Enlouquecer. Estourar. Explodir.
Dar um tremendo de um chute na própria vida quando ela saiu completamente do
eixo. Tem momentos que pensamos seriamente em fazer isso. Ou fazemos mesmo, vá
saber. A verdade é que é praticamente impossível passar imune a um momento
desses enquanto andamos cheios de preocupações bestas pelo mundo. É o que acontece,
por exemplo, com Maxwell Sim, o comportado e normal personagem do mais recente
livro do inglês Jonathan Coe a ser publicado por aqui.
“A Terrível Intimidade de Maxwell Sim” foi originalmente lançado em
2010 no Reino Unido, mas só chegou ao Brasil no final de 2012. Tem 416 páginas
e conta com tradução de Christian Schwartz. Nele, um dos escritores mais
interessantes da atualidade faz um retorno à boa forma de livros anteriores
como “O Legado da Família Winshaw” e a dobradinha “Bem-vindo Ao Clube/Círculo
Fechado”, mantendo alguns temas já utilizados antes, mas também adicionando
novas visões a habitual narrativa crítica e ácida.
O protagonista que dá nome ao
livro é um sujeito comum, de inteligência mediana, sem maiores planos para a
vida que não seja as coisas do dia a dia. Trabalha em uma loja de departamentos
no setor de atendimento ao cliente e vive sem maiores surpresas. No entanto,
quando a esposa e a filha adolescente resolvem ir embora para uma vida nova,
esse pequeno mundo que ele construiu desmorona completamente, o que causa uma
depressão aguda seguida da saída do emprego e uma viagem para reencontrar o pai
na Austrália.
Maxwell Sim está com 48 anos,
sua mãe já morreu e lhe sobrou apenas o pai, com quem sempre teve uma relação
repleta de ausência e medo. Essa viagem para reencontrá-lo é onde o livro
realmente tem partida, pois ele vê em um restaurante uma desconhecida jantando
com a filha e exibindo uma assustadora intimidade, coisa que na verdade ele
nunca teve. Isso provoca um sentimento de se conectar novamente as pessoas, de
começar a conversar, de ser mais social, de sair das sombras que o mundo
moderno lhe reservou.
Para tanto, depois de alguns
fatos inusitados pelo caminho, ele aceita uma proposta de trabalho do único
amigo que tem (apesar de no Facebook esses amigos serem 74). Uma proposta que
consiste em fazer uma viagem para um dos pontos mais distantes do Reino Unido
na Escócia, que servirá como estratégia de marketing para o lançamento de uma
revolucionária escova de dente com conotações ambientais. Nessa viagem (que daria um ótimo road-movie)
ele tenta reatar alguns laços, mas acaba por sucumbir a própria história.
Com descobertas sobre seu passado
e da sua família cada vez mais avassaladoras, Maxwell Sim se envolve em um
casulo solitário, onde os melhores momentos são quando conversa com o GPS do
carro. Nesse ponto, Jonathan Coe amarra a história real de Donald Crowhurst junto
com a do seu personagem. Crowhurst foi um navegador solitário que no final dos
anos 60 se aventurou a dar a volta ao mundo e no fim ajoelhou perante a loucura
(mais sobre essa história, passe aqui). Essa junção funciona muito bem e
provoca passagens interessantes.
“A Terrível Intimidade de Maxwell Sim” mostra alguns temas já explorados
pelo autor, como uma família constituída a base de segredos, mentiras e
silêncios, assim como a solidão em sua forma mais dolorosa. O personagem
principal tem uma inadequação extraordinária para a vida, e isso é que o transforma
em algo mais e dá a possibilidade para que seja forjado um retrato bastante
curioso sobre a vida nos dias atuais, onde quando mais parece que estamos perto
de tudo e de todos, mas distantes nos colocamos uns dos outros e das relações
pessoais.
Nota: 8,5
Site oficial do autor: http://www.jonathancoewriter.com
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- Literatura: “A Chuva Antes de Cair” – Jonathan Coe
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