segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"O Lado Bom Da Vida" - Matthew Quick


Ver a vida mudar radicalmente e não se lembrar dos motivos e ações que fizeram isso acontecer. Complicado, né? Pois é, bota complicado nisso. É nesta situação que Pat Peoples, o personagem principal do livro “O Lado Bom da Vida” se encontra. Depois de um tempo internado em um hospital psiquiátrico, ele retorna ao cotidiano para com 30 e poucos anos morar novamente com os pais e tocar a vida sem a sua esposa Nikki e sem o emprego de professor de história.

“O Lado Bom da Vida” (“The Silver Linings Playbook”, no original) foi escrito pelo norte-americano Matthew Quick. Lançado nos EUA em 2008, tem a primeira edição no país agora em 2013 através da Editora Intrínseca. Com 256 páginas e tradução de Alexandre Raposo, a obra se transformou em um filme de sucesso pelas mãos do diretor David O. Russell (de “O Vencedor”), com Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert De Niro, e concorrerá a 8 estatuetas no Oscar desse ano.

É claro que o livro de estreia de Matthew Quick (outros três já foram publicados, mas permanecem inéditos no Brasil) chega na esteira da adaptação cinematográfica, mas nem por isso deixa de ser bem-vindo. De escrita fácil e usando referências da música, literatura, cinema e esportes, “O Lado Bom da Vida” é um trabalho que passa de maneira suave, porém sem ser ausente, por temas espinhosos como perda, raiva, doenças, violência e culpa, sem deixar de divertir o leitor.

Depois de passar alguns anos internado e imaginar que são apenas alguns meses, Pat Peoples sofre para se reajustar ao mundo. Uma das maneiras que encontra para suportar essa nova vida reside na extrema carga de exercícios físicos que se habituou a cumprir, o que resulta em um corpo completamente diferente daquele que ostentava outrora. Além disso, conta com o amor incondicional da mãe e a paixão pelo tradicional time de futebol americano do Philadelphia Eagles.

O Philadelphia Eagles, aliás, é um coadjuvante fundamental para que a trama se desenvolva e produza ótimas passagens. O time do estado da Pensilvânia faz parte da divisão leste, a mais valiosa da NFC (National Football Conference), que é uma das metades da NFL. Com uma torcida apaixonada serve para conduzir Pat de volta a um estado de normalidade, apesar da tristeza que lhe aflige por não lembrar da segunda ida ao Superbowl em 2004 e a construção de um novo estádio em 2003.

É bom ressaltar que o livro se passa nos anos de 2006 e 2007, logo nesse período citado acima o personagem ainda estava no “lugar ruim”, como ele se refere ao hospital. Esse retorno a sociedade, por assim dizer, esbarra na complexa relação com o pai, que é de poucas palavras e de difícil convivência e nas lembranças que vão surgindo pouco a pouco e fazendo o passado doer com muita potência, por mais que o simpático e carinhoso psiquiatra Cliff Patel, tente amenizá-las.

Pat Peoples tem um medo tremendo correndo nas veias, um medo de sair do lugar imaginário que criou e se apega com tanto afinco e dedicação. É quando Tiffany entra na sua vida, uma cunhada do melhor amigo que passou por uma situação tão difícil quanto a dele. De maneira silenciosa e repleta de passagens incomuns, para não dizer estranhas, Matthew Quick realmente forma nesse ponto a dupla de personagens que de modo desajeitado se apoiará mutuamente.

“O Lado Bom Da Vida” usa diversas fontes para criar uma gangorra delirante de emoções. Indo da canção “Songbird” de Kenny G ao livro “Adeus Às Armas” de Ernest Hemingway ou de “Gonna Fly Now” (tema do filme “Rocky”) ao livro “A Redoma de Vidro” de Sylvia Plath, tudo serve para este fim. E Matthew Quick conduz essa peça de amor e dor com desenvoltura e capricho, utilizando a dualidade do seu personagem principal como fonte para um emocionante livro.

Nota: 8,0


Leia uma entrevista com o autor, aqui.


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