Existem determinados momentos da vida
em que se faz necessário caminhar por fora daquelas ruas que estamos habituados
a seguir. Essa mudança pode significar tanto um ensaio para andar realmente por
novos caminhos, quanto simplesmente um flerte com algo diferente, uma leve aliviada
da vida casual preenchida com outros aromas e cores. Esse momento chegou para o
inquieto Tatá Aeroplano, que desde 2004 junto com a banda Cérebro Eletrônico fez
parte de pelo menos dois álbuns interessantíssimos.
Tatá é uma das cabeças por trás da
nova cena paulistana ao lado de nomes como Tulipa Ruiz, Tiê, Bárbara Eugênia,
Leo Cavalcanti e Thiago Petit, entre outros. Também toca projetos diversos como
o dançante Jumbo Elektro ou ataca de disc jockey pelas noites da cidade. A
cidade de São Paulo, aliás, é uma das mais fortes presenças nessa estreia solo
de nome homônimo. Ela está retratada em diversos versos nos seus exageros e idiossincrasias,
naquilo que consegue provocar para o bem e para o mal.
Financiado em boa parte através do
processo de crowfunding (via Embolacha), o álbum traz canções antigas e novas,
sendo que algumas ganharam seu primeiro esboço nos idos de 2008, por exemplo.
Produzido pela dupla Dustan Gallas e Junior Boca, o registro ostenta uma
sonoridade mais simples, com guitarra, baixo, bateria e teclado fazendo poucas
invencionices e renegando quaisquer modernidades. Essa sonoridade traz o rock
dos anos 70 flertando com vários estilos, entre eles o brega da mesma época.
Essa junção coloca no jogo uma
participação muito particular de teclados comuns e mellotron, dando um ar retrô
e dramático nas músicas. Já logo na abertura em “Sartriana” (com participação
de Leo Cavalcanti), Tatá expõe uma letra baseada em falsidade, ao mesmo tempo
em que insere no contexto drogas e admiração pelo filosófo francês Jean-Paul
Sartre. A balada “Um Tempo Pra Nós Dois” é outra amplificada pelo drama, desconfortável
em um relacionamento desgastado que vai embora pouco a pouco.
Esse tom triste e por vezes trágico, também
aparece na bonita “Uma Janela Aberta” (com vocal dividido com Bárbara Eugênia),
expondo uma saudade do mundo, de si mesmo e daquilo que se foi anteriormente. “Te
Desejo...Mas Te Refuto” tem como foco arrependimento, culpas e orgulho, mas mantém
a mesma intensidade consternada. Assim como “Cão Sem Dono”, inspirada no filme
de mesmo nome do Beto Brant (que por sua vez é adaptado de um livro do Daniel
Galera), que é outra com esse ar desesperado.
O álbum ainda tem a circense
tropicália de “Perigas Correr” e a lisergia crítica de “Tudo Parado na City”, porém
o melhor fica com os 10 minutos de “Par de Tapas que Doeu em Mim”, uma odisseia
noturna embalada como um brega dos anos 70 com guitarras embutidas. Um caso
complicado, com bebida, porrada e sexo com uma mulher conquistada na famosa Rua
Augusta “em meio as freaks da night”, que serve para ratificar o talento de
Tatá Aeroplano e mostrar que a carreira solo tem gás de sobra para ir mais longe.
Nota:
8,5
Site oficial onde o disco está disponível gratuitamente para download: http://www.tataaeroplano.com/site
Twitter: http://twitter.com/tata_aeroplano
Facebook: http://www.facebook.com/tata.aeroplano
Textos relacionados no blog:
- Literatura: “Até o Dia em que o CãoMorreu” – Daniel Galera
- Música: “Pareço Moderno (2008)” – Cerébro
Eletrônico
Assista “Par de Tapas que Doeu em Mim”
ao vivo no estúdio Showlivre:
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