Em novembro do ano passado a
primeira safra do projeto Graphic MSP chegou ao fim com “Piteco – Ingá”. A última empreitada dessa temporada inicial (seis
outros álbuns estão previstos para 2014) teve aventuras da turminha, do
Astronauta e do Chico Bento sob a responsabilidade dos irmãos Vitor e Lu
Cafaggi, Danilo Beyruth e Gustavo Duarte, respectivamente. O resultado quase
sempre foi satisfatório e usando um clichezão, “Piteco – Ingá” fecha esse ciclo com a famosa chave de ouro.
A incumbência de visitar o personagem
pré-histórico de Mauricio de Sousa ficou com o paraibano Shiko, hoje residente
na Itália. O autor de “Blue Note” que também é ilustrador e artista plástico
deu à luz um trabalho visual não menos que majestoso. E conseguiu juntar a isso
uma aventura, que mesmo partindo de um ponto de partida comum, rende muito bem.
Sem contar o fato que foi o autor que mais foi além no quesito de liberdade
criativa, aproximando a obra do público adulto.
Esse ponto de partida passa pela
migração que o povo de Piteco se vê forçado a fazer, pois o rio que lhes dava
sustento acaba de secar, um incremento bem utilizado ressaltando a importância
da água. No entanto, quando isso está para acontecer, o caçador percebe que sua
amiga Thuga foi seqüestrada. Não pensando duas vezes, ele segue no encalço para
recuperar a curandeira do seu povo junto com o amigo inventor Beleléu e a
guerreira Ogra. Essa busca representa o objetivo que guia a trama em suas 80
páginas.
Uma das coisas mais positivas do
álbum é como Shiko transformou os personagens e suas relações. A ligação entre
Thuga e Piteco, que originalmente consiste nela apaixonada correndo atrás dele,
enquanto ele foge de todas as maneiras, aqui ganha contornos de respeito e
amizade, por mais que a relação amorosa ainda esteja lá. A amizade com Beleléu
fica mais forte e a disputa entre os povos existentes na região mais intensa e
acirrada, ao contrário da leveza com que é regularmente tratada.
Outro ponto positivo é a
aproximação que o autor faz com o nordeste e com o folclore tupiniquim. Além de
usar a Pedra do Ingá na trama (monumento arqueológico da Paraíba), inclui
lendas como o Curupira (o Arapó-Paco) e o Boitatá (o M-Buantan). E essas
coisas, aliadas com a arte dos desenhos coloridos em aquarela e a já citada ascensão
para um nível mais maduro transformam “Piteco
– Ingá” em, se não no melhor dos projetos até agora (esse posto ainda fica
com “Laços”), no mais interessante como um todo.
P.S: Como de costume, existem duas opções de capas com preços
distintos (R$ 19,90 e R$ 29,90) em livrarias e bancas de revistas.
Nota: 8,5
Textos relacionados no blog:
- Quadrinhos: “Astronauta Magnetar” – Danilo Beyruth
- Quadrinhos: “Laços” – Vitor
Cafaggi e Lu Cafaggi
- Quadrinhos: “Pavor Espaciar” –
Gustavo Duarte
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