Ao buscar por uma definição de
sofisticação no dicionário depara-se com termos como complexidade, bom gosto,
requinte, excesso de sutileza. Essa definição também poderia apresentar outras
correspondências indiretas, como a música de Donald Fagen, nascido em 10 de
janeiro de 1948 em Nova Jersey nos Estados Unidos e que desde o começo dos anos
70 esbanja essas qualidades enquanto elabora com calma e esmero as suas
canções.
Desde o início da década de 70 sendo
uma das partes do Steely Dan (a outra é Walter Becker), Donald Fagen esteve
envolvido no processo de criação de primorosas joias como os álbuns “Aja” de
1977 e “Gaucho” de 1980. Em 1982 optou por se aventurar em carreira solo e
lançou “The Nightfly”. Posteriormente vieram mais dois discos (“Kamakiriad” de
1998 e “Morph, The Cat” de 2006), que receberam pelo próprio músico a alcunha
de “Nightfly Trilogy”.
Ano passado, Donald Fagen rompeu
o silêncio de seis anos e a seu modo reapareceu com um novo trabalho. “Sunken Condos” teve lançamento pela
Reprise Records e expõe em 9 faixas, a mistura que o músico sabe tão bem fazer
com o cuidado e refinamento já conhecidos. A união de rock, jazz, blues, soul,
funk, R&B e pop está azeitada como de costume e apesar de não apresentar
nada de propriamente novo no horizonte, seduz e atrai totalmente o ouvinte.
O registro abre com “Slinky Thing”,
um groove estiloso destacando um belo solo de guitarra. Depois é a vez de “I'm
Not The Same Without You”, um pop dançante, com ecos dos anos 80 e bem funkeado.
Na sequência aparece “Memorabilia”, uma canção tão perfeita que artistas como
Jay Kay do Jamiroquai dariam um dedo para fazer algo parecido. Já “Weather In
My Head” é um blues leve, mas bem encardido nas guitarras nos mais de 5 minutos
de duração.
“Sunken Condos” ainda tem mais variações sobre a mesma base, como o
clima soft com levada jazz ao fundo e metais se alternando de “The New Breed”, além
da inusitada (e competente) versão de “Out Of The Ghetto” do Isaac Hayes e a
balada com guitarra bluesy e leves toques de soul music de “Miss Marlene”. O
som mais funkeado e dançante volta a aparecer em “Good Stuff”, a penúltima
faixa, e o álbum termina com o soul charmoso de “Planet D'Rhonda”.
Tocando teclados, piano e órgão,
e apresentando uma habilidade vocal ainda de alto nível apesar da idade, Donald
Fagen conta com a ajuda de velhos conhecidos como o produtor Michael Leonhart,
o guitarrista e baixista Jon Herigton, o baterista Earl Cooke Jr. e o saxofonista
e flautista Charlie Pillow. Merecem igual reconhecimento, os backing vocais
coordenados na maioria das faixas pelo trio Catherine Russell, Cindy Mizelle e
Jamie Leonhart.
Uma das críticas que se podem
direcionar a “Sunken Condos” vai ao
encontro da sua maior qualidade, que é justamente manifestar a mesma antiga sonoridade
do seu criador. Porém, em determinados casos (e aqui é um deles) não inovar se
torna o maior mérito. Com bem escreveu o crítico Martin Aston da BBC, criticar
Donald Fagen por fazer novamente o mesmo registro é como criticar Van Gogh por
seus repetidos autorretratos. É mais ou menos por aí.
Nota: 9,0
Site oficial: http://donaldfagen.com
Assista a uma apresentação ao vivo
de “Weather In My Head”:
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