domingo, 22 de dezembro de 2013

"Pavor Espaciar" - Gustavo Duarte

Chico Bento é possivelmente um dos personagens mais queridos do universo criado por Mauricio de Sousa, com poder suficiente até mesmo para rivalizar com o quarteto de ferro do artista composto pela Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. Seu jeitão engraçado, caipira, simples, humilde e ingênuo arrebatou leitores no decorrer dos anos e mesmo nos nossos tempos em que o interior já é, na sua maioria, tão urbano quanto uma cidade de médio porte, ainda exerce certo fascínio.

Isto posto, o álbum estrelado por ele dentro do projeto do selo Graphic MSP, com distribuição pela Panini Comics, era cercado de alguma expectativa. Até porque o escolhido para criar a história que se enquadrasse na proposta de olhar os antigos personagens com outros olhos em uma quantidade maior de páginas era um acerto. Gustavo Duarte (de “Có!” e “Monstros!”) passou a infância, adolescência e boa parte da juventude em Bauru, no interior de São Paulo, conhecendo bem o ambiente em que o personagem é inserido.

Assim nasceu “Pavor Espaciar”, a terceira graphic novel da empreitada citada. Com 84 páginas, a trama é uma homenagem a histórias antigas dos anos 70 e 80. Nela, Chico Bento, seu primo Zé Lelé, o porco Torresmo e a galinha Giselda são deixados em casa vendo televisão, enquanto os pais de Chico dão uma saída para visitar um parente. O que eles não esperavam era que fossem também receber uma inesperada visita, uma visita de seres estranhos oriundos de algum planeta perdido no espaço.

Em quadrinhos grandes, com traço limpo, cores bem colocadas e uma inclinação constante para o exercício da expressão de movimento, Gustavo Duarte inventa uma aventura de rapto, busca, resgate e salvação com humor leve e sem maiores complicações. No entanto, apesar de palatável, “Pavor Espaciar” parece sem cor, sem sabor, sem energia. O autor que gosta pouco de diálogos nas suas obras, aqui até coloca falas para ditar ritmo, mas o resultado final fica bem abaixo do que esperado e chega a ser decepcionante.

A escolha do tema que une o cidadão do interior com o alienígena parece não ter sido a melhor, e mesmo com a inclusão de várias referências escondidas, Gustavo Duarte não faz com que ele consiga funcionar. E também, a sua maneira de trabalho que permite muito mais sensação de movimento do que a expressão por palavras, deixa de lado um dos pontos mais fortes do Chico Bento que são os diálogos que transitam entre a inocência e o despreparo, a simplicidade e a patetice. E essa ausência cobra o preço no final.

Nota: 5,5

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