quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Arthur Nogueira e Jards Macalé - VIII Festival Se Rasgum - Belém(PA) - 12.11.2013


A 8ª edição do Festival Se Rasgum em Belém chega novamente com uma proposta diferente do ano anterior. Agora, a programação musical é mais espaçada e perdura por cinco dias em três espaços diferentes, tendo pelo meio um dia gratuito e outro em um teatro. Isso sem falar das habituais oficinas de profissionalização e neste ano uma mostra de cinema, harmonizando a cultura em geral mais um pouco na proposta original.

Na abertura musical do festival, a escolha ficou com o Teatro Estação Gasômetro tendo como atrações o paraense Arthur Nogueira (atualmente morando no eixo Rio-São Paulo) e um senhor de 70 anos chamado Jards Macalé. Começando às 20:35, Arthur subiu ao palco junto com o antigo parceiro Renato Torres (da banda Clepsidra e outros projetos) e abriu com um trecho do livro “Moby Dick” de Herman Melville, lido pelo amigo e poeta Antônio Cícero no som. Aliás, uma das marcas do trabalho do músico é justamente essa união entre música e poesia.

Em um show enxuto, o músico paraense cantou muito bem como de costume e apresentou boas versões do seu trabalho em faixas como “Gratuito”, assim como na releitura de “Cara” da Marina Lima, ambas constantes no álbum “Mundano” de 2009 (que você encontra gratuitamente para download aqui: http://www.amusicoteca.com.br/?p=1309). Após uns 40 minutos o show terminava de maneira elegante e abria caminho para vermos o que Jards Macalé aprontaria no palco.

Munido apenas de um violão, o carioca, ícone da música popular brasileira mas que sempre trafegou mais pelo lado do grupo dos “malditos” (é altamente recomendável assistir ao documentário “Jards” sobre a vida do músico), ofereceu ao público todas as canções mais poderosas da carreira, tais como “Farinha do Desprezo”, “Mal Secreto”, “Vapor Barato”, “Gotham City” e “Negra Melodia”. Todas com roupagens extremamente diferentes e experimentais, o que fazia o público não conseguir acompanhar a maioria ao (tentar) cantar junto.

Entre a ironia e o escracho, a alegria e a rabugice, Jards Macalé parecia multiplicar o violão que amparava nos braços e promovia uma apresentação singular e repleta de intensidade e vigor. Fazendo o público rir, contando um caso aqui e outro ali, o músico entregava não somente um repertório brilhante, como também fugia da obviedade dos corinhos e palmas. Quando isso acontecia era travestido, recortado e provocado pelo próprio artista que pediu que lhe dessem vaias depois de “Gotham City” para lembrar-se do IV Festival Internacional da Canção em 1969.

Histórias como a de que Wally Salomão se arrependeu dos versos “eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus” contidos em “Vapor Barato”, ou da relação com as divas da Mpb Gal Costa e Maria Bethânia, afirmando depois que havia prometido não “falar mais mal dos coleguinhas”, acertavam em cheio o público, enquanto por outro lado expurgava canções de Carl Perkins, Noel Rosa, Wilson Baptista (uma música que achou na internet, definindo a rede mundial de computadores como “coisa foda”), Dominguinhos e Luiz Gonzaga.

No final do show ainda chamou Arthur Nogueira para cantar uma virtuosa interpretação de “Último Desejo” de Noel Rosa, para depois engatar sozinho uma ensandecida “Let’s Play That” e fechar com “Juízo Final” do Nelson Cavaquinho, já clássica nos seus shows. Em uma hora e vinte minutos, Jards Macalé bagunçou com o violão, entortou suas músicas, foi engraçado ao seu estilo e o mais importante, passou longe de fazer uma exibição monótona, muito pelo contrário. Inquieto e endiabrado, abriu o festival com chave de ouro.

Nada mal para uma terça-feira.


P.S: Só para dizer que nem tudo foram flores, o telão ao fundo das apresentações causou incômodo ao expor a bacanuda arte do festival desse ano em efeitos visuais dignos de proteção de tela do Windows em alguns momentos. O que não combinava em nada com o que estava sendo tocado. A logo poderia ter ficado só parada. Às vezes, menos é mais, mas isso é ser rabugento e eu não tenho nem o charme e nem o talento de um Jards Macalé para tanto.



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