Tony Bellotto é um cara
talentoso. Não há como se negar isso. Seja junto com os Titãs na produtiva
primeira parte da carreira - que durou até o álbum “Domingo” de 1995 - ou em
boa parte da vida de escritor iniciada com “Bellini e A Esfinge”, também do
mesmo ano de 1995. Pode-se até afirmar que uma atuação profissional substituiu
a outra, se formos analisar mais severamente. E enquanto a carreira da banda
murcha sofrivelmente, a de escritor ia, na verdade, ganhando mais corpo.
Ia, isso mesmo, ia. O novo livro
intitulado “Machu Picchu” joga
contra essa evolução que ficou mais clara em “No Buraco” de 2010, que
apresentava um Bellotto mais leve e divertido na narrativa, usando os recursos
da literatura pop das últimas décadas misturado com reminiscências da própria
vida, onde causos interessantes não faltaram. Essa temática pode ser estendida
ao novo livro, mas com a mudança do foco principal para uma família normal do
Rio de Janeiro nos dias atuais.
No livro somos apresentados ao
casal Zé Roberto e Chica, que se conheceram durante os eventos da Eco-92 (para
saber mais, clique aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/ECO-92)
e daí partiram para um duradouro casamento que completa 18 anos no dia em que o
livro se desenvolve. Nesse dia, a cidade do Rio de Janeiro presencia um
engarrafamento descomunal e os dois ficam presos separadamente no trânsito,
onde aproveitam para passar a limpo o status da vida naquele exato momento.
Acomodação, insatisfação e
arrependimentos são as molas propulsoras para esses pensamentos em meio a
imensidão de carros parados. É quando vemos que o casamento de Zé e Chica já
não anda tão bem das pernas, e a traição dupla é apenas o ponto principal
disso. No meio dessa crise ainda ocultada pelo “bem maior”, Bellotto adiciona
dois filhos, uma enteada, dois amantes e mais uma ex-mulher. E assim cria uma
sitcom para contar de maneira divertida os dramas e agruras que expõe.
Nesse sétimo romance (e oitavo
livro a ser publicado), Tony Bellotto não consegue agradar. Além da trama
estereotipada, com um lado bonachão que não fisga o leitor, tem um sério
problema na obrigação de soar pop, usando referências mil da cultura em geral.
Rapidamente dá para contar mais de setenta em um livro curtinho, de apenas 120
páginas. De Dead Kennedys a Zé do Caixão. De Agepê a Henry Miller. Um uso
demasiado que ao invés de satisfazer, só consegue incomodar e atrapalhar.
“Machu Picchu” tem novamente como casa a Companhia das Letras e significa
para a carreira de escritor de Tony Bellotto exatamente o que o álbum “Sacos
Plásticos” significou para os Titãs. Absolutamente nada.
Nota: 4,5
Twitter do autor: http://twitter.com/BellottoTony
Blog do autor: http://veja.abril.com.br/blog/cenas-urbanas
Textos relacionados no blog:
- Literatura: “No Buraco” – Tony Bellotto.
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