“Come on, come on,
come on, get through it, come on, come on, come on, love’s the greatest thing…”
Passava das 10 da noite do dia 09
de novembro e pelo menos metade das 27 mil pessoas (público estimado divulgado
pelo evento) entoava em coro a canção cantada pelo inglês Damon Albarn do Blur.
Pouco antes, um baixinho da Califórnia havia feito um show surpreendente,
mesclando de maneira totalmente equilibrada seus experimentalismos e uma
vertente mais pop do seu repertório, com direito até a uma versão de “Billie
Jean” do Michael Jackson. Foi assim, com momentos como esse, que a versão 2013
do Planeta Terra apresentou suas armas.
A mudança do Planeta Terra para o
Campo de Marte provocou muitas dúvidas iniciais que foram dirimidas pouco a
pouco no decorrer do festival. Questões como limpeza, estrutura básica e
principalmente acesso foram pontos extremamente positivos. Há de se reclamar
ainda, e com muito direito, de problemas como a espera para retirada de
ingressos, filas para compra de comidas e bebidas, assim como os preços
praticados. São pontos que costumeiramente são ressaltados como aspecto
negativo, contudo é justo afirmar que isso ocorreu em uma escala menor.
Indo para o lado da música, ao
chegar via metrô no espaço, o primeiro embate foi logo com as (e os) fãs da
Lana Del Rey. Uma das atrações mais badaladas do festival, deixou até certo
susto pela intensidade com que seus “seguidores” se multiplicavam com suas
cores, flores e sentimentos juvenis em um sol escaldante das 15 horas da tarde.
O sol, aliás, foi um personagem muito bem-vindo a esta edição e apesar da
quantidade de sombra disponível ser quase tão disputada como uma final da Liga
dos Campeões da Europa, o sol fez seu papel aumentando a alegria (diretamente
vinculada à quantidade de cerveja consumida).
A banda nacional O Terno fez um
show corretinho, mas que não conseguiu deslanchar. Porém, cravou o primeiro
registro musical digno de nota com a versão para “Trem Azul” do Lô Borges, com
os versos da canção saudando o sol que nos dourava a cabeça. B Negão veio em
seguida e comandando os Seletores de Frequência fez o que está acostumado e
jogou o público para cima com a mistura bem brazuca de funk e soul. Caiu como
uma luva, mesmo para aqueles que esperavam ansiosamente pela sua diva adentrar
o palco e não tinham muita intimidade com aquilo que saia das caixas.
O Palma Violets, molecada
britânica influenciadíssima pelo punk inglês de bandas como o The Clash, fez um
show que oscilou entre o divertido e o deslocado. Sua mistura enérgica de baixo
pulsante, vocais dobrados e instrumentos não tão bem tocados assim cairia melhor
em um lugar menor e com umas 200 pessoas na platéia, o que não chega a ser um
demérito. E assim entre uma cerveja e
outra, chegava a hora dos escoceses do Travis subir ao palco. Com dois membros
vestidos como se estivessem tocando em Londres, as expectativas de um show sem graça
pairava desconfortavelmente no ar.
Felizmente, Fran Healy estava em
uma tarde inspirada e conseguiu engatar um show agradável e com boa versão dos
hits, resultando em uma apresentação que podemos definir de maneira simples,
como é a proposta da banda, como bonita. O guitarrista Andy Dulop até deu
alguns pulos completamente “ousados” na empolgação, o que deve ter rendido algumas
boas doses de relaxante muscular no hotel. Essa empolgação foi decisiva para
que canções como “Driftword”, “Closer”, “Sing” e principalmente “Side”, “Why
Does It Always Rain On Me” e “Happy” encantassem o público presente em meio aos
aviões que subiam e desciam próximos ao Campo de Marte.
Quando chegou a hora da Lana Del
Rey subir ao palco, a histeria tomou conta. Jovens gritavam exasperadamente
enquanto a bela (e põe bela nisso) moça dava os primeiros passos em direção ao
público. Se esforçando ao máximo para parecer simpática logo no início e assim
ganhar de imediato a quem lhe assistia, optou por imediatamente descer do
palco, beijar fãs, dar autógrafos (sim, isso aconteceu) e se enrolar com a
bandeira brasileira. Se musicalmente a proposta não diz nada e é completamente
esquecível – para ser bem condescendente -, Lana Del Rey agregou muito com o
que os seus fãs proporcionaram, criando um clima absolutamente desejável para
um festival.
Enquanto os fãs ainda se
esgoelavam no palco principal, Beck Hansen começava o show que fecharia o palco
secundário. Com uma banda enxuta e uma aposta em um som mais orgânico, com
baixo, guitarra e bateria se destacando, o geniozinho engatou logo seus dois
maiores hits (“Devil’s Haircut” e “Loser”) entre as três primeiras canções da
apresentação, o que deixou todos apreensivos em como ele se comportaria a
seguir. E de maneira surpreendente até, pode-se afirmar isso sem medo, Beck fez
o melhor show do festival se conseguirmos retirar da exibição do Blur toda a
carga emocional que lhe envolveu.
Se redimindo do fraco show no Rock
In Rio de 2001, Beck dessa vez teve um desempenho poderoso do início ao fim, muito
disposto e sem nunca deixar cair o nível. O som resplandecia na mesma
intensidade das caixas sonoras. E entre as covers de “Tainted Love”, consagrada
pelo Soft Cell (que rendeu o espirituoso comentário “não sabia que essa era
dele” de alguém ao meu lado) e “Billie Jean” do Michael Jackson, presenteou a
quem assistia com versões estupendas de canções como “Hotwax”, “The Golden
Age”, “Lost Couse” e “Where It’s At” que encerrou a exibição cravando um ar de
incredulidade no rosto do público.
Com uns 5 minutos de atraso, o
Blur subia para fechar o festival com a tarefa de fazer um espetáculo realmente
inesquecível como todos esperavam. Com tudo conspirando a seu favor, bastava
que a banda estivesse realmente em um bom dia para que as coisas funcionassem. E
assim aconteceu. Do começo com “Girls & Boys” ao encerramento com “Song 2”,
os ingleses não vacilaram em momento algum. O público envolveu-se de tal modo
com a exibição que as conversas paralelas, as fotos e as filmagens contínuas,
deram um tempo e de modo raro nos nossos dias não perturbaram ou tiraram o foco
do que realmente interessa.
O convite para explodir de
“Parklife” (com o ator Phil Daniels nos vocais) foi difícil de não ser aceito,
assim como era complicado resistir a cantar “To The End”, “End Of Century” e
“The Universal”, ou entoar o coro em “For Tomorrow” ou “Tender”, esta segunda
podendo ser classificada sem medo como o grande momento do festival. O Blur não
levou em conta as desaforadas camisas do Oasis que circulavam pelo espaço e saiu
de São Paulo com a tarefa plenamente cumprida de proporcionar momentos
memoráveis, e, assim como o Beck, cunhou a revanche em um show potente na
segunda passagem pelo país.
Assim, entre o sol, as fãs da
Lana Del Rey, as canções do Travis, a energia do Beck e a emoção do Blur, o
Planeta Terra encerrou mais uma edição comprovando ainda ser o melhor festival
existente no Brasil. Contudo, ainda não foi dessa vez que veio com a perfeição
que pede-se (com absoluta coerência e razão), visto o investimento envolvido e a
necessária relação de respeito com o consumidor, mesmo que esses pontos
negativos tenham surgido, como já escrito acima, em uma escala menor e isso já
é alguma coisa para ser ressaltada.
No final, na saída do Campo de
Marte após a apresentação do Blur, muitos pareciam realmente ter endossado o
nome do local e aparentavam ter acabado de aterrissar de uma viagem para outro
planeta regada a abraços, lágrimas, pulos, sorrisos e pulmões gastos pelo uso
demasiado e sem contenções.
P.S: Fica difícil e até sem sentido engatar um Top 5 do
Festival, devido a quantidade de apresentações. Seria óbvio demais. Então fica
abaixo um Top Top (em ordem de preferência) das melhores canções dessa edição,
uma coletânea a ser montada posteriormente:
1 – “Tender” – Blur
2 – “Billie Jean” – Beck
3 – “Side” – Travis
4 – “The Universal” – Blur
5 – “Devil’s Haircut” – Beck
6 – “Lost Cause” – Beck
7 – “Song 2” – Blur
8 – “Parklife” - Blur
9 – “Trem Azul” – O Terno
10 – “(Funk) Até o Caroço” – B Negão
e os Seletores de Frequência
Todos as fotos foram retiradas do
site oficial do evento, aqui.
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