Dizem que a felicidade não cai
bem para um músico. Principalmente quando o seu modo de trabalho quase sempre
resulta em canções melódicas, com direito a algumas baladas que fazem beleza e
melancolia andarem juntas como irmãs unidas e inseparáveis. Assim, os melhores
trabalhos são gerados naqueles anos de incertezas, dúvidas e frustrações.
Naqueles anos onde uma parte da vida, seja ela qual for, não se comportou como
você achava que deveria. Naqueles anos onde a música era antes de tudo um
antídoto contra tudo isso.
Teve muito disso na vida de Josh
Rouse, o que o ajudou a construir algumas canções realmente atraentes nesse
período. No entanto, há algum tempo ele está de bem com a vida, praticamente desde
que optou em mudar para a Espanha e iniciou um novo romance com a também
artista Paz Suay. Depois de expressar esse contentamento em álbuns nem tão bons
assim como o túrbido “El Turista” de 2010 e o mediano ““Josh Rouse and The Long
Vacations” de 2011, chegou a hora de contrapor a afirmativa do primeiro
parágrafo e lançar outro grande trabalho.
“The Happiness Waltz” reflete bem esses dias de paz e de
serenidade. No décimo registro de estúdio, Josh Rouse esquece os batuques e
percussões e parte para aquilo que sabe fazer de melhor, que é compor canções
com melodias apuradas, daquelas que grudam na mente. O olhar retorna para os
anos 60 e 70, para o folk, para o blue-eyed soul e para o alt-country. Já quarentão, ele opta por evocar os timbres
dos seus melhores registros como “1972” de 2003, Nashville de “2005” e
“Subtítulo” de 2006.
Não por acaso a produção do novo
álbum ficou sob a responsabilidade do velho comparsa Brad Jones, figura presente
nos trabalhos colocados acima. Lançado em março, tem distribuição pela Yep Roc
Records, foi gravado no Rouse’s Rio Bravo em Valência e conta com os parceiros
das últimas empreitadas Xema Fuertes (banjo, guitarra, piano e vibrafone) e
Cayo Bellveser (baixo, órgão), assim como Jim Hoke (flautas e sax), Raul
Fernandez (piano) e Esteban Perles (bateria). A esposa Paz Suay ficou responsável
pelo design e concepção visual.
São 12 faixas do melhor Josh
Rouse que podemos desejar. Da súplica para o retorno da amada e a busca por
coisas simples de “Simple Pleasures” até a ensolarada “A Lot Like Magic”, onde
sem medo de soar piegas demais afirma que deve-se viver cada dia como se fosse
o último. Da singela saudade de “City People, City Things”, até a saudade que também
é tema de “The Western Isles”, mas não como um sentimento arrasador e mais como
boas lembranças voltando a aparecer na cabeça.
“It’s Good To Have You” apresenta
um homem apaixonado pela mulher e achando prazer nas coisas cotidianas, mesma
impressão de “Start Up Of Family” que versa sobre momentos ruins e a hora certa
de montar uma família. “Purple And Beige”, mais leve, fala novamente sobre
estar bem, se sentir bem, assim como “This Movies”. Bem-estar que fecha com
força total na quase natalina faixa título que encerra o álbum falando de
cartões postais, primaveras, sorrisos e calmaria.
“The Happiness Waltz” exibe novos parceiros de composições e
arranjos e equilibra felicidade e saudade (de casa quando sai para shows ou da
velha pátria) em uma balança que não pende necessariamente para nenhum dos
lados. O resultado é um disco sedutor que só depois de algum tempo percebe-se
que foi esquecido no player e já está tocando direto. Certa vez o filósofo
francês Émile-Auguste Chartier escreveu que “a felicidade não é fruto da paz, é
a própria paz”, e é com suavidade e com essa frase no bolso que Josh Rose
parece caminhar atualmente.
Nota: 9,0
Site oficial: http://www.joshrouse.com
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Twitter: http://twitter.com/Bedroomclassics
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Assista ao clipe de “Julie (Come Out Of The
Rain)”:
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