Uma doença grave carrega com ela
o destrutivo poder de desestabilizar qualquer relação familiar, amorosa ou
cotidiana. O câncer então é mestre em fazer coisas desse tipo e quem já conviveu
com uma situação assim entende bem esse cruel poder. Em “Alabama Monroe” (The Circle
Broken Breakdown, no original), mesmo sem ser o sustentáculo principal com
que o filme belga se apoia, é uma peça importante e funciona como delineador
das ações que impulsionam o longa adiante.
Lançado originalmente em 2012, a
obra do diretor Felix Van Groeningen ganhou uma indicação ao Oscar desse ano na
categoria de melhor filme estrangeiro depois de ganhar prêmios em festivais
prestigiados como o de Berlim e o de Tribeca. Aqui no Brasil passou pelo
Festival de Cinema do Rio de Janeiro no ano passado, mas só estreou mesmo agora
em 2014. O trabalho é baseado em uma peça de Jonan Heldenbergh em parceria com
Mieke Dobbels, com roteiro adaptado pelo diretor em parceria com Carl Jools.
Em “Alabama Monroe” conhecemos Didier Bontinck (Jonan Heldenbergh), um
músico de bluegrass apaixonado pela América e por esse ritmo irmão do country, e
Elise Vandevelde, uma tatuadora que exibe no próprio corpo inúmeras figuras. Os
dois se encontram e passam a namorar, viver juntos e tocar na banda que Didier
mantêm com amigos. O resultado desse amor arrebatador e companheiro é a pequena
e formosa Maybelle (Nell Cattrysse), que resulta em uma dedicação forte e
afável de seus pais.
A história então sugere um conto
de fadas. O casal se ama, mora em uma pequena fazenda em uma região rural,
produz uma música pela qual são apaixonados (ele, pelo menos é) em um país com
nenhuma tradição no estilo e tem uma linda e engraçada filhinha. Isso até Maybelle
ficar doente e a partir disso tudo começa a desabar pouco a pouco, com o clima mais
pesado a cada dia. Para contar essa história o diretor Felix Van Groeningen
entrecorta passado e presente em um intervalo de mais ou menos sete anos, o que
deixa tudo mais aflitivo.
No meio desse drama enternecedor,
“Alabama Monroe” foca em vários
aspectos como a quebra da estúpida crença reacionária de que pais músicos e
tatuados não são bons pais, no papel da religião como inibidora de descobertas
científicas, e na inevitável transposição de culpa entre as partes. Como disse
Raul Seixas na sua canção “Por Quem os Sinos Dobram”: “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”, mesmo que não
acha culpa a ser achada. Esses pontos são bem explorados e não transformam o
filme em um dramalhão novelesco.
Do lado mais aprazível da
película entra a parte musical, muito bem executada (a banda existe e faz shows
na Bélgica) e coordenada pelo compositor e arranjador Bjorn Eriksson. Circulam pequenas pinturas como “Will
The Circle Be Unbroken” de A.P. Carter, “Cowboy Man” de Lyle Lovett ou “If I
Needed You” de Townes Van Zandt. Com isso, apesar de alguns caminhos
mais óbvios na segunda metade de exibição, “Alabama
Monroe” se constitui em um filme prodigioso onde música e dor conversam com
inevitável intimidade.
Nota: 8,0
Assista ao trailer legendado:
Um comentário:
Não vi o filme mas com esta descrição fiquei deveras curiosa e vou procurá-lo em qualquer cinema ou comprando o vídeo.
Estou a segui-lo porque achei um blogue muito interessante.
graça
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