sábado, 31 de agosto de 2013

Séries - "Vikings"

A busca pelo novo. Por novos lugares, novas cidades, novas oportunidades, novos mares. Quantos e quantos povos não se definiram por isso ou tiveram isso como a peça motivadora para a expansão de seus reinos na idade antiga ou para a própria consolidação de seus países na idade moderna. O History Channel, com a destreza técnica que lhe é peculiar, resolveu escolher um desses povos para servir de base para a primeira série que coloca no mercado televisivo. “Vikings” estreou lá fora em meados de março e chegou aqui no país no começo de agosto.

Com exibição nacional pelo canal NetGeo, “Vikings” tem início por volta do ano de 790 D.C e tem como personagem principal o fazendeiro, guerreiro e saqueador Ragnar Lothbrok (Travis Fimmel da série “The Beast”). A região da Escandinávia, terra abrigada por nações como Suécia, Noruega e Dinamarca, serve como palco para a ambientação histórica, sendo que a série se baseia mais nos avanços e marchas do último país citado. Já com a segunda temporada garantida devido ao sucesso de público nos EUA, a produção transita entre bons momentos e outros nem tanto assim.

Do lado positivo temos a caracterização da época nas vestimentas e lugares, assim como na ideologia, mesmo que esta às vezes tente amenizar algumas atenuantes mais pesadas. A parte da ação também convence, assim como o alicerce que norteia tudo que é a citada busca pelo novo, traduzida na ideia fixa de Ragnar navegar por novos mares e saquear outros lugares. Uma busca pela terra prometida, por assim dizer. Há de se louvar também a boa carga religiosa contrapondo os deuses nórdicos (Odin, Thor, Loki e cia.) e a religião católica, por exemplo. Uma boa visão de como essa parte do mundo pensava e agia.

Porém, no meio da briga de Ragnar contra o todo poderoso Earl Haraldson (Gabriel Byrne de “Os Suspeitos”) para conseguir navegar por outras águas, uma parte incomoda um pouco. Tentando dar um tom mais novelesco e criar tramas para atrair a atenção do público em geral, o roteiro romantiza demais em determinados momentos e retira o foco dos avanços e dramas de conquista para relações chatas e pesarosas. O mesmo erro que o canal já havia cometido com a minissérie “Hatfields & McCoys” (já exibida aqui, mas que continua passando vez ou outra).

Por conta disso, “Vikings” sempre que parece que vai deslanchar acaba caindo de nível e não cumpre tudo aquilo que promete por esse fragilizado desvio de foco. Idealizada por Michael Hirst, também criador de séries como “The Tudors” e “Camelot” e roteirista de filmes como “Elizabeth” de 1999 e “Elizabeth: A Era de Ouro” de 2007, essa romantização já era esperada para quem conhece as produções citadas acima, porém a dose que aqui é aplicada vai mais além e acaba diminuindo bem o resultado final.

Nota: 6,5

Mais informações no site do canal NatGeo: http://www.natgeo.com.br/br/especiais/vikings


Assista a um trailer legendado:

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

“The Happiness Waltz” - Josh Rouse - 2013

Dizem que a felicidade não cai bem para um músico. Principalmente quando o seu modo de trabalho quase sempre resulta em canções melódicas, com direito a algumas baladas que fazem beleza e melancolia andarem juntas como irmãs unidas e inseparáveis. Assim, os melhores trabalhos são gerados naqueles anos de incertezas, dúvidas e frustrações. Naqueles anos onde uma parte da vida, seja ela qual for, não se comportou como você achava que deveria. Naqueles anos onde a música era antes de tudo um antídoto contra tudo isso.

Teve muito disso na vida de Josh Rouse, o que o ajudou a construir algumas canções realmente atraentes nesse período. No entanto, há algum tempo ele está de bem com a vida, praticamente desde que optou em mudar para a Espanha e iniciou um novo romance com a também artista Paz Suay. Depois de expressar esse contentamento em álbuns nem tão bons assim como o túrbido “El Turista” de 2010 e o mediano ““Josh Rouse and The Long Vacations” de 2011, chegou a hora de contrapor a afirmativa do primeiro parágrafo e lançar outro grande trabalho.

“The Happiness Waltz” reflete bem esses dias de paz e de serenidade. No décimo registro de estúdio, Josh Rouse esquece os batuques e percussões e parte para aquilo que sabe fazer de melhor, que é compor canções com melodias apuradas, daquelas que grudam na mente. O olhar retorna para os anos 60 e 70, para o folk, para o blue-eyed soul e para o alt-country.  Já quarentão, ele opta por evocar os timbres dos seus melhores registros como “1972” de 2003, Nashville de “2005” e “Subtítulo” de 2006.

Não por acaso a produção do novo álbum ficou sob a responsabilidade do velho comparsa Brad Jones, figura presente nos trabalhos colocados acima. Lançado em março, tem distribuição pela Yep Roc Records, foi gravado no Rouse’s Rio Bravo em Valência e conta com os parceiros das últimas empreitadas Xema Fuertes (banjo, guitarra, piano e vibrafone) e Cayo Bellveser (baixo, órgão), assim como Jim Hoke (flautas e sax), Raul Fernandez (piano) e Esteban Perles (bateria). A esposa Paz Suay ficou responsável pelo design e concepção visual.

São 12 faixas do melhor Josh Rouse que podemos desejar. Da súplica para o retorno da amada e a busca por coisas simples de “Simple Pleasures” até a ensolarada “A Lot Like Magic”, onde sem medo de soar piegas demais afirma que deve-se viver cada dia como se fosse o último. Da singela saudade de “City People, City Things”, até a saudade que também é tema de “The Western Isles”, mas não como um sentimento arrasador e mais como boas lembranças voltando a aparecer na cabeça.  

“It’s Good To Have You” apresenta um homem apaixonado pela mulher e achando prazer nas coisas cotidianas, mesma impressão de “Start Up Of Family” que versa sobre momentos ruins e a hora certa de montar uma família. “Purple And Beige”, mais leve, fala novamente sobre estar bem, se sentir bem, assim como “This Movies”. Bem-estar que fecha com força total na quase natalina faixa título que encerra o álbum falando de cartões postais, primaveras, sorrisos e calmaria.

“The Happiness Waltz” exibe novos parceiros de composições e arranjos e equilibra felicidade e saudade (de casa quando sai para shows ou da velha pátria) em uma balança que não pende necessariamente para nenhum dos lados. O resultado é um disco sedutor que só depois de algum tempo percebe-se que foi esquecido no player e já está tocando direto. Certa vez o filósofo francês Émile-Auguste Chartier escreveu que “a felicidade não é fruto da paz, é a própria paz”, e é com suavidade e com essa frase no bolso que Josh Rose parece caminhar atualmente.

Nota: 9,0

Site oficial: http://www.joshrouse.com

Textos relacionados no blog:
- Música: “Josh Rouse and The Long Vacations” (2011) – Josh Rouse and The Long Vacations
- Música: “El Turista” (2010) – Josh Rouse
- Música: “Country Mouse, City House” (2007) – Josh Rouse

Assista ao clipe de “Julie (Come Out Of The Rain)”:


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

"Inferno" - Dan Brown

Florença e Veneza. Duas cidades italianas em que a arte pulsa em diversas formas a cada esquina, cidades que são os berços principais da renascença italiana entre os séculos XV e XVI. Some-se a isso uma história onde um herói improvável acaba no meio de uma trama envolvendo uma corporação imensa e um louco de plantão que visam soltar uma catástrofe na sociedade que nós conhecemos. Coloque também uma bela mulher, algumas informações classudas sobre pintura, literatura e arquitetura e logo teremos um livro interessante, correto? Não, não está correto.

Ler “Inferno”, o novo romance de Dan Brown com o professor Robert Langdon como protagonista é uma aventura para pessoas extremamente corajosas, para aqueles com estômago forte para consumir qualquer tipo de petisco, independente da sua qualidade e gosto. Depois do fraquíssimo “O Símbolo Perdido” que sucedeu o bom “Anjos e Demônios” e o razoável (porém de estrondoso sucesso comercial) “O Código Da Vinci”, o autor consegue piorar o que já era ruim. A ladeira que “O Símbolo Perdido” se prestava a descer ganha mais alguns quilômetros para que “Inferno” siga adiante.

Com 448 páginas, tradução conjunta de Fabiano Morais e Fernanda Abreu e lançamento pela Editora Arqueiro (um braço da Editora Sextante), “Inferno” coloca o professor Langdon nas cidades referidas acima e se estende por outras como Istambul. Com amnésia parcial, esse híbrido de aventureiro, detetive e renomado catedrático, busca solucionar mais um grave problema provocado por um gênio da genética, que assustado com os rumos do planeta devido ao aumento da população mundial, acaba por se vestir com as roupas de salvador da pátria e aciona uma radical solução para a questão.

Dan Brown apresenta Robert Langdon novamente com a sua claustrofobia, relógio do Mickey Mouse no pulso (perdido aqui) e paixão pelas artes e símbolos antigos. Ao seu lado coloca outra bela mulher (desta vez a médica Siena Brooks) e assim entra no redemoinho de informações culturais, viradas de cenários e descobertas que beiram o impossível. Tudo isso embalado com o clássico livro “A Divina Comédia” de Dante Alighieri (que se pudesse ressuscitar com certeza daria uns petelecos na cabeça do autor) como guia para que as pistas apareçam uma a uma e ajudem a destravar o cenário proposto.

Mesmo usando duas cidades repletas de história como suporte principal, além das inúmeras informações sobre quadros, prédios e livros, “Inferno” não agrada em nenhum momento e mostra esgotamento e cansaço da temática. A tentativa de ganhar conotações mais sérias e fazer o leitor “pensar” sobre a questão da superpopulação mundial é risível e carente de argumentos novos. Esse ciclo de repetição que agrada em outros livros que ostentam um personagem constante não funciona nesse caso, pois Robert Langdon não tem tanto charme e carisma assim. E muito menos as palavras do seu criador.

P.S: Inferno é escapar dos trocadilhos óbvios com o nome. J

Nota: 2,5

Leia um trecho disponibilizado pela Editora Arqueiro, aqui.

Textos relacionados no blog:

- Literatura: “O Símbolo Perdido” – Dan Brown