quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

"As Aventuras de Pi" - 2012


O que pode fazer a vida ser realmente fantástica? As experiências que acumulamos durante os anos? A dificuldade dos obstáculos que temos que ultrapassar para seguir em frente? As ousadias a que nos permitimos durante o caminho? Sem dúvida, tudo isso e mais um monte de outras coisas são responsáveis por transformar a vida em uma experiência realmente interessante, que fuja do banal, que fuja do comum.

O diretor Ang Lee usa os questionamentos acima como uma das partes que compõem seu mais recente filme. “Aventuras de Pi” é baseado em um livro do escritor canadense Yann Martel, que por sua vez se inspirou na obra “Max e Os Felinos” do falecido brasileiro Moacyr Scliar publicada originalmente no início dos anos 80 (mais sobre isso, aqui). É o trabalho que marca a volta do peculiar cineasta aos holofotes.

Ang Lee apareceu para valer com “Razão e Sensibilidade” de 1995. De lá para cá alternou bons filmes como “O Tigre e o Dragão” de 2000 com outros apenas razoáveis, vide o superestimado “O Segredo de Brokeback Mountain” de 2005, e até mesmo uns bem ruins, como o chatíssimo “Hulk” de 2003. É o típico diretor que se situa entre os extremos das paixões dos fãs e da raiva (ou descaso) dos detratores que lhe apedrejam.

Com “As Aventuras de Pi”, isso não será diferente. Com roteiro de David Magee (“Em Busca da Terra do Nunca”), o longa mistura as aventuras do título com filosofia e religião distribuídas em pequenas alegorias e parábolas. Todavia, isso nem chega próximo de ser o principal atrativo. Essa primazia fica por conta do visual que dá vida aos pensamentos do diretor. Extremamente belo aos olhos, praticamente carrega o filme nas costas.

Não que o roteiro seja horrível, apenas está um patamar abaixo das realizações visuais que inundam a história de Pi (Suraj Sharma), um indiano que depois de buscar alívio (e não encontrar de modo geral) em deuses e na própria família, se vê à deriva depois do naufrágio do navio que o levava para uma nova vida no Canadá. Isso, em conjunto com uma hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre dentro do bote salva-vidas.

É Pi quem narra essa parte da vida para um escritor (Rafe Spall) que vem atrás de ouvir essa extraordinária história. Já casado e com filhos (e nesse momento interpretado pelo tarimbado Irrfan Khan), o indiano - que agora é professor no Canadá - retorna a infância, passando pela origem do seu nome e a relação conflituosa com o pai, até chegar onde realmente as pouco mais de duas horas de duração começam a valer a pena.

O naufrágio e as consequências são um verdadeiro deleite para os olhos (e funciona muito bem em 3D). Da “relação” com o tigre até o desembarque em uma ilha bem diferente, todos os momentos causam encanto. Se a história em si tem buracos e deixa a desejar enquanto busca amarrar as pontas, isso acaba sendo o de menos. Como disse Alfred Hitchcock certa vez, “há algo mais importante que a lógica: a imaginação”. Confie nisso.

Nota: 7,5

Textos relacionados no blog:

- Cinema: “Aconteceu em Woodstock” de Ang Lee.

Assista ao trailer legendado:



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