Com a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) prestes a eclodir no velho mundo, uma jovem recém-casada entra com seu
amado marido no navio Empress Alexandra
de volta aos Estados Unidos. O casamento que foi sacramentado na Europa parece
ser mais uma linda história de amor, olhando secamente, de modo rápido. No
entanto, à medida que “No Coração do Mar”
avança, percebe-se que não é bem assim. Mesmo que exista uma paixão envolvida
há também muita turbulência e ações premeditadas.
Quando o navio em questão sofre
um acidente e naufraga em pleno mar é que a autora britânica Charlotte Rogan
coloca o leitor mais a par dessas curvas do relacionamento. Na loucura para
achar uma salvação, o marido coloca a esposa Grace Winter dentro de um bote salva-vidas
extremamente lotado e repassa ao marinheiro que tomará conta da pequena
embarcação uma misteriosa encomenda. Com as cartas mais ou menos jogadas na
mesa é que a autora começa a deslanchar os principais pontos da obra.
“No Coração do Mar” (The
Lifeboat, no original) foi lançado em 2012 na Grã-Bretanha e recebeu bons
elogios de publicações como o Guardian e The Independent. Aqui chegou no ano
passado pelas mãos da Editora Intrínseca com 240 páginas e tradução de Flávia
Rossler. É o primeiro livro da autora, que passou anos escrevendo em segredo em
casa até tomar coragem de mostrar o trabalho para alguém. Bem escrito e com
boas nuances psicológicas envolvidas, é um trabalho que desafia lentamente o
leitor.
Inspirado em um caso judicial antigo,
“No Coração do Mar” é um livro que se
ocupa em tratar dos limites da humanidade de cada um quando a própria
sobrevivência está em risco. 21 dias presos dentro de um bote sem condições
higiênicas e sem água ou comida satisfatórias podem transformar qualquer pessoa.
Porém, até que ponto pode-se atribuir culpa as ações exercidas nesse período?
Até que ponto os atos praticados sobre esse tipo de pressão podem ser julgados?
Essas e outras perguntas buscam respostas no livro.
No entanto, entre as histórias de
antes do naufrágio, da briga pela sobrevivência e do cansativo julgamento
posterior, a grande estrela da obra é a personagem principal. Com uma roupagem
de inocência embutida no primeiro olhar, Grace Winter mostra muito mais e o
leitor fica dividido entre a ambiguidade das suas práticas e seus pensamentos.
E por deixar a sua estreia navegar em áreas extremamente cinzas ao invés de um
preto e branco mais comum, é que “No
Coração do Mar” se destaca e merece ser lido.
P.S: O livro terá adaptação cinematográfica e a atriz Anne Hathaway
(“Os Miseráveis”) será a produtora e a protagonista.
A Editora Intrínseca
disponibilizou um trecho para leitura:
Nota: 7,0