“Quem só fala a verdade nem vale a pena escutar”, assim o jornalista
e escritor sueco Jonas Jonasson introduz o seu livro “O Ancião Que Saiu Pela Janela e Desapareceu”, lançado este ano por
aqui pela editora Record. Com 364 páginas e tradução de Bodil Margareta
Svensson, o livro originalmente foi publicado em 2009 na Suécia e posteriormente
foi traduzido para 35 países alçando o patamar de best-seller com mais de 4
milhões de cópias vendidas no mundo todo.
A história é construída em torno do
centenário Allan Karlsson que justamente no dia em que completa 100 anos em
2005 resolve fugir do asilo que mora, porque não estava muito a fim de
comemoração, o que causa um desespero geral na diretora do local e no prefeito
que estava doido para se promover a custa do fato na pacata cidade em que
governa. O fato envolve a polícia local e a imprensa e acaba ganhando
proporções bem maiores que somente um sumiço.
Por um daqueles acasos inexplicáveis
do destino, o ancião se vê de posse de uma mala contando alguns milhões de coroas
suecas e meio sem pretensão, meio sem pensar direito, embarca em um trem que
vai lhe levar para a grande aventura da vida. Porém, como descobrimos depois
enquanto o autor mescla a atualidade com o passado, a existência de Allan Karlsson
foi repleta de outras peripécias e de casos difíceis de serem assimilados como
verdadeiros.
Da juventude onde sobreviveu
através da empresa de explosivos que criou nas décadas iniciais do século XX, o personagem principal desembarcou justamente dentro do local onde os EUA
estavam desenvolvendo a bomba atômica, e isso leva a repensar tudo que sabemos
sobre esse acontecimento. Foi novamente meio sem querer, meio sem pensar
direito, que Allan Karlsson deu a dica necessária para a construção da arma
nuclear. E isso o leva a muitas coisas mais.
Os fatos narrados no passado são
muito superiores aos da atualidade, pois o autor cruza momentos históricos e
personalidades como Joseph Stalin, Mao Tsé-Tung, Winston Churchill e Richard
Nixon (entre outras) com participações implausíveis e inimagináveis do nosso
simpático velhinho. E aproveita para desfilar uma boa zombaria sobre os egos
das nações e da humanidade em geral que levam a decisões estapafúrdias, ainda
mais quando envolvem política e religião.
Nos acontecidos recentes a
destreza da narração sucumbe um pouco, mesmo que essa zombaria com a política
acabe ainda sendo jorrada em bom volume enquanto o longevo protagonista vai
formando uma equipe de amigos e inimigos tão improvável quanto os causos que
conta sem muita displicência. O passeio com tons de fábula é comandado por uma
espécie de Forrest Gump, se esse não fosse tão bom moço e se permitisse tomar
umas vodcas diariamente.
Em seu livro de estreia Jonas
Jonasson alcança uma saudável união de aventura com ironia, de crítica política
rasteira com bom humor, de sarcasmo com contemplações sobre a vida. Além de
Allan Karlsson e o grupo de coadjuvantes que lhe circundam, a verdade (ou a
dúvida em relação a ela) é uma das grandes personagens da trama. “O Ancião Que Saiu Pela Janela e
Desapareceu” usa isso com sabedoria e agrada bastante, afinal o verdadeiro
pode às vezes não ser verosímil e ainda assim render uma boa história.
Nota: 8,0
A editora Record liberou gratuitamente
um trecho do livro para leitura no site. Olha aqui: http://www.record.com.br/images/livros/capitulo_rHqglg.pdf
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