A poliomielite, ou paralisia
infantil, é uma doença contagiosa causada por um vírus que infecta principalmente
as crianças, mas também pode chegar a adultos. Transmitido por via fecal-oral,
a multiplicação do vírus começa na garganta e nos intestinos e dali alcança a
corrente sanguínea e até mesmo o cérebro. Com a invenção de uma vacina e a
maior utilização a partir dos anos 70/80, a doença hoje praticamente não existe
mais em países desenvolvidos, mas infelizmente continua fazendo vítimas em
países pobres dos continentes africanos e asiáticos.
O norte-americano Mark O’Brien foi
um dos que sofreram com a doença, contraída por ele aos 6 anos de idade durante
o ano de 1955 e que o deixou paralisado do pescoço para baixo. A sua vida já
virou filme em 1996 quando o documentário “Breathing Lessons: The Life and Work
of Mark O’Brien” de Jessica Yu ganhou o Oscar da categoria em curta-metragem.
Mesmo assim, o diretor Ben Lewin resolveu novamente levar a vida do jornalista
e poeta falecido em julho de 1999 para as telonas, agora em formato de um longa
com 98 minutos de duração.
O diretor de “O Favor, O Relógio
e o Peixe Muito Grande” de 1991, também sofreu com a poliomielite, mas teve
danos bem menores. O filme “As Sessões”
que estreou esse ano no Brasil foca no final dos anos 80, quando por conta de
algumas circunstâncias, Mark O’Brien começou a utilizar uma terapia envolvendo
o descobrimento e desempenho sexual, que resultou em um artigo chamado “Se Consultando
Com Uma Substituta”. Esse artigo foi a base para o roteiro também escrito por Ben
Lewin, o que colabora e muito para o resultado final.
No ponto em que o filme começa a
se desenvolver, seu personagem está com 38 anos e, por razões claras, ainda é
virgem e nunca nem foi masturbado. Vive praticamente dentro de um respirador,
um pulmão de ferro, uma máquina que o ajuda a sobreviver e onde trabalha e
dorme, sendo que só pode ficar fora por volta de três a quatro horas. Católico
devotado, mas dotado de um senso de humor agudo e afiado, Mark O’Brien parte
para essa jornada com o medo dominando a mente e a desconfiança das suas
capacidades pesando sobre os ombros.
John Hawkes (o Teardrop de “Inverno
da Alma”) é quem interpreta o papel principal e faz isso com uma desenvoltura impressionante.
No papel do padre que serve de amigo e confessionário está William H. Macy (“Fargo”),
com sua habitual qualidade. Como a terapeuta sexual temos Helen Hunt (“Melhor É
Impossível”) em uma atuação tão a vontade e tão categórica que lhe valeu uma
indicação para o Oscar desse ano como melhor atriz coadjuvante. Indicação, que
também cairia muito bem nas mãos de John Hawkes, diga-se de passagem.
“As Sessões” têm como grande mérito as atuações do trio de
personagens principais, contudo agrada também pelo tom com que a direção conduz
os bons diálogos e pela ausência de dramas baratos e apelativos que poderiam ser
tão facilmente utilizados nesse caso. O heroísmo de levar uma vida nas
condições a que está sujeito e ainda ser produtivo, não é o foco principal do
filme, mas sim a busca em conseguir um pouco de prazer onde antes só existia humilhação
e vergonha e assim fazer parte de um universo comum a tantos.
Nota: 8,0
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Assista a um trailer legendado:
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