22 anos, muita disposição, uma
boa dose de inteligência e perspicácia, ambições mil e o mundo inteiro pela
frente. Foi assim que o jovem Jordan Belfort desembarcou em Wall Street na
segunda metade dos anos 80, logo em uma tradicionalíssima empresa do ramo. De
cara se deslumbrou com o cenário, com as chances de ficar milionário e com o
funcionamento enérgico do negócio. Porém, quando ia começar a deslanchar, o
mundo ruiu. Em uma segunda-feira de 1987 conhecida como “black monday”, a bolsa
de New York caiu muito e ele foi demitido pela empresa que acabou fechando.
O renascimento e o subseqüente crescimento
profissional de Jordan Belfort perfazem a idéia inicial de “O Lobo de Wall Street”, o novo longa do diretor Martin Scorsese em
cartaz em todo o país. O filme é inspirado no livro de mesmo nome do corretor
que durante os anos 90 enriqueceu a custa de diversas fraudes e desrespeito as
leis do mercado financeiro e do próprio conceito de ética profissional, podemos
assim dizer. Essa jornada de ambição é regada por vícios e loucuras das maiores
estirpes possíveis, uma montanha-russa de álcool, sexo, drogas e uma completa e
absoluta falta de princípios e de escrúpulos.
Scorsese é um diretor que adora
esse tipo de personagem, que vive na margem das regras gerais da sociedade. Foi
assim em alguns dos seus grandes trabalhos, como por exemplo, em “Taxi Driver”
(1976), “Os Bons Companheiros” (1990), “Cassino” (1995) e “Os Infiltrados” (2006).
Em maior ou menor escala, esse tipo de figura acaba arrebatando o diretor e
ganha uma aura de fascínio que envolve o espectador de maneira com que ele
esqueça naquele momento de exibição da diferença entre certo e errado, de legal
e ilegal, de correto e indevido. Isso incessantemente é usado como um trunfo e
não é diferente com o Jordan Belfort de Leonardo DiCaprio.
Depois que resolve ressuscitar no
mercado financeiro dentro de um segmento ínfimo e sem nenhuma profissionalização
com muita esperteza e nenhuma honradez, o protagonista feito por DiCaprio cria
uma empresa e volta para o jogo sendo amado e admirado por indivíduos que são
como ele, ou seja, não estão nem aí para as leis e só querem saber de dinheiro
no próprio bolso. A leve tentativa de humanizar essa situação na última parte
do filme de quase três horas de duração além de ser apática, leva nos a deduzir
que o próprio diretor quis se redimir do descomedimento que lhe absorve em
algumas passagens.
“O Lobo de Wall Street” exibe muito daquilo que Scorsese tem de
melhor, isso é inegável. Empolga mesmo em certas etapas. É enérgico, engraçado
e levanta a discussão sobre até onde o ser humano pode chegar quando tem
dinheiro e poder envolvido. Porém, quando se trata de um filme de um diretor
tão representativo como ele tem que se tomar muito cuidado para não cair em
duas correntes óbvias: a) Por ser Scorsese, logicamente é um novo clássico, ou
b) Por ser Scorsese, já vimos isso antes e de uma maneira melhor, pois dele
sempre pode se esperar muito mais. Nem isso, e nem aquilo, ficaria de melhor
grado nesse caso específico.
Pois se “O Lobo de Wall Street” tem muito do melhor Scorsese que podemos
ter, representado aqui nos personagens, diálogos, situações quase surreais e atuações
deslumbrantes de atores como Leonardo DiCaprio, Jonah Hill e Matthew McConauguey,
também tem um pouco daquilo que é falho ao diretor como o exagero de algumas
tomadas e o alongamento desnecessário de um tema já exaurido. Isso transforma o
último quinto do filme em uma obra menor do que fora até ali e diminui o
resultado final, já que “O Lobo de Wall
Street”, assim como seu personagem principal, funciona muito melhor quando
está alucinado e frenético do que em momentos de drama e de calmaria.
Nota: 8,0
Assista ao trailer legendado:
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