Ver a vida mudar radicalmente e
não se lembrar dos motivos e ações que fizeram isso acontecer. Complicado, né? Pois
é, bota complicado nisso. É nesta situação que Pat Peoples, o personagem
principal do livro “O Lado Bom da Vida”
se encontra. Depois de um tempo internado em um hospital psiquiátrico, ele retorna
ao cotidiano para com 30 e poucos anos morar novamente com os pais e tocar a
vida sem a sua esposa Nikki e sem o emprego de professor de história.
“O Lado Bom da Vida” (“The Silver Linings Playbook”, no original) foi
escrito pelo norte-americano Matthew Quick. Lançado nos EUA em 2008, tem a
primeira edição no país agora em 2013 através da Editora Intrínseca. Com 256
páginas e tradução de Alexandre Raposo, a obra se transformou em um filme de
sucesso pelas mãos do diretor David O. Russell (de “O Vencedor”), com Bradley
Cooper, Jennifer Lawrence e Robert De Niro, e concorrerá a 8 estatuetas no
Oscar desse ano.
É claro que o livro de estreia de
Matthew Quick (outros três já foram publicados, mas permanecem inéditos no
Brasil) chega na esteira da adaptação cinematográfica, mas nem por isso deixa
de ser bem-vindo. De escrita fácil e usando referências da música, literatura,
cinema e esportes, “O Lado Bom da Vida”
é um trabalho que passa de maneira suave, porém sem ser ausente, por temas
espinhosos como perda, raiva, doenças, violência e culpa, sem deixar de
divertir o leitor.
Depois de passar alguns anos internado
e imaginar que são apenas alguns meses, Pat Peoples sofre para se reajustar ao
mundo. Uma das maneiras que encontra para suportar essa nova vida reside na
extrema carga de exercícios físicos que se habituou a cumprir, o que resulta em
um corpo completamente diferente daquele que ostentava outrora. Além disso,
conta com o amor incondicional da mãe e a paixão pelo tradicional time de futebol
americano do Philadelphia Eagles.
O Philadelphia Eagles, aliás, é
um coadjuvante fundamental para que a trama se desenvolva e produza ótimas
passagens. O time do estado da Pensilvânia faz parte da divisão leste, a mais
valiosa da NFC (National Football Conference), que é uma das metades da NFL.
Com uma torcida apaixonada serve para conduzir Pat de volta a um estado de
normalidade, apesar da tristeza que lhe aflige por não lembrar da segunda ida
ao Superbowl em 2004 e a construção de um novo estádio em 2003.
É bom ressaltar que o livro se
passa nos anos de 2006 e 2007, logo nesse período citado acima o personagem
ainda estava no “lugar ruim”, como ele se refere ao hospital. Esse retorno a
sociedade, por assim dizer, esbarra na complexa relação com o pai, que é de
poucas palavras e de difícil convivência e nas lembranças que vão surgindo
pouco a pouco e fazendo o passado doer com muita potência, por mais que o
simpático e carinhoso psiquiatra Cliff Patel, tente amenizá-las.
Pat Peoples tem um medo tremendo correndo
nas veias, um medo de sair do lugar imaginário que criou e se apega com tanto
afinco e dedicação. É quando Tiffany entra na sua vida, uma cunhada do melhor amigo
que passou por uma situação tão difícil quanto a dele. De maneira silenciosa e
repleta de passagens incomuns, para não dizer estranhas, Matthew Quick realmente
forma nesse ponto a dupla de personagens que de modo desajeitado se apoiará
mutuamente.
“O Lado Bom Da Vida” usa diversas fontes para criar uma gangorra
delirante de emoções. Indo da canção “Songbird” de Kenny G ao livro “Adeus Às
Armas” de Ernest Hemingway ou de “Gonna Fly Now” (tema do filme “Rocky”) ao
livro “A Redoma de Vidro” de Sylvia Plath, tudo serve para este fim. E Matthew
Quick conduz essa peça de amor e dor com desenvoltura e capricho, utilizando a
dualidade do seu personagem principal como fonte para um emocionante livro.
Nota: 8,0
Site oficial: http://matthewquickwriter.com
Leia uma entrevista com o autor,
aqui.
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