“Rising Stars é uma história que trata de esperança. De uma esperança
acalentada por todos nós, a fé na existência de um mundo melhor. Um mundo que
pode ser alcançado pela mera percepção que é possível alcançá-lo se
trabalharmos juntos para esse fim”.
O trecho acima foi retirado do
posfácio de “Rising Stars: Estrelas
Ascendentes – A Saga Completa”, encadernado que a Mythos Editora - através
do selo Mythos Books - lançou aqui no final do ano passado, mas que
verdadeiramente só começou a ter uma melhor circulação em 2014. Esse fragmento evidenciado
foi escrito pelo artista Brent Anderson (de “Astro City”) que trabalhou na
parte final da obra idealizada por J. Michael Straczynski.
Publicada genuinamente nos
Estados Unidos pela Top Cow em 24 edições entre agosto de 1999 e março de 2005,
a série também ganhou um encadernado por lá que é onde esta edição nacional se
baseia. Aqui no Brasil a Panini Comics já havia publicado toda essa pequena
epopeia em 13 edições entre outubro de 2006 e outubro de 2007 (com direito a uma
edição inicial repleta de extras). O autor que criou a série televisiva “Babylon
5” e depois se transferiu para os quadrinhos (Homem-Aranha, Quarteto
Fantástico, Superman), assim como para o cinema como roteirista (“Thor”, “A
Troca”), tem em “Rising Stars” o seu
grande momento na nona arte.
A edição nacional da Mythos é
primorosa. São 616 páginas com texto introdutório de Neil Gaiman e uma galeria
final de capas e esboços (faltaram só os extras promocionais para revistas como
a Wizard, mas isso é o de menos). Apesar do alto valor de capa proposto (R$
134,90) é o tipo de investimento com custo-benefício garantido para quem gosta
de quadrinhos e de boas histórias. Mas, porque isso? Simples, porque “Rising
Stars” é uma história sensacional concebida de maneira completa, totalmente
amarrada do início ao fim. Porque J. Michael Straczynski usa de vários recursos
já imaginados anteriormente, mas usa isso de maneira ímpar criando assim uma
nova percepção.
No enredo inicial somos
apresentados a 113 pessoas que quando ainda estavam na barriga das mães ou
quando estavam sendo geradas são afetadas por uma força desconhecida, um clarão
que lhe confere poderes extraordinários (ecos aqui com séries de tevê como “4400”
e “Heroes”). Ao nascerem esses dons começam a ficar visíveis e logo o governo
os tranca em um acampamento para saber do que essas crianças são capazes, e
lógico, saber como tirar proveito disso. Por causa de uma medida judicial o
governo se vê obrigado a liberar todos depois de jovens, mesmo a contragosto e
sem fazer todos os testes que queriam fazer.
Nesse primeiro momento o que
autor apresenta é uma história de formação com laços sendo criados, caráteres
sendo constituídos, medos sendo superados, rejeições sendo sentidas e
inadequações sociais sendo suprimidas. Do outro lado, os interesses da família
e dos donos do poder. Dividido em três atos (“Nascidos na Chama Estelar”, “Guerra
de Titãs” e “Deuses e Monstros”), mas sem muito respeito da continuidade
temporal, a narrativa vai delicadamente amarrando cada pequeno diálogo e cada
pequena imagem, com aquilo que se verá adiante e resultará no ápice da trama.
Denominados como os “Especiais de
Pederson” essas pessoas caminham pelas mais diversas áreas em busca de
dinheiro, sexo, poder, heroísmo, fama, altruísmo ou vilania. E é dentro desse
cenário que “Rising Stars” apresenta
seus dois aspectos mais diferenciados. Primeiro, o roteiro realmente foca na
maior carga de realidade possível caso isso acontecesse. Não há floreios ou
fantasias desnecessárias. Segundo, os personagens idealizados, mesmo aqueles
que aparentam ser os mais nobres, tem seus próprios demônios, suas próprias
dúvidas, suas próprias ambições pessoais. Isso traz à tona uma maciça carga de
ambiguidade que não abre muito espaço para definições simplórias entre certo e
errado.
Muito se compara “Rising Stars” a outra obra fenomenal
dos quadrinhos que é “Watchmen” do Alan Moore, porém tirando o ponto de partida
(o assassinato de um dos especiais) e a inserção de uma carga de veracidade
acentuada, pouco sobra nessa confrontação. Até porque o caminho que J. Michael
Straczynski usa é outro, a redenção se apresenta em um viés totalmente
diferente. Pode-se até afirmar que esta outra estrada adotada consegue até
mesmo ir além que “Watchmen” em certas nuances, como a intensidade das
conspirações envolvidas, o desgaste emocional dos personagens e principalmente
o retrato da sociedade quando confrontada por adversidades.
O único ponto um pouquinho menor
de “Rising Stars” é a arte como um
todo. Não que afete drasticamente o resultado final, longe disso, mas ela é
apenas comum, nada além, o que se comparado ao roteiro acaba ficando desigual.
Vários artistas passaram pelas revistas, mas foram Christian Zanier e Brent
Anderson que fizeram mais edições. Na questão conceitual tudo é bem resolvido,
com experimentações de quadros e inserções de textos pelo meio, o problema é
mesmo o traço, que aparece muito trivial em algumas passagens. Porém, como já
afirmado, nada que desabone a série.
“Rising Stars: Estrelas Ascendentes – A Saga Completa” de J.
Michael Straczynski é sim uma história de esperança, uma história de um mundo
melhor possível, mas é muito mais do que isso. É uma história sobre
crescimento, escolhas, traições, amores, mudanças, arrependimentos, sacrifício e
abnegação. É uma obra que merece plenamente receber os adjetivos de essencial,
de obrigatória. Nada mais justo.
P.S: “Rising Stars”
daria um filme excelente na mão de um bom diretor. Uma trilogia poderosa. Os
direitos chegaram a ser vendidos para a MGM e boatos rolaram, mas nunca passou
disso. Uma pena, pois o material se encaixaria perfeitamente no cinema.
P.S (mais um): A Mythos também lançou um encadernado de “Midnight
Nation” do Straczynski. Outra obra do autor que vale a pena conhecer.
Nota: 10,0