domingo, 26 de janeiro de 2014

"O Lobo de Wall Street" - 2014

22 anos, muita disposição, uma boa dose de inteligência e perspicácia, ambições mil e o mundo inteiro pela frente. Foi assim que o jovem Jordan Belfort desembarcou em Wall Street na segunda metade dos anos 80, logo em uma tradicionalíssima empresa do ramo. De cara se deslumbrou com o cenário, com as chances de ficar milionário e com o funcionamento enérgico do negócio. Porém, quando ia começar a deslanchar, o mundo ruiu. Em uma segunda-feira de 1987 conhecida como “black monday”, a bolsa de New York caiu muito e ele foi demitido pela empresa que acabou fechando.

O renascimento e o subseqüente crescimento profissional de Jordan Belfort perfazem a idéia inicial de “O Lobo de Wall Street”, o novo longa do diretor Martin Scorsese em cartaz em todo o país. O filme é inspirado no livro de mesmo nome do corretor que durante os anos 90 enriqueceu a custa de diversas fraudes e desrespeito as leis do mercado financeiro e do próprio conceito de ética profissional, podemos assim dizer. Essa jornada de ambição é regada por vícios e loucuras das maiores estirpes possíveis, uma montanha-russa de álcool, sexo, drogas e uma completa e absoluta falta de princípios e de escrúpulos.

Scorsese é um diretor que adora esse tipo de personagem, que vive na margem das regras gerais da sociedade. Foi assim em alguns dos seus grandes trabalhos, como por exemplo, em “Taxi Driver” (1976), “Os Bons Companheiros” (1990), “Cassino” (1995) e “Os Infiltrados” (2006). Em maior ou menor escala, esse tipo de figura acaba arrebatando o diretor e ganha uma aura de fascínio que envolve o espectador de maneira com que ele esqueça naquele momento de exibição da diferença entre certo e errado, de legal e ilegal, de correto e indevido. Isso incessantemente é usado como um trunfo e não é diferente com o Jordan Belfort de Leonardo DiCaprio.

Depois que resolve ressuscitar no mercado financeiro dentro de um segmento ínfimo e sem nenhuma profissionalização com muita esperteza e nenhuma honradez, o protagonista feito por DiCaprio cria uma empresa e volta para o jogo sendo amado e admirado por indivíduos que são como ele, ou seja, não estão nem aí para as leis e só querem saber de dinheiro no próprio bolso. A leve tentativa de humanizar essa situação na última parte do filme de quase três horas de duração além de ser apática, leva nos a deduzir que o próprio diretor quis se redimir do descomedimento que lhe absorve em algumas passagens.

“O Lobo de Wall Street” exibe muito daquilo que Scorsese tem de melhor, isso é inegável. Empolga mesmo em certas etapas. É enérgico, engraçado e levanta a discussão sobre até onde o ser humano pode chegar quando tem dinheiro e poder envolvido. Porém, quando se trata de um filme de um diretor tão representativo como ele tem que se tomar muito cuidado para não cair em duas correntes óbvias: a) Por ser Scorsese, logicamente é um novo clássico, ou b) Por ser Scorsese, já vimos isso antes e de uma maneira melhor, pois dele sempre pode se esperar muito mais. Nem isso, e nem aquilo, ficaria de melhor grado nesse caso específico.

Pois se “O Lobo de Wall Street” tem muito do melhor Scorsese que podemos ter, representado aqui nos personagens, diálogos, situações quase surreais e atuações deslumbrantes de atores como Leonardo DiCaprio, Jonah Hill e Matthew McConauguey, também tem um pouco daquilo que é falho ao diretor como o exagero de algumas tomadas e o alongamento desnecessário de um tema já exaurido. Isso transforma o último quinto do filme em uma obra menor do que fora até ali e diminui o resultado final, já que “O Lobo de Wall Street”, assim como seu personagem principal, funciona muito melhor quando está alucinado e frenético do que em momentos de drama e de calmaria.

Nota: 8,0


Assista ao trailer legendado:


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