O que pode fazer a vida ser realmente
fantástica? As experiências que acumulamos durante os anos? A dificuldade dos
obstáculos que temos que ultrapassar para seguir em frente? As ousadias a que
nos permitimos durante o caminho? Sem dúvida, tudo isso e mais um monte de
outras coisas são responsáveis por transformar a vida em uma experiência
realmente interessante, que fuja do banal, que fuja do comum.
O diretor Ang Lee usa os
questionamentos acima como uma das partes que compõem seu mais recente filme. “Aventuras de Pi” é baseado em um livro
do escritor canadense Yann Martel, que por sua vez se inspirou na obra “Max e Os
Felinos” do falecido brasileiro Moacyr Scliar publicada originalmente no início
dos anos 80 (mais sobre isso, aqui). É o trabalho que marca a volta do peculiar
cineasta aos holofotes.
Ang Lee apareceu para valer com “Razão
e Sensibilidade” de 1995. De lá para cá alternou bons filmes como “O Tigre e o
Dragão” de 2000 com outros apenas razoáveis, vide o superestimado “O Segredo de
Brokeback Mountain” de 2005, e até mesmo uns bem ruins, como o chatíssimo “Hulk”
de 2003. É o típico diretor que se situa entre os extremos das paixões dos fãs
e da raiva (ou descaso) dos detratores que lhe apedrejam.
Com “As Aventuras de Pi”, isso não será diferente. Com roteiro de David
Magee (“Em Busca da Terra do Nunca”), o longa mistura as aventuras do título
com filosofia e religião distribuídas em pequenas alegorias e parábolas. Todavia,
isso nem chega próximo de ser o principal atrativo. Essa primazia fica por
conta do visual que dá vida aos pensamentos do diretor. Extremamente belo aos
olhos, praticamente carrega o filme nas costas.
Não que o roteiro seja horrível,
apenas está um patamar abaixo das realizações visuais que inundam a história de
Pi (Suraj Sharma), um indiano que depois de buscar alívio (e não encontrar de modo
geral) em deuses e na própria família, se vê à deriva depois do naufrágio do
navio que o levava para uma nova vida no Canadá. Isso, em conjunto com uma
hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre dentro do bote salva-vidas.
É Pi quem narra essa parte da
vida para um escritor (Rafe Spall) que vem atrás de ouvir essa extraordinária
história. Já casado e com filhos (e nesse momento interpretado pelo tarimbado
Irrfan Khan), o indiano - que agora é professor no Canadá - retorna a infância,
passando pela origem do seu nome e a relação conflituosa com o pai, até chegar
onde realmente as pouco mais de duas horas de duração começam a valer a pena.
O naufrágio e as consequências
são um verdadeiro deleite para os olhos (e funciona muito bem em 3D). Da “relação”
com o tigre até o desembarque em uma ilha bem diferente, todos os momentos
causam encanto. Se a história em si tem buracos e deixa a desejar enquanto
busca amarrar as pontas, isso acaba sendo o de menos. Como disse Alfred
Hitchcock certa vez, “há algo mais
importante que a lógica: a imaginação”. Confie nisso.
Nota: 7,5
Textos relacionados no blog:
- Cinema: “Aconteceu em Woodstock”
de Ang Lee.
Assista ao trailer legendado:
Nenhum comentário:
Postar um comentário