Não é incomum dentro do universo
da literatura e do cinema, nos depararmos com um personagem que ao regressar por
um motivo qualquer para a região onde passou a infância e a adolescência, acabe
se redescobrindo, ou ganhe forças para redefinir a vida. Verdade seja dita,
esse é um expediente bastante utilizado. É tendo esse recurso como ponto de
origem que o inglês Neil Gaiman partiu para escrever seu novo romance, depois
de oito anos sem ter algum projeto deste tipo. O fruto desse retorno é “O Oceano no Fim do Caminho”.
Lançado aqui no país esse ano pela
Editora Intrínseca na mesma data do mercado norte-americano, o livro tem 208
páginas e conta com a tradução de Renata Pettengill. Nele, o renomado criador
de “Sandman” no final dos anos 80 e de “Deuses Americanos” de 2001, entra mais
uma vez no mundo que conhece tão bem, que é o da fantasia usando a realidade
como muleta para acontecer e se desenvolver. Quem já conhece algum trabalho do
autor, seja nos quadrinhos, seja em prosa, não irá se surpreender com a
ambientação.
O personagem principal do livro é
atraído para a cidade natal por causa de um funeral. Essa cidade fica na pacata
Sussex, região sudeste da Inglaterra. Sem se interessar muito pelo
acontecimento em si, esse cara de meia idade começa a dirigir a esmo para
aliviar a mente e meio sem querer, meio conscientemente, acaba indo rumo a uma
casa que mudou praticamente o caminho da vida e agregou situações que o levaram
a ter sucesso na carreira, mesmo que atualmente ele não lembre muita coisa
sobre esses tempos idos.
Chegando a uma antiga fazenda encontra
uma senhora, que vai fazer com que as lembranças da infância e de episódios
fantásticos voltem à tona e sejam narrados para o leitor. O fato que desencadeou
tais episódios foi a morte de um minerador de Opala dentro do carro do pai, e é
esse ponto que correlaciona a cadeia de eventos que virá a surgir. Contrapondo encantamentos
com a existência real, Neil Gaiman escreve um livro sobre como a infância é
definidora para a formação da pessoa, e como mesmo sem perceber, essa infância
fará parte de toda a vida.
Com 53 anos completados há poucos
dias, Gaiman é um autor que já deixou seu nome registrado na história recente
da cultura pop, principalmente nos quadrinhos. Com toda uma aura lhe cercando, imprimiu
características próprias e uma boa quantidade delas podem ser encontradas em “O Oceano no Fim do Caminho”, como a
predileção por usar três mulheres como personagens (até o nome Hempstock vemos
de novo), a briga pela aceitação de coisas que não conhecemos (como em “Livros da
Magia”) e o embate entre personalidades fortes e outras em construção.
Já com adaptação cinematográfica
garantida (pela produtora Playtone, do ator Tom Hanks), “O Oceano no Fim do Caminho” é um livro que até pelo seu volume é
fácil de ser consumido, mas que surtirá um efeito mais acentuado em quem não
está acostumado com o universo de fantasia do autor. Para aqueles que já conhecem
esse universo a algum tempo, apresenta-se apenas como mais um produto em um
nível de qualidade inferior ao que já foi visto antes. Neil Gaiman pode bem
mais do que isso e não precisa requentar seus pratos.
Nota: 6,5
A Editora Intrínseca criou uma
página especial sobre o livro. Veja aqui: http://www.intrinseca.com.br/neilgaiman
Site oficial do autor: http://www.neilgaiman.com
Blog do autor: http://journal.neilgaiman.com
Twitter do autor: http://twitter.com/neilhimself
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