Uma das marcas da maioria das
edições do Festival Se Rasgum é a diversificação. E isso ficou bastante
evidente no Hangar durante todo o quarto dia da versão de 2013. Os shows
começaram pontualmente às 21:00hs com a apresentação do paraense Arthur
Espíndola. Com um trabalho autoral prestes a ganhar disco que mistura samba de
raiz, com um pouco de jongo e alguns refrãos bem assimiláveis, tivemos um show
aprazível que acabou com “Conto de Areia” do também paraense Toninho Nascimento
e que tanto sucesso fez na voz da inigualável Clara Nunes.
Posteriormente foi a vez do
Madame Saatan ascender ao outro palco do evento. A vocalista Sammliz falou sobre
os 30 minutos de show e sobre o horário, e mesmo não aparentando estar muito
satisfeita com ambas as coisas comandou a banda em uma exibição possante, como
de costume. Sendo gentil com público, se movimento no palco de acordo com os
riffs cortantes do hábil Ed Guerreiro e, evidentemente, cantando muito, Sammliz
provou mais uma vez ser a melhor cantora do rock brazuca em atividade atualmente.
E não abre muita margem para discussão nesse quesito.
Se os 30 minutos de palco podem
ser considerados poucos para o Madame Saatan, o mesmo não pode ser dito para o
gaúcho Astronauta Pinguim. Produtor experiente, ótimo músico que passou por
inúmeras bandas como apoio (a de Júpiter Maçã foi uma delas), ele foi
responsável por uma das apresentações mais imprevisíveis do festival. E os 30
minutos lhe caíram perfeitamente enquanto passeava por um repertório que unia anos
80, pós-punk, eletrônica e muita experimentação (com direito a Theremin e tudo),
que resultaram em dos grandes shows do dia e do festival.
Enquanto as camadas sonoras ainda
eram absorvidas pela mente, no outro palco os experientes Los Peyotes da
Argentina começavam a imprimir freneticamente sua música a todos. Um show
caótico, com guitarra no último volume, gritos, caras e bocas dos integrantes,
sujeira de garagem misturada com o pop sessentista, roupas iguais e muita energia.
O vocalista gordinho, feio, baixo e com cabelo horrível logo se tornava um cara
a ser admirado. Tirando a desnecessária inclusão de Pelé e Maradona em determinado
momento, o quinteto causou um rebuliço danado.
Na preparação para um dos shows
mais esperados desta roupagem, a paraense Zebrabeat, tocou e convenceu no palco
deck, com sua mistura instrumental de música brasileira e latina, o que levou
até a cover de Fela Kuti. Bem interessante. E quando o relógio passava um
pouquinho da meia noite, foi a vez de Bárbara Eugênia subir ao palco
ciceroneada por uma banda eficaz e versada que contava com Davi Bernardo na
guitarra, Clayton Martins na bateria, Jesus Sanchez no baixo (esse, um habitué
de terras paraenses) e o Astronauta Pinguim nos teclados.
De shortinho curto e coração
pintado no rosto, a artista começou com “Coração” e “A Chave” e apesar dos
pequenos problemas de som no início, conseguiu engatar o show da maneira que
queria. Chamou Pélico para cantar “Roupa Suja”, emendou versões do brega “Porque
Brigamos (Diana)” e encerrou com “As Curvas da Estrada de Santos”, hino de
Roberto e Erasmo Carlos. Tendo a banda como destaque maior, Bárbara Eugênia fez
uma exibição onde a fofurice e a temática hippie vão ficando mais de lado (o
que é bom) e apesar da empatia total com o público, ainda escala os degraus
para dominar melhor o espaço de palco, como, por exemplo, Tulipa Ruiz mostrou
no dia anterior.
Após a bonita, mas contida,
apresentação de Bárbara Eugênia, chegava a vez do maior nome da edição de 2013
aparecer. Tom Zé, aquele que entrou na terra por uma caverna chamada nascer, dispensa
apresentações e enfeitiçou o público com o seu palavreado, com sua verborragia,
suas canções e inúmeras histórias. Em uma carreira tão vasta como a do baiano
ícone do tropicalismo, é normal que algumas canções que você queira ouvir
fiquem de fora. Porém, todas aquelas que não poderiam faltar estiveram
presentes, por assim dizer.
No repertório estiveram “Dois Mil
e Um”, “Tô”, “Menina, Amanhã de Manhã”, “Vá Tomar” (em uma versão incrível), “”Hein?”“,
“Augusta, Angélica e Consolação” e “Politicar”, entre outras. As canções foram
preenchidas com as loucuras inerentes ao artista que ainda consegue surpreender
a própria banda com algumas decisões em palco. E com uma exibição impecável,
Tom Zé teceu palavras bonitas para Belém e seu povo, mas principalmente mostrou
que ser autêntico e original, fazendo canções nada ortodoxas (mesmo que na essência
sejam comuns), é suficiente para deslumbrar a noite de quem sai de casa para
assistir a um show de música.
Todas as fotos retiradas do Facebook
do evento (não consegui achar nenhuma foto bacana do Tom Zé, por isso não tem):http://www.facebook.com/serasgum
Textos relacionados no blog:
- Shows: 4º Festival Se Rasgum(2009)
- Shows: 5º Festival Se Rasgum(2010)
- Shows: 6º Festival Se Rasgum(2011)
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