como para aqueles devotos do bardo de Manchester e sua icônica
e estupenda banda anterior. No entanto, não consegue ir além disso. A ideia
primordial é boa (e o título é uma grande sacada), tem passagens interessantes
aqui e ali, mas isso não consegue tornar o conjunto admirável, sendo razoável
apenas, pois desliza na própria fórmula e repetições. Mas, é só uma estreia.
Vamos esperar pelo próximo.
Nota: 5,5
A Editora Ideal disponibilizou um
trecho para leitura, aqui.
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